Se o valor
dos portugueses se medisse pelo nível dos seus políticos, Miguel Relvas
amesquinhava-os totalmente.
Miguel Relvas,
“de jure” ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares mas “de facto” primeiro-ministro, disse hoje
que a administração local portuguesa sofre de "esquizofrenia".
E se ele,
como um dos donos da verdade no reino, o diz é porque os responsáveis pela
administração local sofrem de “doença mental complexa, caracterizada, por
exemplo, pela incoerência mental, personalidade dissociada e ruptura de
contacto com o mundo exterior”.
Miguel
Relvas, peritos dos peritos e – tal como Passos Coelho – candidato ao prémio
Nobel de qualquer coisa, continua a procurar – diz - "novos mundos"
como forma de se ultrapassar a actual crise.
Não sei se,
como eles pretendem, instaurar no reino lusitano um regime esclavagista é
procurar “novos mundos”. Se calhar até é.
Na
Universidade do Minho, onde foi dissertar sobre a Reforma da Administração
Financeira do Estado, Miguel Relvas disse ainda que a concretização de
"profundas reformas na administração central e local" é outra das
saídas para a crise.
Ou seja, a
Portugal não faltam saídas. Por terra, mar e ar todos podem e devem sair, até
porque consta que ainda há países onde a escravatura foi de facto abolida. Não
serão muitos embora se diga que existem.
Para Miguel
Relvas, a administração local padece de "uma esquizofrenia", pois
"é a favor de mudanças, mas só para o vizinho", explicando que "quem faz mudanças ganha
inimigos".
Tem, é
claro, toda a razão. É certo que a regra só se aplica aos que o governo quer.
Fazer mudanças, apresentar projectos de investimento e de criação de emprego é
algo que esbarra sempre em alguma coisa que obriga à desistência. A chave
mágica para ultrapassar essas barreiras passa, entre outras coisas mais ou menos
ocultas, pelo preenchimento prioritário do requerimento FP e pelos anexos MR ou
PPC (ficha do partido, Miguel Relvas ou Pedro Passos Coelho).
Segundo o
ministro, a dificuldade está em querer "sair do problema, mas com as
velhas receitas". Por isso, afirmou que as "mudanças são o caminho
certo".
Os
portugueses já tentaram sair do problema utilizando todo o tipo de receitas,
velhas, novas, por inventar, futuristas, lunáticas e similares. Chegam,
contudo, sempre à mesma conclusão: qualquer semelhança de Portugal com um
Estado de Direito é mera coincidência.
Miguel
Relvas disse também que não tem havido uma "relação de transparência"
entre o cidadão e o Estado e que isso precisa de mudar. Calcula-se que isso
possa mudar dentro de… 30 anos. Quando o cidadão esbarra com um Estado opaco,
apesar de ter à entrada a placa a dizer “transparente”, o melhor que tem a
fazer é mesmo zarpar aí para o Burkina Faso.
"A
partir de 2013, todos os funcionários superiores da administração pública vão
ser escolhidos, não pelo ministro A ou B, mas por concurso. É um factor
decisivo de transparência e credibilização da administração pública",
indicou Miguel Relvas.
Acredito que
assim será. Nessa altura já o ministro A ou B teve mais do que tempo para
colocar os seus sipaios nos lugares de decisão
a quem caberá organizar, selecionar e determinar quem são os escolhidos…
por concurso.
Miguel Relvas
deu também conta da necessidade de se procuraram "novos mundos",
porque "sempre" que Portugal viveu "só da Europa" teve
"dificuldades". Daí a opção estratégica de colocar o país sob
protectorado do regime de Angola, com a clara colaboração do “africanista de
Massamá”.
"Dos
oito países para os quais exportamos, seis estão em recessão. Isso obriga-nos a
procurar outros mercados", disse Miguel Relvas, sempre pensando – julgo eu
– que a alternativa passa pelas berlengas, ilhas selvagens ou mesmo pela
Madeira.
Já em 7 de
Janeiro passado, Miguel Relvas defendeu que Portugal deve "olhar para
outros mundos" e menos para a Europa.
Se calhar,
digo eu, os portugueses até ficariam gratos a Miguel Relvas se ele, que também
relevou a existência de uma nova emigração protagonizada por uma
"juventude bem preparada", desse o exemplo e fosse pregar para outras
paragens, eventualmente para o Burkina Faso, país onde goza de um enorme
prestígio.
"Se nós
olharmos para a nossa história, sabemos que sempre que nos encostaram ao oceano
foram os momentos de maior glória da nossa história", disse Miguel Relvas,
inspirado em Guerra Junqueiro quando falava de “uma burguesia, cívica e
politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem
palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida
íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de
toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao
roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença
geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro”.
Na opinião
de Miguel Relvas, "a verdade é que nos últimos 20 anos estivemos demasiado
preocupados com a Europa". Tem razão. Entre a Europa, o umbigo e as
mordomias de uma casta superior, os políticos portugueses sempre mostraram que,
no mínimo e como dizia Eça de Queiroz, deveriam ser mudados, como as fraldas,
regularmente e pelas mesmas razões.
Ressalvando
que os portugueses "não devem deixar de olhar para a Europa", o,
disse que "Portugal é forte quando olha para o mundo", acrescentando
que "a vocação do Atlântico Sul é a vocação da nossa história".
Apesar de
aparentar alguma erudição, Miguel Relvas e a sua equipa estão sem ideias, sem
planos, sem convicções e, embora vivendo todos do mesmo utilitarismo céptico e
pervertido, sendo todos metades do mesmo zero, não cabem todos duma vez na sala
onde está a manjedoura.
Para o
ministro Miguel Relvas, vive-se "um tempo de incerteza em Portugal como em
toda a Europa" e o país "precisa necessariamente de exportar e
precisa de encontrar novos mercados".
É verdade.
Embora a cotação seja fraca ou nula, se calhar os portugueses até não se
importariam de fazer um esforço, mais um, para pagar alguma coisa a quem
levasse do país (se possível para sempre) os protagonistas de “um poder
legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do
moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do
País”.
Relvas
aconselha que esses mercados não sejam
"os que vivem hoje no mesmo mar de incertezas em que nós nos
encontramos", referindo que a situação de Espanha deve preocupar Portugal.
Miguel
Relvas recordou a sua viagem a Moçambique e disse ter apreciado em Maputo, em
contacto com jovens licenciados portugueses que trabalham no país, a sua
maneira de "ver o mundo com outros olhos" e a sua "capacidade de
se adaptarem" a novas realidades.
O ministro
fez bem em ir a Moçambique. Nada melhor para mostrar aos portugueses como é
hoje o seu país do que, seja onde for, lá mandar os seus donos. Que os
portugueses hoje, como ontem e obrigatoriamente como amanhã, sabem adaptar-se
com facilidade, é uma verdade histórica. Mas, por regra, também sabem
distinguir os calcinhas que os querem transformar em matumbos como exímios camanguistas que são.
"Temos
uma adaptabilidade de tal forma que nos permite estarmos nas Américas, na Ásia
ou nas Áfricas como estamos no nosso continente ou no nosso país", afirmou
Relvas num rasgo de quem se julga igual ao Poeta que disse “De África tem
marítimos assentos / É na Ásia mais que todas soberana / Na quarta parte nova
os campos ara / E se mais mundo houvera, lá chegara!”.
A verdade,
contudo, é outra. Se o valor dos portugueses se medisse pelo nível dos seus
políticos, Miguel Relvas amesquinhava-os totalmente.
1 comentário:
obrigado Orlando, por estes momentos tão divertidos, e realistas.
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