Muitos cuspiram
no prato que lhes deu tanta comida. Mas o que seria de esperar de tantos
analfabetos funcionais (sabem ler e escrever mas não lêem nem escrevem)?
António José
Seguro anunciou a intenção do PS de apresentar um projecto-lei na Assembleia da
República que garanta a transparência da titularidade dos grupos de imprensa,
como já acontece com as leis da rádio e televisão.
Das
intenções à realidade vai uma grande, uma enorme distância. E para além da
questão da titularidade ser uma mera forma de tapar o sol com uma peneira, é
certo que tudo vai ficar em águas (putrefactas) de bacalhau.
A ideia do
PS, de acordo com Seguro, é “atribuir à Entidade Reguladora da Comunicação
Social [ERC] competências para exigir e tornar pública informação sobre quem
detém participações relevantes nas empresas de comunicação social” e ainda
“criar mecanismos dissuasores do não cumprimento destas regras”.
O objectivo,
explicou ainda o líder socialista, “não é escolher, filtrar ou impedir quem é o
proprietário de um determinado órgão de comunicação social”. Pois. Por isso
existem os donos e, é claro, os donos dos donos… mesmo quando legalmente não
são donos.
O PS
considera que, “até há pouco mais de uma década, eram conhecidos os donos ou os
gestores dos maiores grupos de media, hoje, com a entrada em bolsa e com a
abertura ao capital estrangeiro em alguns destes grupos, já não é bem assim”.
Não é nada assim. Mas, apesar disso, é irrelevante saber quem é, no papel, o
dono.
Estou,
sinceramente, a gostar de ver este novela de cordel. Uma regra fundamental do
Jornalismo diz, ou dizia, que se o jornalistas não procura saber o que se passa
é um imbecil, e que se sabe o que se passa e se cala é um criminoso.
Os
jornalistas, ou similares, portugueses procuram saber o que se passa. E a
prová-lo está o facto de que muitos que eram socialistas desde nascença já
viraram o bico ao prego.
Logo que
pairou no ar a possibilidade de o sumo pontífice socialista ir de vela, começou
a corrida desses jornalistas, ou similares, para a direita, dizendo e jurando a
patas juntas que nunca foram socialistas, nem sequer simpatizantes de José Sócrates.
Vale a pena continuarmos atentos.
Creio que a
imprensa livre é de facto um pilar da democracia. O problema está quando, como
parece ser também um facto em Portugal, a democracia não existe, ou existe de
forma coxa e apenas formal.
Muito coxa,
embora os donos dos jornalistas e os donos dos donos digam o contrário. Recordem,
por exemplo, as mais impolutas figuras do anterior Governo lusitano, nesta como
em todas as outras matérias (José Sócrates e Augusto Santos Silva), e registem
o que dizem os actuais governantes, Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas.
José
Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo ao sector da comunicação
social que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato
de lentilhas, fazer com que os seus mercenários, chefes de posto ou sipaios,
titulares, ou não, de Carteira Profissional de Jornalista, fizessem da imprensa
o tapete do poder.
Saiu
Sócrates e entrou Passos Coelho. Resultado? Só mudaram as moscas. Algumas.
E foram
esses mercenários que logo afiaram as navalhas para apunhalar, pelas costas, o
“líder carismático” do PS. Ele caiu e logo apareceram os vermos a pontapear a
imagem de José Sócrates, negando a patas juntas e pela alma da santa mãe que
sempre foram contra ele.
José
Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo que conseguiu, sem grande
esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, transformar
jornalistas em criados de luxo do poder vigente. Sócrates foi à vida e a carneirada
jurou que se fez alguma coisa de errado foi por ter sido obrigada.
Em Portugal
José Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo que conseguiu, sem
grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, garantir que
esses criados regressarão mais tarde ou mais cedo para lugares de direcção, de
administração etc.. Jurou e cumpriu. Mas, até mesmo esses, logo apareceram a
dizer que estavam enganados e que Pedro Passos Coelho é que é bom.
José
Sócrates chegou tão cedo que deu carácter não só legal como nobre à
promiscuidade do jornalismo com a política (sobram os exemplos de
jornalistas-assessores e de assessores-jornalistas). Mudaram-se os donos, mudaram-se
as vontades. Tarefa, aliás, fácil para quem já nasceu sem coluna vertebral.
José
Sócrates chegou tão cedo que deu carácter não só legal como nobre ao facto de
que quem aceita ser enxovalhado pode a curto prazo – basta olhar para muitas
das Redacções - ser director ou administrador. Cumpriu. Mas até esses logo
foram preencher – ou apenas reactivar – a ficha do PSD.
Em Portugal,
José Sócrates chegou tão cedo que deu carácter não só legal como nobre ao facto
de o servilismo ser regra para bons empregos, garantindo que esses servos vão
estar depois a assessorar partidos, empresas ou políticos. E essa garantia
transitou incólume para Passos Coelho.
Pois é.
Muitos cuspiram no prato que lhes deu tanta comida. Mas o que seria de esperar
de tantos analfabetos funcionais (sabem ler e escrever mas não lêem nem
escrevem)?
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