sexta-feira, maio 18, 2012

Miguel Relvas e a esquizofrenia…


Se o valor dos portugueses se medisse pelo nível dos seus políticos, Miguel Relvas amesquinhava-os totalmente.

Miguel Relvas, “de jure” ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares  mas “de facto” primeiro-ministro, disse hoje que a administração local portuguesa sofre de "esquizofrenia".

E se ele, como um dos donos da verdade no reino, o diz é porque os responsáveis pela administração local sofrem de “doença mental complexa, caracterizada, por exemplo, pela incoerência mental, personalidade dissociada e ruptura de contacto com o mundo exterior”.

Miguel Relvas, peritos dos peritos e – tal como Passos Coelho – candidato ao prémio Nobel de qualquer coisa, continua a procurar – diz - "novos mundos" como forma de se ultrapassar a actual crise.

Não sei se, como eles pretendem, instaurar no reino lusitano um regime esclavagista é procurar “novos mundos”. Se calhar até é.

Na Universidade do Minho, onde foi dissertar sobre a Reforma da Administração Financeira do Estado, Miguel Relvas disse ainda que a concretização de "profundas reformas na administração central e local" é outra das saídas para a crise.

Ou seja, a Portugal não faltam saídas. Por terra, mar e ar todos podem e devem sair, até porque consta que ainda há países onde a escravatura foi de facto abolida. Não serão muitos embora se diga que existem.

Para Miguel Relvas, a administração local padece de "uma esquizofrenia", pois "é a favor de mudanças, mas só para o vizinho", explicando  que "quem faz mudanças ganha inimigos".

Tem, é claro, toda a razão. É certo que a regra só se aplica aos que o governo quer. Fazer mudanças, apresentar projectos de investimento e de criação de emprego é algo que esbarra sempre em alguma coisa que obriga à desistência. A chave mágica para ultrapassar essas barreiras passa, entre outras coisas mais ou menos ocultas, pelo preenchimento prioritário do requerimento FP e pelos anexos MR ou PPC (ficha do partido, Miguel Relvas ou Pedro Passos Coelho).

Segundo o ministro, a dificuldade está em querer "sair do problema, mas com as velhas receitas". Por isso, afirmou que as "mudanças são o caminho certo".

Os portugueses já tentaram sair do problema utilizando todo o tipo de receitas, velhas, novas, por inventar, futuristas, lunáticas e similares. Chegam, contudo, sempre à mesma conclusão: qualquer semelhança de Portugal com um Estado de Direito é mera coincidência.

Miguel Relvas disse também que não tem havido uma "relação de transparência" entre o cidadão e o Estado e que isso precisa de mudar. Calcula-se que isso possa mudar dentro de… 30 anos. Quando o cidadão esbarra com um Estado opaco, apesar de ter à entrada a placa a dizer “transparente”, o melhor que tem a fazer é mesmo zarpar aí para o Burkina Faso.

"A partir de 2013, todos os funcionários superiores da administração pública vão ser escolhidos, não pelo ministro A ou B, mas por concurso. É um factor decisivo de transparência e credibilização da administração pública", indicou Miguel Relvas.

Acredito que assim será. Nessa altura já o ministro A ou B teve mais do que tempo para colocar os seus sipaios nos lugares de decisão  a quem caberá organizar, selecionar e determinar quem são os escolhidos… por concurso.

Miguel Relvas deu também conta da necessidade de se procuraram "novos mundos", porque "sempre" que Portugal viveu "só da Europa" teve "dificuldades". Daí a opção estratégica de colocar o país sob protectorado do regime de Angola, com a clara colaboração do “africanista de Massamá”.

"Dos oito países para os quais exportamos, seis estão em recessão. Isso obriga-nos a procurar outros mercados", disse Miguel Relvas, sempre pensando – julgo eu – que a alternativa passa pelas berlengas, ilhas selvagens ou mesmo pela Madeira.

Já em 7 de Janeiro passado, Miguel Relvas defendeu que Portugal deve "olhar para outros mundos" e menos para a Europa.

Se calhar, digo eu, os portugueses até ficariam gratos a Miguel Relvas se ele, que também relevou a existência de uma nova emigração protagonizada por uma "juventude bem preparada", desse o exemplo e fosse pregar para outras paragens, eventualmente para o Burkina Faso, país onde goza de um enorme prestígio.

"Se nós olharmos para a nossa história, sabemos que sempre que nos encostaram ao oceano foram os momentos de maior glória da nossa história", disse Miguel Relvas, inspirado em Guerra Junqueiro quando falava de “uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro”.

Na opinião de Miguel Relvas, "a verdade é que nos últimos 20 anos estivemos demasiado preocupados com a Europa". Tem razão. Entre a Europa, o umbigo e as mordomias de uma casta superior, os políticos portugueses sempre mostraram que, no mínimo e como dizia Eça de Queiroz, deveriam ser mudados, como as fraldas, regularmente e pelas mesmas razões.

Ressalvando que os portugueses "não devem deixar de olhar para a Europa", o, disse que "Portugal é forte quando olha para o mundo", acrescentando que "a vocação do Atlântico Sul é a vocação da nossa história".

Apesar de aparentar alguma erudição, Miguel Relvas e a sua equipa estão sem ideias, sem planos, sem convicções e, embora vivendo todos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, sendo todos metades do mesmo zero, não cabem todos duma vez na sala onde está a manjedoura.

Para o ministro Miguel Relvas, vive-se "um tempo de incerteza em Portugal como em toda a Europa" e o país "precisa necessariamente de exportar e precisa de encontrar novos mercados".

É verdade. Embora a cotação seja fraca ou nula, se calhar os portugueses até não se importariam de fazer um esforço, mais um, para pagar alguma coisa a quem levasse do país (se possível para sempre) os protagonistas de “um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País”.

Relvas aconselha que  esses mercados não sejam "os que vivem hoje no mesmo mar de incertezas em que nós nos encontramos", referindo que a situação de Espanha deve preocupar Portugal.

Miguel Relvas recordou a sua viagem a Moçambique e disse ter apreciado em Maputo, em contacto com jovens licenciados portugueses que trabalham no país, a sua maneira de "ver o mundo com outros olhos" e a sua "capacidade de se adaptarem" a novas realidades.

O ministro fez bem em ir a Moçambique. Nada melhor para mostrar aos portugueses como é hoje o seu país do que, seja onde for, lá mandar os seus donos. Que os portugueses hoje, como ontem e obrigatoriamente como amanhã, sabem adaptar-se com facilidade, é uma verdade histórica. Mas, por regra, também sabem distinguir os calcinhas que os querem transformar em matumbos  como exímios camanguistas que são.

"Temos uma adaptabilidade de tal forma que nos permite estarmos nas Américas, na Ásia ou nas Áfricas como estamos no nosso continente ou no nosso país", afirmou Relvas num rasgo de quem se julga igual ao Poeta que disse “De África tem marítimos assentos / É na Ásia mais que todas soberana / Na quarta parte nova os campos ara / E se mais mundo houvera, lá chegara!”.

A verdade, contudo, é outra. Se o valor dos portugueses se medisse pelo nível dos seus políticos, Miguel Relvas amesquinhava-os totalmente.

1 comentário:

Anónimo disse...

obrigado Orlando, por estes momentos tão divertidos, e realistas.