sexta-feira, maio 08, 2009

Cavaco Silva exige do debate eleitoral
algo que sabe não existir em Portugal

O Presidente da República de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, apelou hoje a uma coisa que sebe ser inexequível no contexto do país: o debate dos problemas concretos dos europeus na campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, recusando uma discussão centrada na “mera retórica”.

“Dentro de algumas semanas, vão realizar-se as eleições para o Parlamento Europeu. É uma ocasião para debater os problemas que os europeus enfrentam”, afirmou Cavaco Silva, numa intervenção no encerramento da Conferência Internacional “Identificar as necessidades de informação na Europa para uma política eficaz contra as drogas”, realizado no Centro de Congressos de Lisboa.

Desta forma, frisou, o debate deve centrar-se nas “alternativas para fazer face a problemas concretos” e não na “mera retórica europeia”.

O Presidente não pode (se calhar até podia) dizer outra coisa, embora saiba que os políticos portugueses, seja para as europeias, legislativas ou autárquicas, vão rebobinar as cassetes e dizer sempre o mesmo. Ou seja, aquilo que os potenciais eleitores querem ouvir.

Num discurso dividido em duas partes, com a primeira a centrar-se nos problemas da toxicodependência, Cavaco Silva falou também da Europa, aproveitando o facto de se assinalar no sábado mais um aniversário da Declaração de Schuman, que lançou o movimento de integração europeia a 9 de Maio de 1950.

“A construção europeia é, indiscutivelmente, um exemplo de sucesso na nossa história comum”, sublinhou, alertando, contudo, para a necessidade de não abrandar “a dinâmica de aprofundamento”.

E assim sendo, Portugal continua a rumar a Norte (para a Europa) de acordo com a bússola dos seus políticos, sem que ninguém tenha a coragem de dizer que, afinal, o país ruma a Norte mas está cada vez mais a Sul.

Segundo Cavaco, a solidariedade está menos forte e a visão estratégica perdeu alcance, existindo mesmo “um fenómeno de erosão” ou de “fadiga de integração”.

E a culpa é de quem? Não. Não é dos políticos. É dos eleitores que, como dizia Platão, têm como castigo por não participarem na política o facto de serem governados por quem lhes é inferior.

“É certo que os impasses nas decisões, as querelas secundárias, o autismo burocrático, os egoísmos nacionais com que a Europa, aqui e além, se confronta têm contribuído para uma maior descrença dos cidadãos no projecto europeu”, admitiu Cavaco Silva, considerando “imprudente” ignorar tais sinais.

Cá para mim, os problemas dos portugueses não escapam ao que se passa na Europa, mas têm origens congénitas nas ocidentais praias lusitanas. O nanismo intelectual é de tal ordem que do país que deu luz ao mundo só resta uma recordação, e mesmo essa é muito ténue.

Segundo Cavaco Silva, “mau grado as dificuldades vividas”, a integração é o “maior trunfo de que a Europa dispõe” para garantir a paz, o progresso económico e a protecção social.

“É também a integração europeia o maior trunfo para garantir à Europa um lugar de relevo no novo mundo multipolar que vai ser redesenhado no século XXI. Os líderes europeus de hoje serão julgados pela capacidade que relevarem para tirar partido da integração europeia em benefício dos cidadãos”, enfatizou Cavaco Silva.

Em síntese, todos devem olhar para Norte. Quererá isso dizer que o Sul deixa de existir? Ou só existe quando isso interessa a alguns mesquinhos interesses eleitoralistas?

Sem comentários: