sábado, maio 26, 2012

E a procissão ainda não chegou ao adro


O presidente do grupo Impresa, Francisco Pinto Balsemão, disse hoje à Lusa que vai avançar com um processo judicial contra os autores do documento sobre o caso das secretas.

De acordo com a imprensa de hoje, o espião made in Portugal da era moderna, Jorge Silva Carvalho, mandou fazer um relatório sobre a vida privada do patrão da SIC, Expresso e outros.

Como Pinto Balsemão é o militante número um do PSD, para além de ser seu fundador, se calhar do relatório consta que terá saltado a cerca com alguma dirigente da Oposição. Com espiões deste nível tudo é possível, vale tudo até fazer “espionagem interpretativa”.

Segundo o Jornal de Notícias, “Jorge Silva Carvalho encomendou relatórios às secretas sobre pessoas cuja vida interessava à Ongoing. A investigação sobre Pinto Balsemão foi elaborada por um especialista ex-agente das secretas”.

E quando se trata de especialistas de fabrico português é preciso ter calma. É que eles são mesmo bons em meter água, em confundir a obra prima do mestre com a prima do mestre de obras.

Fazendo uso, com a devida vénia, da terminologia de Luís Menezes, um dos vice-presidentes do PSD, também ele especialista e experiente  catedrático (por parte do pai), diria que tudo isto é uma "chafurdice política".

“Tendo tomado conhecimento, através da comunicação social, do conteúdo do relatório sobre mim produzido, no qual são referenciadas dezenas de calúnias e falsidades - algumas das quais de mau gosto e grotescas - decidi proceder às diligências necessárias, junto dos meus advogados, no sentido de responsabilizar criminalmente os autores do documento”, disse Francisco Balsemão, numa declaração escrita à Lusa.

Balsemão, que também foi primeiro-ministro, disse estar surpreendido (já tem idade e experiência política, sobretudo partidária, para não se surpreender) e chocado com os “métodos, os princípios e as práticas adoptados por pessoas e empresas que desenvolvem as suas actividades livre e impunemente numa sociedade democrática”.

Balsemão parte de um erro crasso que o leva a conclusões que batem sempre ao lado. Faria sentido falar da impunidade que alguns gozam por a terem comprado se, de facto, vivesse numa sociedade democrática. Ora, comparar o Portugal de hoje com uma democracia ou com um Estado de Direito é mais ou menos como estar à espera que um embondeiro dê loengos.

Por isso, conclui Pinto Balsemão, “quase 40 anos depois da instalação da democracia em Portugal, é lamentável que se continuem a praticar este tipo de métodos 'pidescos' que julgávamos erradicados e que o sistema judicial devia rapidamente punir, condenar e abolir”.

É evidente que, com ou sem operações furacão, faces ocultas, BPN, submarinos, sobreiros, fundo ultramarino, “free port”, Camarate, Casa Pia etc. o sistema judicial vai prontamente condenar e punir os pilha-galinhas. Tudo o resto vai continuar na mesma.

De acordo com o diário, que cita um documento que consta do processo do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa de que resultou acusação contra Silva Carvalho, Nuno Vasconcellos (presidente da Ongoing) e João Luís por corrupção, “Paulo Félix, antigo quadro da Polícia Judiciária, ex-agente de ligação da Europol, ex-membro do SIS e antigo director da área da Presidência do Conselho de Ministros, entregou ao superespião” informação sobre Pinto Balsemão.

Mas, é claro, todos vão desmentir todos de modo que, depois de a poeira passar, tudo fique na mesma e os mesmos possam no calor da noite ir beber um copo às pérolas negras da praça lusitana.

Entretanto, como seria de esperar, Paulo Félix nega o seu envolvimento e admite avançar judicialmente: “Repudio totalmente a atribuição que me é feita sobre a autoria do chamado 'relatório sobre Pinto Balsemão' (...) e reservo-me o direito de reagir, a esta e outras notícias que têm surgido na imprensa a meu respeito, através de todos os meios legais ao meu alcance”.

Nem mais. Ninguém é culpado de coisa alguma. Cá para mim também este caso, salvo uma ou outra punição cosmética para a dona Maria (a mulher da limpeza), vai ficar em águas de bacalhau. Pelo cheiro, a água está putrefacta há muitos anos. Mas, apesar disso, há sempre alguns (ao que parece são muitos) para quem chafurdar na merda é mesmo uma questão de vida.

Sem comentários: