A União
Europeia decidiu hoje reforçar as sanções contra o comando militar da
Guiné-Bissau, acrescentando 15 pessoas à lista de indivíduos proibidos de
entrar no espaço comunitário e sujeitos ao congelamento de bens na Europa.
Numa nota
divulgada em Bruxelas, o Conselho da UE indica que, face à gravidade da actual
situação na Guiné-Bissau, decidiu incluir na lista de medidas restritivas mais
15 pessoas que considera estarem a ameaçar a paz, a segurança e a estabilidade
no país, e cuja identidade será conhecida amanhã, quando a decisão hoje tomada
for publicada no Jornal Oficial da UE.
Como
habitualmente, a comunidade internacional (seja lá o que isso for) e sobretudo
a CPLP (que todos sabemos ser um montanha que nem um rato consegue parir) vira
o disco mas a música é sempre a mesma.
Tal como
agora, a UE entendeu que perante a morte do então presidente da República,
“Nino” Vieira, a Guiné-Bissau teria de voltar à estabilidade constitucional.
Seja qual for
a crise, a resposta é sempre a mesma. Não se cura a enfermidade mas apenas se
alivia a dor. Isto até que o doente pura e simplesmente... morra.
A tese é a
de que os guineenses podem ser alimentados com votos, com a ordem
constitucional, com o que a UE quer, que as crises se resolvem com votos e que
os votos são um milagroso remédio que cura todos os males.
O Ocidente,
e neste caso particular da Guiné-Bissau a Europa e sobretudo Portugal, sabe que
África teve, tem e continuará a ter uma História de autoritarismo que, aliás,
faz parte da sua própria cultura e que em nada preocupa os fazedores da
macro-política que se passeiam nos areópagos dos luxuosos hotéis do mundo.
Apesar
disso, teima-se em exportar a democracia “made in Ocidente”, sem ver que a
realidade africana é bem diferente. Vai daí, pela força dos votos os ditadores
chegam ao Poder, ficam eternamente no poder e em vez de servirem o povo,
servem-se dele. Ma como, supostamente, foram eleitos...
Mas será
isso democracia? Por que carga de chuva ninguém se lembra que, por exemplo, na
Guiné-Bissau as escolhas não são feitas com o cérebro mas com a barriga, ainda
por cima vazia?
Foi neste
contexto que “Nino” Vieira (tal como, entre muitos outros, José Eduardo dos
Santos e Robert Mugabe) chegou a presidente e, tal como o seu homólogo, mentor
e amigo angolano, por lá queria continuar com o beneplácito da tal Comunidade
de Países de Língua Portuguesa.
A estratégia
de “Nino” Vieira falhou, mas outras aí estão no terreno com inegável pujança e
com a histórica cobertura dos donos do poder em Portugal, na CPLP e no mundo.
Ninguém se
lembrou, apesar de saberem (até por experiência própria) que “Nino” Vieira (tal
como Eduardo dos Santos ou Robert Mugabe) era só por si uma enciclopédia de
corrupção. Ninguém quis ver que “Nino” foi o único histórico do país que
enriqueceu depois da independência, tornando-se o homem mais rico de um país
miserável.
“Nino”
vendeu e comprou as melhores empresas do país (Armazéns de Povo, Socomin,
Dicol, Titina Sila, Cumeré, Blufo, Bambi, Volvo, Oxigénio e Acetileno, etc.,
etc.), tornando-se sócio do então presidente Lassana Conté, da Guiné-Conakry,
para melhor traficar, entre outras riquezas, os diamantes da Serra Leoa.
Que
conclusões terá tirado a CPLP e Portugal quando Carlos Gomes Junior, primeiro-ministro
exilado, disse que “era impossível coabitar com Nino Vieira que não passava de
um bandido e de um mercenário que traiu o povo"?
Que
conclusões terá tirado a CPLP e Portugal ao saber que, tal como se passou nas
eleições angolanas, também “Nino” conseguiu em alguns círculos ter mais votos
do que eleitores registados?
Pelos vistos
à UE, à CPLP e a Portugal apenas interessa que se vote, nem que para isso se
chamem os mortos, tal como vai de novo acontecer em Angola no dia 31 de Agosto.
Se os votos
foram comprados, isso pouco interessa. Se os guineenses votam em função da
barriga vazia e não de uma consciente opção política, isso pouco interessa.
Para quem
vive bem, para quem tem pelo menos três refeições por dia, o importante foi e
será que os guineenses votem. Não importa o que aconteceu antes, o que está a
acontecer agora e que voltará a acontecer um dia destes.
Não será,
aliás, difícil antever que o sangue do povo guineense voltará a correr. Mas o
que é que isso importa? O que importa é terem votado...
1 comentário:
Análise correcta e real das realidades e contextos africanos. Eles não sabem o que dizem MESMO!!
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