domingo, maio 06, 2012

Obrigado Mãe!


Em Angola, onde nasci em 1954 e vivi até 1975,  aprendi que devo ser o que sou e não o que os outros querem que eu seja... mesmo quando vão subindo o preço da compra.

É claro que entre as ruas do Bairro de Benfica (foi aí, junto à Escola Primária, que a parteira Maria de Lupes me deu uma mão) da então Nova Lisboa e a cidade Alta (a terceira rua à direita a seguir ao Colégio das Madres, a caminho do aeroporto, foi a última etapa de um sonho) fui aprendendo outras coisas.

Aprendi, por exemplo, que importantes são todos aqueles (e serão certamente alguns) que nos estendem a mão quando tropeçamos numa pedra, como acontece cada vez mais, tantas são as pedreiras construídas e destruídas pelos anões da nossa sociedade. Mas também aprendi que mais importantes são todos aqueles (e serão certamente poucos) que tiram a pedra antes de passarmos e que dificilmente saberemos quem são.

No Liceu Nacional General Norton de Matos (que saudades Professora Dorinda Agualusa, que saudades!) aprendi coisas que estão arquivadas no disco duro da memória e outras que estão on line. Todas me ajudam a compreender que o possível se faz sem esforço, tal como me permitem entender que a obra prima do Mestre não é a mesma coisa que a prima do mestre de obras. Infelizmente nem todos a distinguem.

E os que a não distinguem são, por enquanto, os que melhor se deram na vida. Porque será?

Infelizmente muitos de nós (já para não falar de muitos dos outros) continuam a confundir a beira da estrada com a estrada da Beira. Confundem sempre de acordo com a confusão do capataz. Deles será, creio, o reino dos Céus...

Foi também lá longe (lá longe onde a saudade castiga mais) que aprendi que não basta ter a faca e o queijo na mão... é preciso ainda tê-los no sítio. Coisa rara, convenhamos. Entre dias sem pão e pão sem dias, lá fui e lá continuo (assim dizia João Charulla de Azevedo) projectando o melhor, esperando o pior e aceitando de ânimo igual o que Deus quiser.

Mas o que mais conta é que, salvo retoques externos de embalagem, continuo no essencial a acreditar no (im)possível. Não estou só. Somos poucos mas bons? Somos. Mal pagos, mas somos.

Por tudo isto, obrigado Mãe por teres tido a coragem de me fazer nascer na mais bela terra do mundo.

2 comentários:

Nelson Emanuel disse...

Caro Orlando.
És o máximo. Este texto tráz-me lágrimas no canto do olho, como teria dito o Bonga. Foi tambem lá onde nascí, eis a razão de me tocar na alma este teu lindo texto.

Orlando Castro disse...

Obrigado, caro Nelson.

Ainda bem que tocou num dos dois sítios certos. O outro seria o coração.

Abraço