O chefe de
Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, general António
Indjai, encabeça a lista de individualidades alvo das sanções da União
Europeia, que inclui outros cinco militares considerados responsáveis pelo
golpe de Estado.
É, como
muitas outras decisões similares, mais uma brincadeira que ninguém, sobretudo
os visados, leva a sério.
Um dia
depois de a UE ter aprovado sanções contra os líderes do golpe militar de 12 de
Abril passado, a lista de seis pessoas que passam a ficar impedidas de entrar
em território comunitário e cujos bens são congelados foi hoje publicada no
Jornal Oficial da União Europeia e inclui ainda os generais Mamadu Ture
'N’Krumah', Augusto Mário Có, Estêvão na Mena, Ibraima ('Papa') Camará e o
tenente-coronel Daba Na Waln.
Recordam-se
que, em 2010, os EUA e essa mesma União Europeia avisaram as autoridades da
Guiné-Bissau que o novo chefe das Forças Armadas não poderia estar implicado
nos acontecimentos de 1 de Abril, como era o caso do major-general António
Indjai?
E então qual
foi o resultado? Perante este sério aviso, o governo de Carlos Gomes Júnior
escolheu (e o presidente Balam Bacai Sanhá aceitou) para chefiar as Forças
Armadas, nem mais nem menos do que... António Indjai.
Digna e sem meias
medidas foi a posição do Governo de Cabo Verde que, embora sem o peso dos EUA,
da UE e da CPLP, avisou que a nomeação de António Indjai como CEMGFA “trará
consequências”, como “o aumento do risco de cansaço” da comunidade
internacional.
Farto do
silêncio da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, que devia andar muito
atarefada em abrir as portas da organização à Guiné-Equatorial, José Brito .então
chefe da diplomacia de Cabo Verde, mostrou (mais uma vez) que Cabo Verde pensa
pela sua própria cabeça.
José Brito
disse no dia 1 de Junho de 2010 que Cabo Verde ia “trabalhar pela paz na Guiné-Bissau”, o que
não o impedia de dizer que é sério o risco de cansaço da comunidade
internacional.
E como bem
disse, “importa que os políticos guineenses entendam que há limites que não
devem ser ultrapassados”.
“Cabo Verde
age de maneira autónoma da comunidade internacional e segue os esforços de paz
e estabilidade. O papel de Cabo Verde vai ser o de facilitar o diálogo”,
reforçou José Brito.
“Por sua
própria admissão, no dia 1 de Abril, o major-general António Indjai ordenou o
sequestro e detenção do primeiro-ministro democraticamente eleito e do chefe de
Estado-Maior General das Forças Armadas, o qual foi legalmente nomeado”,
salientou na altura o governo norte-americano, acrescentando que, “além disso,
Indjai ameaçou a vida do primeiro-ministro, bem como a dos corajosos cidadãos
guineenses que se manifestaram contra a ilegal detenção”.
Pois foi.
Mas, na verdade, António Indjai lá continua de armas e bagagens, cantando e
rindo.
Em 2010
também Portugal deu uns palpites sobre a situação. “Nós depositamos neste
momento grande confiança no acompanhamento da situação guineense que está a ser
feito no âmbito da CEDEAO, da CPLP, da UE e das Nações Unidas. Consideramos que
a comunidade internacional, em particular através destas instituições e
organizações, podem dar um contributo da maior importância para fortalecer
aquelas que são frágeis instituições constitucionais do país”, disse Cavaco
Silva.
Uma das
traduções destas afirmações diz que Cavaco Silva entende que António Indjai não
deveria ser o chefe militar. O presidente português deixa, contudo, uma
ambiguidade típica que lhe permite, um dia destes, receber em Lisboa o novo
líder militar guineense. E se dúvidas existirem, poderá sempre dizer que nunca
ninguém o ouviu dizer que era contra...
Havendo,
como disse Cavaco Silva, “grande convergência de pontos de vista”, porque carga
de água o presidente português não falou na interferência dos militares nas
questões políticas?
Cá para mim,
Portugal continua a estar sempre do lado de quem está no poder,
independentemente de serem ditadores civis ou militares. Sempre assim foi desde
as independências das ex-colónias e, pelos vistos, sempre assim será.
Portugal continua
a desempenhar o papel que mais lhe agrada, como seja o de meter o rabinho entre
as pernas, cantando e rindo na vertiginosa aproximação aos países mais
desenvolvidos do norte de... África.
Na sequência
da nomeação de António Indjai, os EUA anunciaram que iam apoiar a reforma do
sector de defesa e segurança e a União Europeia disse que ia rever os acordos
de cooperação com a Guiné-Bissau. Viu-se.
1 comentário:
ALERTA: REFÉNS DA CEDEAO:
Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior, deixaram de ser detidos dos militares da Guiné Bissau, para passarem a reféns da CEDEAO em Abidjan, com todas as maipulações que isso significa!!!
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