O Memorando do Luena, de 4 Abril de 2002, trouxe o fim formal da longa guerra civil angolana, entre o governo dominado desde 1975 pelo MPLA e a UNITA. Passados sete ano, os poucos que tinham milhões têm mais milhões, e os muitos milhões que tinham pouco ou nada continuam a ter pouco ou ainda menos.
A solução militar do conflito consubstanciada no assassinato do líder da UNITA, Jonas Savimbi, reforçou o poder do vencedor, o MPLA, e apenas permitiu até agora mascarar as raízes do conflito.
Ao contrário da versão oficial do MPLA, corroborada por organismos internacionais, as raízes do problema estão no facto de, sete anos depois da morte de Savimbi e de 34 no governo, os donos do poder continuarem a praticar a tese do reconduzido ministro da Defesa, Kundi Paihama, para quem em Angola existem dois tipos de cidadãos, os angolanos e os kwachas.
Neste tempo de armas caladas e de redução da UNITA a um partido cada vez mais residual, o MPLA não resolveu as injustiças visíveis sobretudo nas vertentes sociais e económicas.
Segundo dados da Comissão Europeia, as crianças representam 60% da população angolana, estimada em 12,5 milhões. Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram, por seu lado, que metade dessas crianças não frequentam a escola, 45% sofrem de má nutrição crónica, uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos e que, apesar de a idade mínima para trabalhar ser os 14 anos, estima-se que 30% das crianças e adolescentes da minha terra, entre os 5 e os 14 anos, trabalhem.
Angola tem (quase) tudo para ser um grande país e até, daqui a algumas gerações, uma grande nação onde deixem de existir angolanos e kwachas e passem a conviver apenas angolanos. Deus, seja Ele quem for, deu a este espaço africano (tão mal dividido à régua e esquadro pelos colonizadores europeus) tudo o que era preciso para ser o maior entre os maiores.
Também lhe deu, reconheça-se, um mosaico de povos capazes de valorizar mais o que os une do que o que os divide. Reconheça-se ainda, por ser um elementar acto de justiça, que lhe deu um colonizador melhor (é claro que com muitos defeitos) do que o atribuído a outros países da região.
Tenho (tanto quanto isso é possível) a certeza de que o que Angola não teve, nem tem, é bons amigos. Tal como continua a não ter bons políticos, sendo que - na minha interpretação – político que não vive para servir (o seu Povo) não serve para viver.
Angola continua a não ter verdadeiros amigos. Americanos e soviéticos (entre os dois venha o Diabo e escolha) apenas se prestaram a ajudar o país porque a troco de um chouriço recebiam um porco. A troco de armas recebiam barris de petróleo. A troco de minas recebiam diamantes.
Os amigos dos angolanos não são os que aparecem na Imprensa a oferecer carros aos sobas e muito menos os políticos que deixam o povo morrer è fome e compram quintas em Portugal.
E não são porque, importa recordá-lo, esses são os mesmo que se orgulham de dizer que os seus cães merecem comer melhor (e comem mesmo melhor) do que os "kwachas".
São os mesmos que aconselham os angolanos de segunda a comer farelo porque, citando Kundi Paihama, “os porcos também comem e não morrem”.
Eduardo dos Santos, um presidente democraticamente mugabiano, continua a dizer que se deve olhar para o que ele diz e não para o que faz. Exemplo disso é a afirmação de que «honrar e declarar o nosso amor por Angola assume um carácter solene e especial».
É verdade. Mas isso não basta. As crianças que mendigam e morrem à fome nas ruas de Luanda também amam Angola. Amam-na e declararam esse amor. No entanto, Eduardo dos Santos, que tem pelo menos três refeições por dia, continua a nada fazer para lhes dar um prato de fuba.
Rui Mingas (um dos homens do presidente) dizia que, «nos antigamente», os angolanos apenas tinham «peixe podre, fuba podre, 30 angolares e porrada se refilares». E hoje, 34 anos depois da independência e sete após a morte de Savimbi? Hoje continuam a levar porrada, mesmo sem refilar, e nem peixe ou fuba podre têm.
Sem desculpas, o Governo do MPLA teve, tem e terá tudo para mostrar do que é capaz. Mas a verdade é só uma: Não foi capaz de alimentar o povo e de dignificar os angolanos. Limitou-se a amamentar os poucos que tinham milhões, matando os milhões que têm pouco, ou nada.
Sete anos depois de Luena, o futuro ainda não nasceu. Apenas (e não é pouco, reconheço) se calaram as armas e os dirigentes dos kwachas deixaram de comer farelo.
Sete anos depois de Luena, o futuro ainda não nasceu. Apenas (e não é pouco, reconheço) se calaram as armas e os dirigentes dos kwachas deixaram de comer farelo.
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