O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) diz que há liberdade de imprensa em Angola. Também o Sindicato dos Jornalistas Portugueses diz a mesma coisa. Mas será que basta eles dizerem para ser verdade?
Não. Claro que não. Basta ver o que se passa em Portugal, 35 anos depois da Revolução, e em Angola, 34 anos depois da independência e sete depois do fim da guerra.
Em Angola a garantia foi dada pelo porta-voz do SJA, Teixeira Cândido, que considera que existe o livre exercício da liberdade de imprensa por parte dos jornalistas, embora considere que há dificuldade de acesso à informação por parte do público.
É claro que todo o tipo de intimidações sobre os que pensam de forma diferente daqueles que compraram o poder não passa, digo eu, de uma forma democrática de governar.
Segundo Teixeira Cândido, a entrada no mercado de comunicação social angolano de jornalistas estrangeiros preocupa o SJA que, aliás, defende que os órgãos de comunicação social angolanos devem privilegiar os quadros nacionais e só depois os estrangeiros.
Está, assim, o sindicato preocupado (e bem) com a entrada de jornalistas estrangeiros. Se calhar não seria mau preocupar-se também com o que se passa com os jornalistas nacionais que continuam a ser “aconselhados” a dizer apenas a verdade oficial, a comer e calar, a meter na gaveta todos os conceitos de liberdade que não coincidam com os do MPLA.
Em Portugal, aparentemente (apenas isso) a situação é diferente. O Sindicato diz que “a pretexto da crise ou da mera racionalização de custos, sempre com sacrifício do direito ao trabalho, despedimentos em várias empresas continuaram a lançar muitas dezenas de jornalistas no desemprego nos últimos meses”, sendo que “muitos outros, de entre as centenas de dispensados nos últimos anos, continuam sem trabalho”.
Seria igualmente bom que o Sindicato português fizesse um levantamento estatístico e comparativo dos jornalistas dispensados, reciclados para a causa oficial ou a quem foi substituída a coluna vertebral. Se calhar chegaria a conclusões curiosas.
“Todos estão privados de exercer a sua missão de contribuir para uma informação diversificada e pluralista: por cada jornalista silenciado, é menos uma testemunha profissional do quotidiano em condições de poder contar o que observou, é menos um ângulo de visão dos problemas, é menos um ponto de vista. E cada vez maior o risco de uma informação uniformizada”, afirma o Sindicato português.
Tem razão. Mas como em Portugal, tal como em Angola, não basta ter razão (aliás, tê-la é meio caminho andado para o desemprego), se calhar era oportundo saber-se a razão pela qual os jornalistas mais credenciados, de topo na carreira, são os primeiros a abater.
Eu sei que em Portugal, tal como em Angola, a filosofia oficial é valorizar os que dizem que fazem e não os que fazem, os que colocam a subserviência no lugar da competência, os que trocam um prato de pirão em pé por uma lagosta de cócoras. Mas, apesar de saber, continuo a pensar que não é este tipo de sociedade que quero para os meus filhos.
O Sindicato português alerta, perante a indiferença das autoridades de um país que ainda não conseguiu ser um Estado de Direito, que “ao mesmo tempo, muitos outros jornalistas temem o surgimento de novas operações de emagrecimento dos quadros redactoriais”, situação que pode (digo eu) cercear a liberdade e aquilo a que o Sindicato chama de “missão profissional com independência e cumprimento integral dos preceitos éticos do jornalismo”.
“Mas, precisamente porque a fruição plena do direito à livre expressão do pensamento e ao acesso à informação depende das condições em que os Média são produzidos todos os dias, é justo que convoquemos a atenção dos cidadãos para a violação constante de direitos dos profissionais que neles trabalham”, salienta o Sindicato.
Enquanto isso, na vida real, lá como cá, cá como lá, tudo continua na mesma... a bem de uma Nação e de um regime que entende que a liberdade de expressão é irrelevante pelo que, é claro, os jornalistas são dispensáveis.
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