sexta-feira, maio 28, 2010

E se Portugal fosse um Estado de Direito?

Num Estado de Direito (que me dizem ser Portugal) um primeiro-ministro não mente, mesmo quando também é líder de um partido que até tem um deputado que rouba (ele chama-lhe “tomar posse”) gravadores aos jornalistas.

Assim sendo, José Sócrates voltou ho
je, contra ventos e marés, a dizer que soube pela comunicação social do afastamento de Manuela Moura Guedes do Jornal Nacional de 6ª da TVI. E se ele o diz, e se Portugal é um Estado de Direito...

Contactado pelos enviados da SIC que acompanham José Sócrates na visita ao Brasil, o primeiro-ministro reafirma tudo o que disse à Comissão de Inquérito ao Negócio PT-TVI. E não comenta (tem mais o que fazer) se terá recebido algum tipo de mensagem de telemóvel (SMS) de Armando Vara - porque, diz, não comenta notícias relacionadas com escutas.

E não comenta porque essa é uma questão que não lhe interessa. Isto porque, há quem diga, Portugal é um Estado de Direito...

O primeiro-ministro pode ter mentido à Comissão de Inquérito que investiga se José Sócrates (enquanto primeiro-ministro) mentiu ao Parlamento no negócio PT-TVI?

Não. Isto é, se for verdade (como há quem diga) que Portugal é um Estado de Direito...

Uma escuta revelada pelo jornal Sol mostra que o primeiro-ministro (ou terá sido o cidadão José Sócrates?) soube da saída de Manuela Moura Guedes da estação de Queluz através de SMS enviado por Armando Vara e antes da informação ser pública.

Recorde-se que, aos deputados, José Sócrates primeiro-ministro disse que soube pela comunicação social. Quanto ao que diria José Sócrates, o cidadão, não se sabe.

De qualquer maneira, por alguma razão em Portugal é possível a mesma pessoa ser primeiro-ministro às segundas, quartas e sextas, e cidadão às terças, quintas e sábados. Ao domingo, creio, não é nem uma coisa nem outra.

O SMS, de acordo com o jornal, terá sido enviado por Armando Vara a José Sócrates às 12h26 do dia 3 de Setembro de 2009. Na mensagem ao primeiro-ministro ou ao cidadão José Sócrates, armando Vara escrevia: "a Manuela não apresenta mais o jornal. Direcção demitiu-se. Mas não digas nada".

E se um amigo pede para não dizer nada, nada se diz... como é óbvio, seja-se primeiro-ministro, cidadão ou outra coisa qualquer.

De acordo com o Sol, era a informação que Vara tinha recebido um minuto antes, às 12h25, através do empresário Joaquim Oliveira, que lhe pediu sigilo por ainda não ser oficial.

Mas à pergunta 69 do questionário enviado pela Comissão de Inquérito ao primeiro-ministro – e, que diz: "Quando soube que Moura Guedes deixaria de apresentar o Jornal Nacional e da decisão de suspensão do Jornal Nacional?", José Sócrates respondeu: "Tomei conhecimento disso quando tais factos foram divulgados nos meios de comunicação social".

Segundo o jornal Sol, as primeiras notícias sobre o afastamento de Moura Guedes só começaram a surgir depois da 13h00. Na SIC, por exemplo, a notícia surgiu em última hora às 13h11, quase uma hora depois da mensagem que Armando Vara terá enviado a José Sócrates.

Os assessores do primeiro-ministro José Sócrates (presumo que o cidadão José Sócrates não tenha assessores) adiantam, no entanto, que à hora indicada em que terá sido enviado o SMS em causa, Sócrates estava incontactável (no avião oficial) depois de ter participado na inauguração da Base de Operações da Ryanair, no Porto.


E, como se calcula, José Sócrates primeiro-ministro só voltou a estar contactável depois da divulgação da notícia, razão pela qual não mentiu. Quem provavelmente terá tido sempre o telemóvel ligado foi José Sócrates, o cidadão...

Legenda: À esquerda o cidadão, à direito o primeiro-ministro

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