Três dias depois das eleições no Zimbabué, o resultado continua a ser uma incógnita, aumentando o receio de conflitos similares aos do Quénia. No entanto, a possibilidade de o actual presidente, Robert Mugabe, abandonar o país e partir para o exílio ganha contornos mais nítidos.
Sob a mediação de um país africano (provavelmente a África do Sul), representantes de Mugabe e da Oposição liderada por Morgan Tsvangirai (virtual presidente) terão chegado a acordo para que, "com a dignidade de um chefe de Estado", Robert Mugabe aceite exilar-se voluntariamente na Namíbia ou na Malásia.
Admite-se que o atraso na divulgação dos resultados esteja relacionado com esta alternativa que, segundo fontes em Harare, é bem vista quer pelos tradicionais aliados africanos quer pela comunidade internacional.
Segundo observadores africanos, o actual presidente não conseguiu alterar os resultados e, ao ver-se pressionado internamente para aceitar a derrota, sobretudo pelos seus até agora leais chefes militares, terá concluído que o exílio é a melhor solução.
A Oposição não acredita que Mugabe, no poder desde 1980, abandone livremente a liderança mas, pelo sim e pelo não, garantiu que não moverá nenhuma acção judicial, interna ou internacional, contra ele.
Os principais conselheiros de Mugabe, bem como alguns representantes de países amigos, ter-lhe-ão dito que "o povo do Zimbabué não aceitará mais fraudes", que "todos acreditam que ele perdeu as eleições" e que, assim sendo, o melhor seria aceitar a derrota ou, não a aceitando, exilar-se.
Especialistas britânicos em assuntos africanos, sobretudo do Zimbabué (antiga colónia do Reino Unido), acreditam que será mais fácil Mugabe aceitar o exílio do que a derrota.
"Ao ir para o exílio Mugabe poderá sempre alegar que é uma saída temporária, passando o ónus da crise para os seus adversários, bem como a responsabilidade pelo abandono do país", afirma um especialista moçambicano que acompanha as eleições no Zimbabué.
Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)/Orlando Castro
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