terça-feira, maio 11, 2010

Liberdade de imprensa? Onde?

O pré-relatório da Comissão de Ética do Parlamento português conclui algo que me parece anacrónico, ou seja, que existem condicionantes à liberdade de imprensa em Portugal.

O pré-relatório refere hoje, embora ainda esteja sujeito à censura rosa e aos retoques laranja, que existe "intervenção diversificada e sofisticada do poder político e do poder económico".

Por outras palavras, o pré-relatório não ouviu os únicos protagonistas que sabem da matéria, ou seja, os donos dos jornalistas e os donos dos donos. Se os ouvissem saberiam os deputados que o que mais há em Portugal é liberdade de imprensa.

Eu sei que a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) diz que Portugal, em matéria de liberdade de Imprensa, desceu do 16º lugar, em 2008, para o 30º, em 2009, não tendo para a sua análise ainda contado com a clarificadora intervenção de Ricardo Rodrigues, o deputado do Partido Socialista, vice-presidente do Grupo Parlamentar e membro do Conselho Superior de Segurança Interna que furtou (ele chama-lhe “tomar posse”) gravadores a jornalistas.

Mas esses da Repórteres Sem Fronteiras são outros que tais. Não percebem nada da matéria... e era tão simples perceber. Bastava perguntar ao perito dos peritos, José Sócrates, ou ao seu auxiliar, igualmente perito, Augusto Santos Silva.

O pré-relatório elaborado pela deputada comunista Rita Rato adianta ainda que há falta de transparência na propriedade dos meios de comunicação social.

Mais uma treta. Que importa saber quem são os donos dos meios de comunicação social se, de facto, acima deles ainda estão outros donos e às vezes outros acima destes?

O pré-relatório devia dizer, isso sim, que em Portugal José Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo ao sector da comunicação social que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, fazer com que os seus mercenários, chefes de posto ou sipaios, titulares, ou não, de Carteira Profissional de Jornalista, fizessem da imprensa o tapete do poder.

O pré-relatório devia dizer, isso sim, que em Portugal José Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, transformar jornalistas em criados de luxo do poder vigente.

O pré-relatório devia dizer, isso sim, que em Portugal José Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, garantir que esses criados regressarão mais tarde ou mais cedo (muitos já lá estão) para lugares de direcção, de administração etc..

O pré-relatório devia dizer, isso sim, que preocupante é a promiscuidade do jornalismo com a política (sobram os exemplos de jornalistas-assessores e de assessores-jornalistas), mas também o enxovalhar da ética entre os próprios jornalistas ou, pelo menos, entre os que se dizem jornalistas mas que estão ao serviço do poder, seja ele político, económico, desportivo ou outro.

O pré-relatório devia mostrar, isso sim, preocupação com o facto de que quem aceita ser enxovalhado pode a curto prazo – basta olhar para muitas das Redacções - ser director ou administrador.

O pré-relatório devia dizer, isso sim, que em Portugal a ética jornalística tornou-se aquele regra fundamental que aparece a seguir à última... quando aparece. E assim lá vai o jornalismo português cantando e rindo a bem, é claro, de uma qualquer nação que, na maioria dos casos, se confunde com servilismo político e económico.

Servilismo que, por regra, tem boas compensações monetárias. Daqui a uns tempos alguns destes supostos jornalistas vão estar a assessorar partidos e ou empresas para, tempos depois, assumirem cargos de direcção ou administração em empresas onde o Estado põe e dispõe.

Tem sido assim e, pelos vistos, assim tem de continuar a ser. O forrobodó no bordel continua a marcar pontos. O Sindicato lá vai “ladrando” mas, é claro, a caravana dos donos da verdade e do país passa, passa sempre.

É claro que a decência (mais do que limpo e asseado deve significar honesto, decoroso) evitaria muitos dos males recentes de um país que, ao que parece, até já foi Pátria. Mas também isso foi banido.

Portugal vive agora, como sempre viveu nas últimas décadas, uma realidade marcada pela corrupção, pela promiscuidade entre a política, a economia, a justiça, o desporto, o jornalismo etc. Agora é mais visível apenas pela simples razão de que o actual poder político quis ser mais papista do que o Papa e pensou ser possível comprar todos os jornalistas por atacado.

Os seus antecessores, tanto do PSD como também do PS, limitavam-se a comprar o essencial, deixando válvulas de escape para o acessório. E o país ia vivendo com esse acessório no convencimento de que era o essencial.

Durante décadas o povo estava entretido, tinha o essencial para viver e lá ia cantando e rindo. Ao permitir que a válvula de escape da sociedade, protagonizada por uma numericamente expressiva classe média, desse o berro, o Governo provocou a implosão da própria sociedade.

E dos cacos que vão sobrando dessa implosão é difícil restabelecer qualquer clima de confiança nas instituições e, muito menos, nos seus arautos ou artífices. Os portugueses sabem que o critério, que deveria ser sagrado para dirigir as instituições, não é o da competência mas, antes e sobretudo, o da subserviência.

E sabendo isso por experiência própria, dificilmente voltarão a acreditar num país que vive no sistema de todos a monte e fé no Estado, que o importante não é ser mas antes parecer.

E como se tudo isso não fosse mais do que suficiente, transparece a ideia de que há cidadãos que estão acima da lei, vingando a tese de que o crime compensa.

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