Milhares de pessoas saudaram ontem o regresso, ao fim de dois meses de recuperação na Austrália, do "presidente herói", José Ramos-Horta, a Timor-Leste. Depois de um emocionado abraço a Xanana Gusmão e dos cumprimentos das principais figuras que o aguardavam, caso do líder da Fretilin, Mari Alkatiri, e do presidente interino, Fernando "Lasama" de Araujo, Horta falou da reconciliação, apelando quase em lágrimas ao rebelde Gastão Salsinha para que se renda porque, disse, "não quero que mais ninguém morra".
Ramos-Horta falou da situação política, considerando que pode haver vantagens em antecipar as eleições, mas deu especial realce à debilidade económica do país, apelando ao Governo e ao Parlamento para que utilizem as receitas do petróleo "para comprar comida para os pobres".
Ovacionado no Parlamento como nas ruas, Ramos-Horta voltou depois ao lugar do crime, a sua casa, entretanto exorcizada dos maus espíritos que, de acordo com as tradições locais, ali habitavam desde o ataque protagonizado pelo major Alfredo Reinado.
Antes do regresso a Timor-Leste, Ramos-Horta afirmara que a acção de Alfredo Reinado fora planeada por elementos externos "interessados em desestabilizar o país e lançá-lo numa guerra civil".
Satisfeito por estar em casa, Ramos-Horta garante que não vai mudar o seu estilo de ser e de estar, avisando que voltará em breve aos "banhos públicos, ao encontro com as pessoas comuns".
"Não serei demovido, sejam quais forem as ameaças, de estar com as pessoas pobres. No fim das contas, sou presidente para servir aos pobres deste país, não me vou esconder no meu escritório ou na minha casa," afirmou Ramos-Horta.
Sobre a ameaça que constitui Gastão Salsinha, o presidente recordou afirmações recentes do tenente rebelde em que dizia que se renderia logo que Ramos-Horta voltasse ao país.
Criticando os que, "de um lado e do outro", respondem com violência às tentativas de diálogo, Ramos-Horta disse "Eu já cá estou e, portanto, espero que como é sua vontade, Salsinha se renda pessoalmente a mim".
"Estive envolvido em diálogos com os rebeldes durante 18 meses. Nunca hesitei em ir ter com elas à floresta ou às montanhas. Devo ser o único presidente do Mundo que fez isso para se reunir com os seus dissidentes, com os rebeldes", recordou Horta.
Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)/Orlando Castro
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