O Sindicato dos Jornalistas portugueses continua (é esse um dos seus papéis) a “chorar” sobre o leite derramado. A propósito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, proclamado pela UNESCO em 1993 e que amanhã se assinala, chama a atenção dos jornalistas, dos poderes públicos e dos cidadãos para a importância da informação como bem público.
É verdade. É um bem tão público que as forças ditas públicas o querem privado e por isso são, ou procuram ser, donas dos donos dos jornalistas.
“Uma informação livre, pluralista, de qualidade, eticamente responsável e deontologicamente comprometida é essencial ao exercício pleno da cidadania, nas múltiplas dimensões que encerra o direito dos cidadãos à informação consagrado nas convenções internacionais e nas leis constitucionais e nas leis ordinárias dos estados. É através da imprensa livre que as democracias respiram”, diz o Sindicato baseado numa utopia que – acredito – gostasse que fosse realidade.
O Sindicato, no caso português, sabe que tudo o que defende (muito mais em teoria do que na prática, acrescente-se) é cada vez menos praticado, sobretudo porque não “há imprensa livre”, razão pela qual a democracia só consegue respirar porque está ligada a um ventilador.
Como também sabe o Sindicato (mas creio que nunca o disse), em Portugal José Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo ao sector da comunicação social que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, fazer com que os seus sipaios, titulares, ou não, de Carteira Profissional de Jornalista, fizesse da “imprensa o tapete do poder”.
José Sócrates chegou tão cedo que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, transformar jornalistas em “criados de luxo do poder vigente".
José Sócrates chegou tão cedo que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, garantir que esses criados regressarão mais tarde ou mais cedo (muitos já lá estão) para lugares de direcção, de administração etc..
Mais do que as questões, objectivas ou não, que envolvem o suposto plano do Governo para dominar ainda mais a comunicação social, a mim preocupa-me não só a promiscuidade do jornalismo com a política (sobram os exemplos de jornalistas-assessores e de assessores-jornalistas), mas também o enxovalhar da ética entre os próprios jornalistas ou, pelo menos, entre os que se dizem jornalistas.
Preocupação pouco relevante num contexto de todos a monte fé em Deus, onde ser enxovalhado pode significar – basta olhar para muitas das Redacções - meio caminho andado para ser director ou administrador. Portanto...
Em matéria de jornalistas, a ética tornou-se aquele regra fundamental que aparece a seguir à última... quando aparece. E assim, de Face Oculta em Face Oculta, lá vai o jornalismo português cantando e rindo a bem, é claro, de uma qualquer nação que, na maioria dos casos, se confunde com servilismo político e económico.
Servilismo que, por regra, tem boas compensações monetárias. Registemos os factos e também os nomes. Daqui a uns tempos alguns destes supostos jornalistas vão estar a assessorar partidos e ou empresas para, tempos depois, assumirem cargos de direcção ou administração em empresas onde o Estado põe e dispõe.
Tem sido assim e, pelos vistos, assim tem de continuar a ser. O forrobodó no bordel continua a marcar pontos. O Sindicato lá vai “ladrando” mas, é claro, a caravana dos donos da verdade e do país passa, passa sempre.
É claro que a decência (mais do que limpo e asseado deve significar honesto, decoroso) evitaria muitos dos males recentes de um país que, ao que parece, até já foi Pátria. Mas também isso foi banido.
Portugal vive agora, como sempre viveu nas últimas décadas, uma realidade marcada pela corrupção, pela promiscuidade entre a política, a economia, a justiça, o desporto, o jornalismo etc. Agora é mais visível apenas pela simples razão de que o actual poder político quis ser mais papista do que o Papa e pensou ser possível comprar todos os jornalistas por atacado.
Os seus antecessores, tanto do PSD como também do PS, limitavam-se a comprar o essencial, deixando válvulas de escape para o acessório. E o país ia vivendo com esse acessório no convencimento de que era o essencial.
Durante décadas era uma espécie de Fátima, Futebol e Fado. O povo estava entretido, tinha o essencial para viver e lá ia cantando e rindo. Ao permitir que a válvula de escape da sociedade, protagonizada por uma numericamente expressiva classe média, desse o berro, o Governo provocou a implosão da própria sociedade.
E dos cacos que vão sobrando dessa implosão é difícil restabelecer qualquer clima de confiança nas instituições e, muito menos, nos seus arautos ou artífices. Os portugueses sabem que o critério, que deveria ser sagrado para dirigir as instituições, não é o da competência mas, antes e sobretudo, o da subserviência.
E sabendo isso por experiência própria, dificilmente voltarão a acreditar num país que vive no sistema de todos a monte e fé no Estado, que o importante não é ser mas antes parecer.
E como se tudo isso não fosse mais do que suficiente, transparece a ideia de que há cidadãos que estão acima da lei, vingando a tese de que o crime compensa. E quando tal acontece, lá vamos todos defender a estratégia de olho por olho, dente por dente.
E se assim for, e assim serácom certeza mais dia menos dia, o resultado não estará à vista porque vamos ficar todos cegos e... desdentados.
Mas se tiver que ser... seja!
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