sexta-feira, maio 04, 2012

Os guineense merecem respeito!

O chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, general António Indjai, encabeça a lista de individualidades alvo das sanções da União Europeia, que inclui outros cinco militares considerados responsáveis pelo golpe de Estado.

É, como muitas outras decisões similares, mais uma brincadeira que ninguém, sobretudo os visados, leva a sério.

Um dia depois de a UE ter aprovado sanções contra os líderes do golpe militar de 12 de Abril passado, a lista de seis pessoas que passam a ficar impedidas de entrar em território comunitário e cujos bens são congelados foi hoje publicada no Jornal Oficial da União Europeia e inclui ainda os generais Mamadu Ture 'N’Krumah', Augusto Mário Có, Estêvão na Mena, Ibraima ('Papa') Camará e o tenente-coronel Daba Na Waln.

Recordam-se que, em 2010, os EUA e essa mesma União Europeia avisaram as autoridades da Guiné-Bissau que o novo chefe das Forças Armadas não poderia estar implicado nos acontecimentos de 1 de Abril, como era o caso do major-general António Indjai?

E então qual foi o resultado? Perante este sério aviso, o governo de Carlos Gomes Júnior escolheu (e o presidente Balam Bacai Sanhá aceitou) para chefiar as Forças Armadas, nem mais nem menos do que... António Indjai.

Digna e sem meias medidas foi a posição do Governo de Cabo Verde que, embora sem o peso dos EUA, da UE e da CPLP, avisou que a nomeação de António Indjai como CEMGFA “trará consequências”, como “o aumento do risco de cansaço” da comunidade internacional.

Farto do silêncio da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, que devia andar muito atarefada em abrir as portas da organização à Guiné-Equatorial, José Brito .então chefe da diplomacia de Cabo Verde, mostrou (mais uma vez) que Cabo Verde pensa pela sua própria cabeça.

José Brito disse no dia 1 de Junho de 2010 que Cabo Verde ia  “trabalhar pela paz na Guiné-Bissau”, o que não o impedia de dizer que é sério o risco de cansaço da comunidade internacional.

E como bem disse, “importa que os políticos guineenses entendam que há limites que não devem ser ultrapassados”.

“Cabo Verde age de maneira autónoma da comunidade internacional e segue os esforços de paz e estabilidade. O papel de Cabo Verde vai ser o de facilitar o diálogo”, reforçou José Brito.

“Por sua própria admissão, no dia 1 de Abril, o major-general António Indjai ordenou o sequestro e detenção do primeiro-ministro democraticamente eleito e do chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, o qual foi legalmente nomeado”, salientou na altura o governo norte-americano, acrescentando que, “além disso, Indjai ameaçou a vida do primeiro-ministro, bem como a dos corajosos cidadãos guineenses que se manifestaram contra a ilegal detenção”.

Pois foi. Mas, na verdade, António Indjai lá continua de armas e bagagens, cantando e rindo.

Em 2010 também Portugal deu uns palpites sobre a situação. “Nós depositamos neste momento grande confiança no acompanhamento da situação guineense que está a ser feito no âmbito da CEDEAO, da CPLP, da UE e das Nações Unidas. Consideramos que a comunidade internacional, em particular através destas instituições e organizações, podem dar um contributo da maior importância para fortalecer aquelas que são frágeis instituições constitucionais do país”, disse Cavaco Silva.

Uma das traduções destas afirmações diz que Cavaco Silva entende que António Indjai não deveria ser o chefe militar. O presidente português deixa, contudo, uma ambiguidade típica que lhe permite, um dia destes, receber em Lisboa o novo líder militar guineense. E se dúvidas existirem, poderá sempre dizer que nunca ninguém o ouviu dizer que era contra...

Havendo, como disse Cavaco Silva, “grande convergência de pontos de vista”, porque carga de água o presidente português não falou na interferência dos militares nas questões políticas?

Cá para mim, Portugal continua a estar sempre do lado de quem está no poder, independentemente de serem ditadores civis ou militares. Sempre assim foi desde as independências das ex-colónias e, pelos vistos, sempre assim será.

Portugal continua a desempenhar o papel que mais lhe agrada, como seja o de meter o rabinho entre as pernas, cantando e rindo na vertiginosa aproximação aos países mais desenvolvidos do norte de... África.

Na sequência da nomeação de António Indjai, os EUA anunciaram que iam apoiar a reforma do sector de defesa e segurança e a União Europeia disse que ia rever os acordos de cooperação com a Guiné-Bissau. Viu-se.

1 comentário:

Anónimo disse...

ALERTA: REFÉNS DA CEDEAO:

Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior, deixaram de ser detidos dos militares da Guiné Bissau, para passarem a reféns da CEDEAO em Abidjan, com todas as maipulações que isso significa!!!