Em Angola,
onde nasci em 1954 e vivi até 1975, aprendi
que devo ser o que sou e não o que os outros querem que eu seja... mesmo quando
vão subindo o preço da compra.
É claro que
entre as ruas do Bairro de Benfica (foi aí, junto à Escola Primária, que a
parteira Maria de Lupes me deu uma mão) da então Nova Lisboa e a cidade Alta (a
terceira rua à direita a seguir ao Colégio das Madres, a caminho do aeroporto,
foi a última etapa de um sonho) fui aprendendo outras coisas.
Aprendi, por
exemplo, que importantes são todos aqueles (e serão certamente alguns) que nos
estendem a mão quando tropeçamos numa pedra, como acontece cada vez mais,
tantas são as pedreiras construídas e destruídas pelos anões da nossa
sociedade. Mas também aprendi que mais importantes são todos aqueles (e serão
certamente poucos) que tiram a pedra antes de passarmos e que dificilmente
saberemos quem são.
No Liceu
Nacional General Norton de Matos (que saudades Professora Dorinda Agualusa, que
saudades!) aprendi coisas que estão arquivadas no disco duro da memória e
outras que estão on line. Todas me ajudam a compreender que o possível se faz
sem esforço, tal como me permitem entender que a obra prima do Mestre não é a
mesma coisa que a prima do mestre de obras. Infelizmente nem todos a
distinguem.
E os que a
não distinguem são, por enquanto, os que melhor se deram na vida. Porque será?
Infelizmente
muitos de nós (já para não falar de muitos dos outros) continuam a confundir a
beira da estrada com a estrada da Beira. Confundem sempre de acordo com a
confusão do capataz. Deles será, creio, o reino dos Céus...
Foi também
lá longe (lá longe onde a saudade castiga mais) que aprendi que não basta ter a
faca e o queijo na mão... é preciso ainda tê-los no sítio. Coisa rara,
convenhamos. Entre dias sem pão e pão sem dias, lá fui e lá continuo (assim
dizia João Charulla de Azevedo) projectando o melhor, esperando o pior e
aceitando de ânimo igual o que Deus quiser.
Mas o que
mais conta é que, salvo retoques externos de embalagem, continuo no essencial a
acreditar no (im)possível. Não estou só. Somos poucos mas bons? Somos. Mal
pagos, mas somos.
Por tudo
isto, obrigado Mãe por teres tido a coragem de me fazer nascer na mais bela
terra do mundo.
2 comentários:
Caro Orlando.
És o máximo. Este texto tráz-me lágrimas no canto do olho, como teria dito o Bonga. Foi tambem lá onde nascí, eis a razão de me tocar na alma este teu lindo texto.
Obrigado, caro Nelson.
Ainda bem que tocou num dos dois sítios certos. O outro seria o coração.
Abraço
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