Numa atitude vista pelos observadores internacionais como concertada, o partido de Robert Mugabe (ZANU-PF) resolveu impugnar os resultados das eleições no Zimbabué (parlamentares ganhas pela Oposição e presidenciais cujos resultados ainda não se conhecem) e, ao mesmo tempo, a Polícia entrou em força, e com força, no hotel Meikles onde o Movimento para a Mudança Democrática (MDC) tem a sua base. "É a guerra que anuncia", interpreta um especialista da União Africana, embora admitindo que possa "igualmente significar o estertor do ainda presidente".
Ontem, o presidente dos EUA, George W. Bush, conversou com o seu homólogo sul-africano, Thabo Mbeki, de quem terá obtido a garantia de que a situação no Zimbabué nunca será semelhante, em matéria de violência, ao que se passou no Quénia em Dezembro passado.
A convicção de Thabo Mbeki poderá estar relacionada com as informações de que, apesar da prova de força que o ainda presidente deu ao mandar a Polícia prender jornalistas e atacar a sede do MDC, o Exército respeitará os resultados eleitorais e, também, de que Robert Mugabe "equaciona cada vez mais a possibilidade de se exilar ou aceitar a derrota".
Thabo Mbeki terá a garantia, veiculada pelos observadores da União Africana, de que Robert Mugabe está a apenas a ganhar tempo para, quer juntos dos seus fiéis militares quer do próprio líder do MDC, e virtual futuro presidente, Morgan Tsvangirai, negociar uma saída de cena incólume das acusações que sobre ele impendem.
Fontes sul-africanas ligadas ao presidente Thabo Mbeki salientam que, a concretizar-se a saída pacífica de Robert Mugabe, os EUA estarão dispostos a "passar, pelo menos parcialmente, uma esponja" sobre os crimes cometidos e a interceder junto do Governo Britânico para que, no âmbito da comunidade britânica (Commonwealth), faça o mesmo.
Apesar deste optimismo, os mais ortodoxos seguidores de Mugabe tentam convencê-lo de que ainda é possível continuar como presidente. Para isso querem que ele decrete o estado de emergência e convoque novas eleições.As incursões policiais contra o MDC, bem como a prisão de jornalistas por "estarem ilegalmente a trabalhar no país", podem ser sinal de que os adeptos do estado de emergência estão a provocar confrontos que legitimem que o presidente tome tal decisão.
"Não parece que Mugabe vá por essa via de confronto, mau grado ter sérias dificuldades em engolir a derrota, coisa que ele nunca conheceu ao longo dos últimos 28 anos", afirma uma fonte do Governo sul-africano que acompanha o processo.
A Comissão Eleitoral, segundo os observadores em Harare, está a ser pressionada para revelar os resultados das Presidenciais (ontem o MDC interpôs recurso em Tribunal nesse sentido), mas "aguarda para ver em que sentido vão as negociações com Mugabe tendo em vista a sua saída".
Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)/Orlando Castro
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