O dono (pelo
menos assim se julga) da comunicação social em Portugal resolveu meter ao
barulho os seus amigos da chamada Entidade Reguladora da Comunicação Social
(ERC).
Por outras
palavras, Miguel Relvas, ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares que
também dirige a pasta da comunicação social, quer pôr a ERC a dizer que ele não
pressionou a jornalista do Público.
Quer e vai
conseguir, diga-se desde já.
Basta ver como
se processou a sua mais recente formação. Carlos Magno, super-comentador,
evolutivo político em ascensão meteórica para a direita, foi cooptado como quinto elemento para a ERC.
Segundo
Raquel Alexandra, um dos membros do organismo dito re(gula)dor, a decisão de
cooptar Carlos Magno foi tomada por unanimidade de entre os quatro membros
pertencentes à nova ERC.
Ou seja,
estes membros da nova ERC limitaram-se a, livre e conscientemente, escolher o
nome já escolhido e divulgado pelo PSD e pelo PS. Melhor exemplo de democracia
não se encontraria, nem mesmo no Burkina Faso.
Rui Gomes,
Luísa Roseira, Arons de Carvalho e Raquel Alexandra foram nomeados pelo
Parlamento, a 14 de Outubro do ano passado, como os novos membros da ERC,
ficando então por decidir (isto é como quem diz!) o quinto elemento que seria
escolhido por cooptação.
Como prova
de que Portugal (não) é um Estado de Direito, registe-se que a decisão de quem iria
presidir aos destinos da ERC, ou seja, Carlos Magno, só poderá ser tomada depois da nomeação de Carlos
Magno sair publicada em Diário da República.
De acordo
com uma coisa irrelevante e apenas formal, a Lei, o presidente da ERC deve ser
cooptado pelos quatro elementos a designar pelo Parlamento. Apesar disso, PS e
PSD não perderam tempo. Consumaram a escolha e os paspalhos designados pela
Assembleia da República assinaram por baixo.
Faltou
saber, o que é manifestamente irrelevante, se assinaram ou se apenas colocaram
a impressão digital…
Todo este
processo, que certamente até envergonharia Salazar, comprova que os dois
partidos que gerem o monopólio da regulação não só se estão nas tintas para uma
Lei da República como, embora de forma bem paga, escolheram belas marionetas para dar forma ao circo.
A lei da
Entidade Reguladora (uma coisa que como a própria ERC só existe para escravo
ver) até não é má. O problema está nos donos do poder que a transformam no que
bem entendem, contando - como é óbvio - com o beneplácito inerente a um povo
que, para além de faminto, deixou de ser erecto.
Que se trata
de uma, mais uma, uma entre muitas,
negociata despudorada pelo controlo partidário da Regulação da
Comunicação Social não restam dúvidas.
Quando o
Sindicato dos Jornalistas desafiou no dia 7 de Outubro de 2011 os quatro
propostos pelos partidos a não aceitar a indigitação se não tivessem garantias
de que a escolha do quinto elemento resultaria exclusivamente da sua própria
iniciativa e da sua vontade, nos termos que a Lei estabelece, fartei-me de rir.
É que, na
verdade, a ERC é uma entidade cuja única missão real é ajudar a fingir que
Portugal é um Estado de Direito. Dá uma no cravo e outra na ferradura, não… nem
sai de cima, empata para manter o estado das coisa.
E assim
sendo, não age mas reage, não quer saber o que se passa com os jornalistas, mas
preocupa-se (reconheça-se) com os donos dos jornalistas e com os donos dos
donos dos jornalistas.
Como é
natural, quando é chamada a dizer de sua justiça mostra quanto impoluta é a sua
tarefa, a bem de qualquer coisa, pode – com certeza – ser da nação, sempre no
estrito cumprimento não da verdade mas do que – mesmo sendo mentira - o Poder diz que é a verdade.
Foi por
isso, por exemplo, que arquivou o processo sobre alegadas pressões políticas e
económico-financeiras aos meios de comunicação social, denunciadas pelo
director do jornal Sol. Razões? Não terem ficado provadas as denúncias feitas.
"Considera
o conselho regulador da ERC que, ponderados os depoimentos prestados perante a
ERC e tudo o que foi possível apurar-se na documentação junta ao processo, não
ficaram provadas as pressões políticas e económico-financeiras denunciadas pelo
director do jornal Sol", referiu na altura e a entidade.
Sendo regra
no reino que nada se prove, mas que tudo se transforme, a ERC não poderia fugir
aos ditames. Não sei, aliás, se até no Burkina Faso os jornais ou jornalistas
recebem documentos com assinatura reconhecida a dizer “isto é uma pressão
política e económico-financeira”, ou “isto é uma escuta ilegal”
É que se não
recebem nunca poderão provar. De resto, os jornalistas em Portugal são
despedidos à medida e por medida, os directores (tal como a própria ERC) são
seleccionados pela mesma regra, a publicidade é direccionada consoante o “bom”
ou “mau” comportamento da Imprensa... mas nada disso é passível de ser provado.
A 26 de
Novembro de 2009, a ERC anunciou a abertura de um processo de averiguações
relativo a alegadas interferências do Governo em alguns órgãos de comunicação
social, nomeadamente no Sol, denunciadas pelo director daquele título, José
António Saraiva, à revista Sábado.
"Uma
pessoa do círculo próximo do primeiro-ministro e que conhecia muito bem a
situação do jornal e a relação com o banco BCP disse-nos que os nossos
problemas ficariam resolvidos se não publicássemos a segunda notícia do
Freeport", disse José António Saraiva citado pela revista.
No mesmo
artigo, a Sábado adiantava ter havido discriminação por parte do Governo e
organismos públicos na distribuição de publicidade institucional a jornais
nacionais.
Ouvido em
Dezembro pela ERC, o director reiterou a denúncia adiantando que foram feitas
"tentativas de 'chantagem' sobre a sua direcção editorial e de
'estrangulamento' económico-financeiro", com o objectivo de condicionar a
linha editorial do Sol ou mesmo de extinguir o jornal.
Todos os que
não são imbecis porque procuram saber o que se passa à sua volta sabem que, de
facto, o que José António Saraiva afirmou acontece, sobretudo naqueles poucos
meios que ainda não aceitam ser criados, mesmo que de luxo, do poder.
Mas não
basta saber. Até mesmo quando a Polícia grava conversas sabe que, dependendo
dos escutados, a verdade de hoje pode ser mentira amanhã. O pilha-galinhas sabe
sempre que é o culpado de tudo. No entanto, se for dono do aviário pode ficar
descansado que nada lhe acontece.
"Falei
[à ERC] das pressões que foram exercidas sobre a direcção do Sol por pessoas
próximas do primeiro-ministro para não publicarmos notícias sobre o caso
Freeport", contou José António Lima, director adjunto, depois da sua audição.
No entanto,
a ERC considera do alta da sua divina sabedoria ser impossível provar as
acusações, já que a origem de uma das alegadas pressões políticas "não foi
identificada por escusa do jornalista" e a outra "não foi confirmada
por flagrante contradição dos declarantes".
Por outro
lado, refere o organismo, "não ficou provado que a mudança na
administração do grupo BCP, ocorrida em Fevereiro de 2008, tivesse alterado a
conduta e a estratégia da BCP Capital (...), não podendo, por conseguinte,
dar-se como confirmada a existência de pressões de natureza política do BCP
sobre o semanário Sol".
Aliás,
segundo José António Saraiva, foi da boca de José Sócrates que ouviu a
afirmação de que “a melhor forma de controlar a imprensa é controlar os
patrões”.
Há já uns
anos, o então secretário-geral da ONU defendeu uma tese que se tornou suicida
no caso português. Kofi Annan disse que os jornalistas “deveriam ser agentes da
mudança”.
Eles
tentaram, o que aliás sempre fizerem, mudar a sociedade para melhor. Acontece
que o seu conceito de sociedade melhor não é igual ao dos donos do reino. E a
resposta não se fez esperar: Jornalista bom é jornalista desempregado.
Mas isso
nada importa desde que o país (ou seja, o PSD e o PS) tenham a sua própria ERC.
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