O processo português
de bajulação ao regime angolano do “querido líder” Eduardo dos Santos continua
a alta velocidade. O MPLA está para Portugal como a troika está para o programa
de governo de Passos Coelho.
Não há membro
do governo português que se preze que não inclua Luanda no seu estratégico
roteiro. Portugal podia (se é que podia) viver sem Angola, mas não era a mesma
coisa.
O
levantamento da TVI, televisão que certamente ainda não reparou que o
presidente de Angola está no poder há 32 anos sem nunca ter sido eleito, é bem esclarecedor.
Ora vejamos.
O secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de
Almeida, esteve duas vezes na capital do reino, em Novembro e Março. Dos onze
ministros, só quatro não realizaram (ainda) visitas oficiais a Angola: Aguiar
Branco (Defesa), Paula Teixeira da Cruz (Justiça), Mota Soares (Solidariedade e
Segurança Social) e Paulo Macedo (Saúde).
Esta é,
aliás, uma grave lacuna no curriculum deste quatro ministros. E, além disso,
não faz sentido algum. Sobretudo porque a lagosta é de alta categoria e o povo
que come, quando come, farelo ou mandioca até está longe dos mais luxuosos
hotéis onde ficam os ilustres convidados.
Recorda a
TVI que os capitais angolanos (forma imprecisa de dizer que são capitais do clã
Eduardo dos Santos) estão na banca portuguesa (compra do BPN pelo BIC e
posições no BCP e no BPI), mas também em empresas como a Galp e a ZON e na
comunicação social (pelo menos – e que se saiba – no Sol).
Na quinta-feira,
o ministro angolano Manuel Vicente, ex-representante do rei na Sonangol - disse que o investimento directo em Portugal
deixou de ser uma prioridade, cabendo aos empresários privados “encontrarem
oportunidades”.
O aviso,
mais um, fez soar todos os alarmes no governo e na presidência. Cavaco Silva, também ele um ilustre sipaio ao serviço de sua
majestade D. Eduardo dos Santos, e Passos Coelho ficaram em pânico.
E é para,
entre outros salamaleques, tentar convencer o regime angolano que ser dono de
Portugal é fácil, barato e até pode dar milhões que hoje chegou a Luanda o
ministro Álvaro Santos Pereira.
Paulo Portas
foi ai beija-mão em Julho e abriu a picada para o acordo sobre as novas regras
dos vistos e, ao que parece, uma autoestrada para “doar” o BPN. Resultou bem.
Seguiu-se Miguel
Macedo, em Novembro. Sem nada de espectacular, sempre assinou acordos de cooperação
e de facilitação da circulação de cidadãos entre os dois países.
Chegou,
entretanto, a vez – também em Novembro – do sumo pontífice lisboeta (africanista
de Massamá), Pedro Passos Coelho. Acompanhado pelo secretário de Estado dos
Negócios Estrangeiros e da Cooperação, foi recebido pelo soba maior a quem
garantiu todas as facilidades nas privatizações da TAP, ANA, CTT e transportes.
Seguiu-se o
super-ministro Miguel Relvas, em Janeiro, que ofereceu aos seus colegas do
regime angolano acordos entre a Agência Lusa e o grupo Medianova e entre a RTP
e a TPA. Determinou, aliás, a feitura de um programa publicitário (mascarado de
informação) na RTP que ajudou a lavar a imagem do regime.
Para dar
continuidade à obra de submissão e bajulação ao regime, em Março foi a vez de Assunção
Cristas rumar em direcção à capital do reino. Mais uma vez deixou a garantia de
que a empresa Águas de Portugal só não será do clã Eduardo dos Santos se ele
não quiser. Rogou, contudo, para que queiram…
Ainda em
Março, lá foi Vítor Gaspar, acompanhado pela secretária de Estado do Tesouro e das Finanças
e o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Resultado? Para além das
lagostas e seus sucedâneos ficou a certeza de que Galp rima com MPLA.
Para mais
uns tantos acordos, com a mão estendida, foi também em Março que Nuno Crato
quis convencer Angola a ratificar o Acordo Ortográfico. Não convenceu. Aliás, ortografia
do regime angolano não é em português mas, isso sim, em dólares. Em Abril
Francisco José Viegas teve a mesma resposta.
Hoje foi a
vez (ele também é filho de Deus) de Álvaro Santos Pereira ir até Luanda. Na mão
direita leva assuntos relevantes, como energia, transportes e obras públicas.
Espera Portugal que na mão esquerda traga muitos dólares ou, pelo menos, a
garantia de que o reino de Eduardo dos Santos não vai esquecer a sua colónia
portuguesa (ou será protectorado?).
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