Durão Barroso prometeu (e logo se viu que não era para cumprir) um choque fiscal. Seria, comentou-se, uma forma de pôr em ordem uma casa (portuguesa, com certeza) onde se teme que deixe de haver pão e vinho sobre a mesa.
Só quem não quer fazer coisas sérias neste país é que não percebe que, afinal, o que Portugal precisa é de um potente choque mental. Assim como estamos (e ao que parece vamos continuar na mesma) não vamos levar a carta a Garcia... mesmo que o general esteja ao dobrar da esquina.
Durão Barroso e Paulo Portas apostaram em «velhos» generais que, reconheça-se, já deram provas. Justificaram que Portugal não estava em situação que permitisse testar novos oficiais. Para além de me parecer que esses generais não conhecem os seus soldados (o povo português, entenda-se), creio até que alguns deles só chegaram a tal patente por serem afilhados do chefe do estado maior. Se assim não fosse, talvez ainda hoje fossem sargentos.
Seja como for, o que Portugal precisa é de uma estratégia (ou desígnio) que valorize quem tem ideias e não quem diz que as tem. Que institua o primado da competência independentemente da filiação partidária e das cunhas. Será isso que vai acontecer? Tudo leva a crer... que não.
É certo que a procissão ainda vai no adro. No entanto, o problema é bem mais extenso. Não se resume a pessoas. Assenta na mentalidade de quem dirige o país e esses não são, necessariamente, os ministros e os secretários de Estado.
São, sobretudo, aqueles que comandam a economia, que dão emprego aos políticos, e os poderes paralelos que ditam as regras do jogo e que, tantas vezes, as alteram quando mais convém. São as grandes empresas, as associações empresariais, as fundações e outros similares que proliferam na sociedade desta República.
Garantem-me que Belmiro de Azevedo afirmou (pelo menos uma vez) que «um subalterno tem o dever de questionar uma ordem do chefe e, se for o caso, dizer-lhe que não é suficientemente competente».
Se calhar essa foi uma das regras que originou o êxito deste empresário. Belmiro sabia (será que ainda sabe?) que um chefe não é só o que manda - é sobretudo o que dá o exemplo. Sabia que a crítica não significa desobediência. Sabia que tinha de se rodear de massa crítica, pois para dizer sempre que «sim» bastava-lhe a própria sombra.
O sucesso terá sido assim construído. Já a manutenção do mesmo não é assim. O seu império está cheio de «sombras». E está este como está a Associação Empresarial de Portugal, o PS, o PSD, o CDS/PP e os organismos (sobretudo fundações) criados para dar emprego a ex-políticos e candidatos a políticos.
«Sombras» que vivem religiosamente à custa das bençãos, das cunhas, e dos padrinhos que, por regra, já chegaram a chefes do estado maior.
Com um país assim, onde são (quase) sempre os mesmos a ter acesso ao poder, sendo todos os outros relegados para fora de jogo, só há duas possibilidades: ter ideias e ser marginalizado ou ser sombra e filiar-se no PS ou no PSD (excepcionalmente agora também no CSD/PP). Mais dias menos dia o poder há-de sorrir.
Cá por mim, nem sombra nem filiação.
(*) Este meu artigo é bem velhinho. Foi publicado há oito anos. Exactamente no dia 11 e Abril de 2002. Para que conste.
1 comentário:
Caro Orlando Castro,
Tenho sido um leitor silencioso, apreciador da sua escrita
e ideais!
Gosto dos seus textos e este..., uma vez mais, subscrevo-o integralmente.
Sinto-me honrado por constar na lista de seguidores dos meus blogs de humilde aprendiz!
Algum dia teria de me decidir a dizer-lhe isto, e agradecer-lhe.
Desejo-lhe uma boa noite (sou ave nocturna ensaiando o exercício das 'letras'), e despeço-me em sintonia com o 'postal' que tem no seu blog:
"Alto Hama apoia Fernando Nobre"!
Se ainda vier a valer a pena ser Presidente desta República, é neste homem que eu confiarei o lugar do mais alto cargo da Nação!
Um grande abraço.
César Ramos
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