terça-feira, maio 22, 2012

O meu jornalismo interpretativo


A democracia interpretativa que o governo português quer implementar no reino tem uma regra basilar: os jornalistas têm toda a liberdade para divulgar a verdade... oficial.

É por tudo isso que, se me é permitido uma espécie de jornalismo interpretativo, o ministro Miguel Relvas exige que os jornalistas e similares pratiquem um jornalismo objectivo, sério, isento, responsável e – é claro – patriótico.

Cá para mim, o melhor era pôr alguns dos muitos sipaios que a coligação governamental tem na Assembleia da República a dar “Educação Patriótica” aos jornalistas. Não, não é brincadeira. Portugal, trinta e tal anos depois da Revolução, tem uma estrutura de parasitas políticos que, um pouco à semelhança da “democracia”  dos Khmer Vermelhos de Pol Pot, bem poderiam fazer essa “Educação Patriótica”.

Cada vez mais se vê que o reino de Passos Coelho, Miguel Relvas e companhia tem de pôr na linha e em linha os  jornalistas que (ainda) restam. Pelos vistos não terá funcionado muito bem a estratégia de os escolher por e à medida, sendo por isso altura de corrigir o tiro.

Quanto mais tarde o fizer… pior. É que alguns jornalistas teimam em julgar que exercem a profissão num Estado de Direito Democrático. Ora isso não é verdade. E é preciso recordar-lhes o dever patriótico que têm em relação aos donos do poder e não em relação ao Povo.

É claro que Miguel Relvas deve continuar a dizer que os órgãos de comunicação social e os jornalistas devem, no cumprimento da sua missão social, conformar a sua acção não só aos princípios ético-deontológicos, como também ao princípio da responsabilidade social. Fica sempre bem dizer mentiras agradáveis.

Aliás essa coisa dos princípios ético-deontológicos, quando dita por Miguel relvas, é muito bonita mas está (terá de estar, se me permitem ser interpretativo) subordinada ao princípio basilar da actual democracia “made in PSD“ que diz: ou fazem o que queremos ou levam no focinho.

E levar no focinho significa, entre outras possibilidades interpretativas, levar mesmo uns murros ou ir para o desemprego.

O ministro Miguel Relvas é uma individualidade de reconhecidos méritos, desde logo porque todos sabem que é dono da verdade. E quando assim é, não há jornalismo interpretativo que possa dizer, ou mesmo insinuar, o contrário. É dono e pronto.

Na perspectiva de o governo avançar, como deve, com a educação patriótica dos jornalistas, sugiro que – por exemplo - prender jornalistas, ameaçar jornalistas, comprar jornalistas e por aí fora passem a ser regra fundamental do patriotismo e da democracia lusa.

Paralelamente deve ser considerada relevante a estratégia de mandar os sipaios chegar a roupa ao pelo aos jornalistas que não se deixam comprar, usar o poder económico e financeiro de gente do poder para que os donos dos jornalistas e os donos dos donos se lembrem de quem é que manda.

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