Mesmo antes da votação de 31 de Agosto já Eduardo dos
Santos definiu a amplitude da vitória do MPLA. O resto é só para compor o
ramalhete.
O secretário do Bureau Político do MPLA para a
Informação, Rui Falcão Pinto de Andrade, disse ao jornalista Peter Wonacott
("The Wall Street Journal") que "o fantasma da fraude, ou de
qualquer outra coisa, advém daqueles que sabem, antecipadamente, que não têm
capacidade para ganhar as eleições".
No dia 31 de Agosto ver-se-á, na minha opinião, que
ele tem razão. E tem não porque a Oposição, nomeadamente a UNITA, não tenha
capacidade para ganhar, mas porque o MPLA tem uma máquina capaz de impedir que
ela ganhe.
Falemos então das eleições em Angola. Se os oitenta e
tal por cento conseguidos nas anteriores não chegaram para o MPLA se lembrar
dos angolanos, creio que é bom que o povo lhe dê no dia 31 de Agosto aí uns
110%.
110%? Sim, claro. E ninguém irá protestar. Aliás,
muitos dos discursos de felicitações pela vitória do MPLA, paridos nos
areópagos da política internacional, nomeadamente em Lisboa, já devem estar
escritos.
Todos se recordam, embora poucos se atrevam a dizê-lo,
que o Presidente angolano, não eleito e há 32 anos no poder, José Eduardo dos
Santos, disse no dia 6 de Outubro de... 2008 que o Governo ia aplicar mais de
cinco mil milhões de dólares num programa de habitação que incluía a construção
de um milhão de casas.
A construção de um milhão de casas para as classes
menos favorecidas de Angola e jovens foi, aliás, uma das promessas da então
campanha eleitoral mais enfatizadas pelo Presidente da República de Angola e do
MPLA, partido que governa o país desde 1975.
José Eduardo dos Santos admitia, modesto como é, que
"não seria um exercício fácil", tendo em conta que o preço médio
destas casas, então calculado em cerca de 50 mil dólares. Apesar de tudo, com a
legitimidade eleitoral de quem só não passou os 100% de votos porque não quis,
assegurou que "já se estava a trabalhar" nesse sentido. Foi em 2008.
"O objectivo dessa estratégia é proporcionar
melhor habitação para todos, progressivamente, num ambiente cada vez mais
saudável", disse Eduardo dos Santos. Não sei se ainda alguém se recorda
disso... Mas se não se recorda, vai agora voltar a ouvir a mesma história.
Como disse o vice-presidente da Assembleia Nacional,
João Lourenço, no dia 11 de Fevereiro deste ano, a vitória eleitoral do MPLA
permitirá dar continuidade à execução dos programas concebidos pelo partido,
sobretudo na área social.
Tem toda a razão. Só assim será possível dar
continuidade ao programa que mantém perto de 70% de angolanos a viver na
miséria; em que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo,
com 250 mortes por cada 1.000 crianças; em que só 38% da população tem acesso a
água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico; em que apenas um quarto
da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são
de fraca qualidade; em que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos
postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das
instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
“Se os eleitores nos derem essa oportunidade,
poderemos concluir com o nosso trabalho e pensamos que esta é a posição mais
justa”, disse o ex-secretário-geral do MPLA, quando falava à imprensa no
término da IV sessão ordinária do Comité Central do partido.
Tanta modéstia até é comovente. João Lourenço sabe bem
que, com extrema facilidade, o MPLA só não terá uma vitória superior a 100% se
o não quiser.
Segundo João Lourenço, há muitos países do mundo que
depois de uma guerra destruidora de cerca de 40 anos conseguiram, em pouco
tempo, realizar as acções feitas em Angola, sobretudo na área social e na
reparação de infraestruturas.
Guerra de 40 anos? Sim, claro! Provavelmente 40 anos
(ou até mais) em que nada se construiu e o pouco que havia foi destruído. Todos
sabem, aliás, que quando o poder foi entregue por Portugal numa bandeja de corrupção (que continua
a florescer) ao MPLA, Angola era um imenso deserto ou, aqui e acolá, um
amontoado de escombros.
Todos sabem que, a 11 de Novembro de 1975, Angola não
tinha estradas, hospitais, aeroportos, hotéis, fábricas, prédios etc. Não tinha
mesmo nada. Por isso, o que hoje existe é tudo obra do MPLA.
Na abertura dessa reunião, o presidente José
Eduardo dos Santos disse que o MPLA e a sua direcção não temem expor-se à
avaliação e ao veredicto em eleições periódicas, onde o confronto de ideias se
faça de maneira aberta, plural, honesta e civilizada, podendo cada um expressar
livremente as suas opiniões e anunciar os seus programas e ideais.
Eduardo dos Santos retirou estas frases dos
programas eleitorais de países democráticos, coisa que Angola não é. Mas isso
também não é relevante. Ou por outras palavras, Angola é nesta altura um raro
paradigma de democraticidade, a ponto de que até os mortos votam.
“E é por estarmos conscientes de que o programa do
nosso partido exprime a vontade do povo que partimos sempre para qualquer
disputa política com a certeza da vitória”, disse o presidente e dono do país.
E disse muito bem. Aliás, mesmo antes da votação já
Eduardo dos Santos definiu a amplitude da vitória do MPLA. O resto é só para
compor o ramalhete.
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