O meu amigo (o MPLA e alguns sectores da UNITA não gostam destas familiaridades) Anastácio Sicato, ministro da Saúde de Angola, apelou hoje aos médicos angolanos residentes no estrangeiro a regressarem ao país, com a promessa da criação de melhores condições para estes profissionais.
Como seria de esperar, e ao contrário da esmagadora maioria dos seus colegas de Governo, Sicato não olha a simpatias políticas para abrir as portas a todos os que vierem (forem) por bem.
O governante angolano tem marcada uma reunião para amanhã, no Porto, com um grupo de médicos angolanos, onde pretende deixar "mensagens encorajadoras" para regressarem ao país.
"Vou dizer que estamos abertos ao regresso dos médicos e empenhados em criar as melhores condições possíveis", disse Anastácio Sicato, acrescentando que esta será a segunda reunião, tendo a primeira acontecido há um mês.
Segundo o ministro, convencer os 400 médicos angolanos que trabalham em Portugal a regressarem a Angola "não é fácil". Se fosse fácil não seria, digo eu, uma missão para Anastácio Sicato.
"Patriotismo sozinho não chega, é preciso que haja condições objectivas para os médicos", disse Anastácio Sicato, acrescentando que "é uma política complexa", mas que "com pragmatismo é possível encontrar soluções".
Angola, com uma população estimada em cerca de 15 milhões de pessoas, dispõe de apenas 1.800 médicos.
O ministro angolano refere que se alia à falta de médicos o fraco número de especialistas nas diversas áreas da saúde.
"Estamos muito longe do que é ideal", disse Anastácio Sicato, salientando a necessidade de se melhorar a capacidade de diagnóstico e de terapêutica. "É preciso ter especialistas em cada classe [dos problemas de saúde], não basta ter equipamentos. É preciso um grande investimento para se dar passos mais seguros", frisou o ministro.
Anastácio Sicato realça a importância de parcerias com outros países, nomeadamente Portugal, onde tem mantido contactos com a Alta Comissária para a Saúde, Maria do Céu Machado.
De acordo com este governante, o Estado angolano em 2007 teve um gasto de cerca de 20 milhões de dólares, com o envio de doentes para o exterior, sendo Portugal o principal receptor de doentes, maioritariamente de doenças oncológicas, seguidas das oftalmológicas.
"Mandarmos doentes em grande quantidades, como os de tumores malignos, é um peso para Portugal e queremos evitar isso", frisa Anastácio Sicato, apresentando como solução a aplicação de investimentos no país para minimizar a situação.
O ministro refere que o Governo, para além do combate das grandes endemias, da malária, da sida e da tuberculose, tem também como prioridade garantir medicamentos de forma gratuita à população, estando por isso a apostar na cooperação com produtores de medicamentos para garantir uma maior distribuição.
"É política do Estado disponibilizar medicamentos de forma gratuita, mas sobretudo em Luanda não acontece, por ser um mercado mais anárquico", admitiu o governante.
Anastácio Sicato está em Portugal para preparar um congresso de hematologia, que terá lugar em Luanda, entre 26 e 28 de Junho próximo, que contará com a participação de médicos de Portugal, Espanha, França, Brasil, Estados Unidos, África do Sul, entre outros.
"Este congresso tem como principal objectivo o lançamento da sociedade angolana de hematologia, para o qual os médicos angolanos no estrangeiro já mostraram interesse", disse o ministro.
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