O Presidente interino da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira, afirmou hoje em Lisboa estar certo que o financiamento para as presidenciais de 28 de Junho chegará a tempo e mostrou-se "esperançado" que este acto "marcará uma viragem" para alcançar a paz no país.
Como habitualmente, segundo os modelos políticos exportados pela Europa para África, as eleições parecem ser o remédio miraculoso para todos os males. A Guiné-Bissau sabe, por dolorosa experiência própria, que não é assim. Mas se é assim que os financiadores determinam...
Raimundo Pereira referiu que esta audiência em Lisboa em Cavaco Silva foi uma mera "visita de cortesia", destinada a "passar em revista a cooperação entre os dois países e informar sobre as condições para a realização de eleições livres na Guiné-Bissau".
De acordo com o Presidente interino, "Portugal é um parceiro privilegiado da Guiné-Bissau que é preciso cultivar".
Será? Portugal merece de facto esse estatuto de parceiro privilegiado? Não creio que mereça. Tal como os outros, Portugal continua, é certo, a mandar toneladas de peixe para a Guiné. No entanto, o que os guineenses precisam é de quem os ensine a pescar.
Portugal continua, é certo, a mandar montes de antibióticos para a Guiné. Esquece-se, sobretudo porque tem a barriga cheia, que esses medicamentos só devem ser tomados depois de uma coisa essencial que os guineenses não têm: refeições.
Questionado sobre as declarações da ministra da Justiça guineense, segundo as quais os resultados das comissões de inquérito relativas às mortes do ex-Presidente Nino Vieira e do ex-chefe das Forças Armadas, Tagmé Na Waié, serão conhecidos na próxima semana, Raimundo Pereira considerou tratar-se de um "sinal positivo".
Pois. Tão positivo como haver eleições? Se calhar. Mas Nino também chegou a poder por via eleitoral. E foi o que foi. E deu no que deu.
"Nós sempre elegemos o combate à impunidade como um combate na Guiné-Bissau, por isso é para nós fundamental que se chegue a resultados e saber quem foram os responsáveis pelos actos que aconteceram a 1 e 2 de Março", frisou Raimundo Pereira.
Raimundo Pereira tem razão. Creio, na minha mais do que modesta opinião, que mais importante do que saber quem foram os autores é saber o que esteve na origem desses crimes. É que se se não for às origens, situações análogas voltarão a acontecer, não havendo eleições que lhes valha.
"Um acto eleitoral como eleições presidenciais são sempre um factor importante num país democrático, sobretudo quando está no poder um Governo que elegeu o seu programa de Governação em torno do combate ao narcotráfico e está a dar passo concretos nesse sentido", disse ainda, convicto de que o novo Presidente terá um papel essencial neste combate.
Convicções não faltam. O que falta é perceber que eleições onde os guineenses votam com a barriga (vazia) podem ser tudo, mas nunca serão um sinónimo de democracia.
Imagem ximunada de www.didinho.org
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