A empresa de
sondagens Gallup diz que o presidente de Angola, há 32 anos no poder sem nunca ter sido eleito, José
Eduardo dos Santos, é dirigente menos
popular na África subsaariana, sendo que apenas 16% dos angolanos aprovam o seu
desempenho.
Obviamente
que não acredito. Como é que só 16% dos angolanos aprovam José Eduardo dos
Santos quando todos sabem, sobretudo pelos ensinamentos dados pela barriga
vazia, que ele é não só o sumo pontífice do país como o mais alto representante
de Deus na terra?
A sondagem,
levada a cabo o ano passado em 34 países da África subsaariana, indica ainda
que 78% desaprovam da sua actuação como presidente do MPLA e de Angola (é tudo
a mesma coisa).
A Gallup não
deveria, na minha opinião, divulgar estes dados. É que se, por qualquer acaso, o
dono de Angola levar a sério a sondagem, ainda não será este ano que haverá eleições.
Para o regime é condição sine qua non que o MPLA consiga, no mínimo, mais de
80% dos votos.
Diz a Gallup
que em relação ao governo, também só 16% aprovam o seu trabalho. Nem poderia
ser de outra forma. José Eduardo dos Santos é sinónimo de tudo; partido,
governo, presidência, economia etc. Assim sendo, o país é só ele e o resto é
paisagem.
É claro que
se os angolanos fossem livres, certamente que Eduardo dos Santos não teria
muito mais que os tais 16% de votos. Mas não são. E entre comer peixe podre,
fuba podre e ter direito a 50 angolares e
nada ter para alimentar a barriga, os angolanos escolhem o MPLA, mesmo que apanhem
porrada se refilarem.
Em Angola,
mais de 68% da população vive em pobreza extrema e a taxa estimada de
analfabetismo é de 58%. A dependência sócio-económica a favores, privilégios e
bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os
angolanos. O silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do
partido que está no poder desde 1975.
Em Angola, a
corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os
que querem ser livres. O acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital
accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações
dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias
ligadas ao regime no poder.
Por muito
que nos areópagos da CPLP (bem comidos e bebidos) se diga o contrário, a
verdade é que pela “Constituição” do
MPLA (dizer que é de Angola é o mesmo que dizer que é o povo quem manda na
Sonangol), o Presidente da República é o “cabeça de lista” (ou seja o deputado
colocado no primeiro lugar da lista), do partido mais votado, eleito pelo
círculo nacional nas eleições para a Assembleia Nacional.
Não é uma
eleição indirecta, feita pelo parlamento (como acontece por exemplo na
República da África do Sul), mas uma vigarice típica dos regimes a quem não
basta ser totalitário.
Assim, o
futuro presidente (José Eduardo dos Santos) é o primeiro deputado da lista do
partido mais votado, mesmo que esse partido tenha apenas 25% dos votos
expressos. Por outras palavras, para ter a certeza de que não vai perder as
eleições presidenciais, José Eduardo dos Santos pura e simplesmente acabou com
elas.
Sobre os
contrastes que existem em Angola, ou seja, a de país rico em recursos naturais
como petróleo e diamante e os seus altos níveis de pobreza, questão colocada
por uma jornalista alemã na altura da visita de Ângela Merkel a Luanda, o dono
de Angola disse “só pode chegar a esta conclusão quem não conheceu Angola antes
da independência e o percurso até agora”.
Nem mais. Só
faltou dizer aos portugueses para continuarem como até aqui, quietos, calados e
de cócoras para não obrigarem José Eduardo dos Santos a fazer com mais
veemência o que está a ser feito por Passos Coelho: pô-los a peixe podre, fuba
podre, cinquenta angolares e, é claro, também sujeitos a porrada se refilarem…
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