segunda-feira, abril 07, 2008

Sindicato dos Jornalistas vê a árvore
mas não detecta a gigantesca floresta

O Sindicato de Jornalistas (SJ) portugueses acusou hoje o PSD de ingerência na RTP devido a um pedido de audição parlamentar do director da estação pública a propósito da contratação da jornalista Fernanda Câncio para um programa. Ou muito me engano, ou o SJ continua a sacudir a água do capote.

"Qualquer requerimento com vista à prestação de esclarecimentos, por parte de responsáveis da RTP, na Assembleia da República, sobre a escolha de jornalistas para programas constituirá uma ostensiva ingerência do PSD na orientação do operador de serviço público de televisão, que o SJ repudia", refere o sindicato em comunicado hoje divulgado.

Tratando-se de um operador de serviço público (o que, entre outras coisas, significa que é também pago pelos impostos dos portugueses), onde está o mal de os deputados quererem saber o que se passa? É certo que deveriam ter coisas mais importantes para fazer, mas como parece que não têm, não vejo que venha mal à transparência prestar contas.

O porta-voz do PSD para a comunicação social, Agostinho Branquinho, disse sábado à Lusa que os sociais-democratas vão apresentar, esta semana, um requerimento dirigido ao director de programas da RTP e ao conselho de administração da estação pública, questionando os critérios e os custos desta contratação.

De acordo com a imprensa de sábado, Fernanda Câncio, jornalista do Diário de Notícias, vai participar num programa a transmitir na RTP2 dedicado a bairros problemáticos, da produtora Contra Costa.

"Torna-se incompreensível que a RTP contratualize com entidades externas a feitura de programas para a sua grelha", defendeu Agostinho Branquinho, acrescentando que "a estupefacção é maior quando se contratualiza com alguém que não tem experiência televisiva".

Aqui o PSD está a meter água. Se só fossem contratar pessoas com experiência, certamente que a Assembleia da República ficaria quase às moscas.

Para o SJ, a forma como o deputado se referiu à jornalista constitui "uma intolerável ofensa ao direito dos jornalistas ao livre exercício da sua profissão". Além disso, acrescenta o sindicato, "apesar de a RTP ser o operador de serviço público, é absolutamente inaceitável que o poder político interfira na escolha de quaisquer profissionais - especialmente jornalistas - para quaisquer programas".

Bom. Quando será que o SJ reconhece de uma vez por todas que o poder político (entre outros) interfere todos os dias em assuntos bem mais graves do que a escolha deste ou daquele jornalista?

Adiantando que os partidos "devem abster-se de quaisquer iniciativas que comprometam o estatuto de independência da RTP e alimentem a suspeita de que a escolha de jornalistas (...) está submetida à vontade ou aos caprichos do poder político - seja ele representado pelo Governo ou pela Assembleia da República" -, o SJ defende a revisão "urgente" dos estatutos da RTP, "designadamente na disposição sobre o acompanhamento parlamentar".

Eu, por mim, defendo a revisão urgente do estatuto dos produtores de conteúdos que dominam a comunicação social portuguesa, admitindo de uma vez por todas o fim de uma classe profissional que se extingue dolorosamente a cada dia que passa: a dos Jornalistas.

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