domingo, abril 13, 2008

A alternância não se compra – conquista-se

«A UNITA será poder em Angola no dia em que os angolanos o quiserem. Porque a UNITA é pertença do povo angolano. No nosso país, o processo de democratização é irreversível. Ora, a alternância de poder é uma característica inerente aos sistemas democráticos,» afirmou em entrevista ao Notícias Lusófonas, publicada a 26 de Junho do 2006, Anastácio Sicato, então delegado da UNITA em Portugal, hoje ministro da Saúde de Angola

As afirmações de Anastácio Sicato continuam actuais, sobretudo porque já existe uma espécie de calendário eleitoral embora feito, diga-se, à medida do MPLA de Eduardo dos Santos.

Mas, no que respeita à UNITA no exterior, nomeadamente em Portugal, urge perguntar o que está a ser feito para justificar, ou apressar, essa alternância de poder.

Não falo de ideias. Essas não faltam. Falo de coisas concretas, de projectos viáveis, de iniciativas com cabeça, tronco e membros. Provavelmente por manifesta ignorância da minha parte, não vejo que a UNITA, sobretudo mas não só em Portugal, esteja a dar o seu contributo para que os angolanos possam – se assim o entenderem – conhecer um outro Governo e um outro presidente da República.

Anastácio Sicato dizia na referida entrevista, dada ao Jornalista Jorge Eurico, que “tarde ou cedo, o MPLA e o Presidente José Eduardo dos Santos acabarão por ceder o poder a outros”. Mas será que a UNITA está apostada em fazer com que se antecipe a alternância?

Quando olho à minha volta fico com a sensação de que a UNITA está à espera que o poder em Angola caia de maduro, pouco fazendo para mostrar aos angolanos que quando o fruto não presta deve ser retirado mesmo verde.

Quando vejo que a UNITA, ao contrário do MPLA, desperdiça tantos e tantos valores que lhe são afectos e que estão espalhados por esse mundo fora, fico com a ideia de que a alternância, se acontecer, se deverá mais ou sobretudo à incapacidade do MPLA do que à acção da UNITA.

Não basta, como disse Sicato, afirmar “que a verdadeira soberania pertence ao povo e a mais ninguém”. É preciso que o povo saiba que tem esse poder e, mais importante, saiba quais são as alternativas.

Não chega, digo eu, dizer que “só a alternância consolida os regimes democráticos”. A alternância não se compra, conquista-se. E para a conquistar é preciso trabalhar muito. Muito mesmo.

Seja bem-vindo a Portugal, Presidente Isaías Samakuva.

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