O secretário
de Estado dos Assuntos Fiscais de Portugal revelou hoje o objectivo do Governo
realizar 100 mil inspecções fiscais até ao final do ano nos vários sectores de
actividade.
"Este é
um número ambicioso que o Governo está determinado a cumprir, com vista a dar
um sinal aos operadores económicos e à sociedade em geral que o combate à
fraude e evasão fiscal é uma das principais prioridades fiscais" deste
Executivo, afirmou Paulo Núncio.
O que é que
isso quer dizer? Bem, provavelmente que o pilha-galinhas estará lixado mas que,
por outro lado, o dono do aviário estará safo.
Por outras palavras,
o “zé dos anzóis” vai sentir o efeito das inspecções fiscais, mas os (im)polutos cidadãos do tipo Cavaco
Silva, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro,
Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira
Amaral, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista,
Ascenso Simões, Faria de Oliveira ou Eduardo Catroga vão continuar a rir-se à
grande na chipala dos portugueses.
Para além
disso, garante o sipaio do governo, este trabalho, a par do aperto da malha
legal de combate à fraude e evasão fiscal, está já a dar resultados. O
secretário de Estados dos Assuntos Fiscais diz que os dados de que o Governo
dispõe já demonstram que "a cobrança coerciva está a aumentar em
Portugal".
O Zé Povinho
que se cuide. Ainda vai ser acusado de fraude e de evasão fiscal por estar a
aprender a viver sem comer, estratégia que reduz a entrada de dinheiro nos
cofres da matilha. Portanto, vejam lá se não comem, mas se pagam impostos como
se comessem. Ok?
O governante,
neologismo para a mais adequada definição de sipaio, sublinhou que o Plano
Estratégico de Combate à Fraude e Evasão Fiscal para 2012 a 2014, aprovado em Outubro
e que resulta do compromisso assumido entre Portugal e a 'troika', conta já com
uma execução de 65% das 127 medidas previstas.
O meu
merceeiro da esquina, que aliás ainda mantém o velho sistema do livro dos
fiados, está seriamente preocupado. Como se já não bastasse ter a curta
distância um Pingo Doce, sente que os fiscais o vão atacar como mabecos
famintos, ou não fosse ele um empresário de elevado gabarito que até tem os
lucros num paraíso fiscal que dá pelo nome colchão.
Em vez de
taxar a Banca e a Finança, os bens de luxo e as empresas e negócios offshore, o
Governo agrava os impostos – o IRS, as taxas moderadoras e o IVA –, penalizando
os que menos ganham e a própria classe média. Mas, note-se, diz que vai realizar
100 mil inspecções fiscais.
O Governo
rouba (toma posse) os subsídios de férias e de Natal dos trabalhadores e
pensionistas. Já cortou nos salários dos trabalhadores da Função Pública e do
Sector Empresarial do Estado em 2011 e vai cortar nos subsídios de férias e
Natal de 2012, 2013, 2014 por aí fora. Mas, note-se, diz que vai realizar
100 mil inspecções fiscais.
Os
trabalhadores já pagam uma factura pesada: em 3,8 milhões de empregados por
conta de outrem, 2,3 milhões ganham menos de 900 euros por mês; o salário
mínimo é o mais baixo da Zona Euro; trabalham mais horas do que os
trabalhadores na União Europeia a 15; a precariedade atinge mais de um milhão
de trabalhadores. Mas, note-se, o Governo diz que vai realizar 100 mil inspecções
fiscais.
Apesar da
enorme desregulação que campeia nas empresas, o Governo agrava-a através de um
banco de horas, fulminando o direito ao descanso e entregando às empresas a
gestão do tempo de trabalho e prejudicando a vida familiar. Mas, note-se, diz
que vai realizar 100 mil inspecções fiscais.
Com um
desemprego galopante e cada vez mais prolongado, o Governo desprotege ainda
mais os trabalhadores, fazendo aprovar leis que tornam os despedimentos ainda
mais fáceis e mais baratos e reduzindo o valor e a duração dos subsídios de desemprego.
Mas, note-se, diz que vai realizar 100 mil inspecções fiscais.
As
alterações ao Código do Trabalho já concretizadas e outras anunciadas já estão
a permitir intensificar a exploração dos trabalhadores, aumentando a
precariedade e agravando as condições de trabalho e de vida, ao mesmo tempo que
servem já de chantagem para forçar inúmeros trabalhadores a aceitar rescisões
ditas “amigáveis”. Mas, note-se, diz que vai realizar 100 mil inspecções
fiscais.
Com a
situação social a agravar-se, o Governo piora as condições dos idosos, cortando
1.880 milhões de euros no Orçamento de Estado para as pensões e reformas; e
corta mais de dois mil milhões de euros para prestações sociais como pensões
mínimas do regime geral, subsídio social de desemprego e abono de família, que
será eliminado para muitas famílias. Mas, note-se, diz que vai realizar 100 mil
inspecções fiscais.
Com medidas
de austeridade socialmente gravosas e diminuindo drasticamente o poder de
compra dos salários, das pensões e de outras prestações sociais, a retracção e
a recessão afundarão ainda mais a economia, empobrecendo os portugueses e
empurrando o país para o desastre. Mas, note-se, o Governo diz que vai realizar
100 mil inspecções fiscais.
Com a
obsessiva cruzada pela “ideologia do Estado mínimo”, como bem a caracterizou a
organização Comissão Justiça e Paz, o Governo impõe cortes brutais nas funções
sociais do Estado, nas áreas da Saúde e da Educação, quer privatizar ainda mais
empresas e sectores estratégicos, dos transportes à comunicação social, das águas
à energia. Mas, note-se, diz que vai realizar 100 mil inspecções fiscais.
É necessário
– é urgente – combater as injustiças, a exploração e o empobrecimento dos
trabalhadores e do país; dinamizar a produção nacional na agricultura, nas
pescas e na indústria; promover o crescimento económico e distribuir a riqueza
de forma mais justa e sustentada, criando mais e melhor emprego, combatendo o
desemprego e a precariedade; defender a negociação colectiva, aumentar os
salários e as pensões. O Governo olha para o lado e diz que vai realizar 100
mil inspecções fiscais.
É também
urgente barrar a agiotagem da Banca, renegociar a dívida com condições justas
quanto aos montantes, juros e prazos, no respeito pela soberania nacional, no
interesse do povo e pelas gerações futuras. Mas o que é urgente para os
portugueses não o é para o Governo que, contudo, diz que vai realizar 100 mil
inspecções fiscais.
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