Há coisas que só as crises conseguem. E o mais recente exemplo chega de Portugal onde o primeiro-ministro, José Sócrates, elogia o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, dizendo que a oposição em Portugal tem hoje um líder que olha para a situação actual com “responsabilidade e patriotismo” e acrescentando que “para dançar o tango são precisos dois”. Quem diria?
“Como se diz em espanhol para dançar o tango são precisos dois. Durante muitos meses não tinha parceiro para dançar”, disse José Sócrates, questionado por um dos assistentes no almoço debate em que hoje foi convidado principal em Madrid.
“Felizmente houve uma mudança na oposição. Tem agora um líder que olha para a situação com responsabilidade e patriotismo”, afirmou o primeiro-ministro de Portugal.
José Sócrates foi questionado pelos participantes sobre o acordo com o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, considerando que a decisão foi tomada “a bem do país” e que se trata de “um bom acordo para ajudar o país a enfrentar o desafio actual”.
Quanto à eventualidade de o Governo ter em vista medidas adicionais às já anunciadas, estando os portugueses habituados nos últimos tempos a que o que ontem era verdade hoje já não o é, José Sócrates afirmou que o plano aprovado pretende “responder à situação”. Ou seja, se não foram suficientes, na perspectiva do Executivo, para reduzir o défice... o tango continua.
“O nosso plano anterior não previa o aumento de impostos”, explicou José Sócrates, justificando agora com a conivência do seu parceiro de dança, que “no último mês o mundo mudou, a Europa mudou e mudou todo o ambiente”, razão pela qual até a Europa teve “necessidade de avançar com o fundo de estabilização, com a acção do Banco Central e também com um novo esforço dos Estados”.
Animado pela musicalidade de um tango à moda de Lisboa, José Sócrates reconheceu que Portugal “tem também um défice alto”, mas explicou que isso se ficou a dever a “uma boa politica de investimento na economia para ter mais emprego e mais animação económica”.
José Sócrates garantiu hoje, como ontem, como há uma semana, como há um mês, como há um ano, que o seu plano permitirá cumprir o objectivo do défice mesmo sem ter em conta o “crescimento económico do primeiro trimestre”.
Assim sendo, ainda com os acordes do tango no ar, José Sócrates diz que a actual situação económica não é um momento para governar com medo mas para actuar com coragem e determinação e com um discurso de confiança no futuro.
E porque a música continua, José Sócrates acrescentou que “todos os Governos enfrentam um período muito difícil de governação. Um momento que exige coragem e determinação”.
Talvez seja por isso que, no convés do Titanic português, a orquestra continue a tocar o tango que, como disse Enrique Santos Discépolo Deluchi e como bem sabem os portugueses, “é um pensamento triste que se pode dançar".
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