sexta-feira, maio 04, 2012

O esclavagismo em Portugal soma e segue


O sumo pontífice de Portugal, com funções delegadas, admitiu que "as reformas não se fazem de um dia para o outro", mas que o caminho a seguir é de "criar condições para conseguir manter com toda a firmeza as contas públicas controladas", a par de uma transformação estrutural da sociedade e da economia.

Por outras palavras, Pedro Passos Coelho confirma que ainda faltam algumas etapas para a completa institucionalização em Portugal do regime esclavagista. Ou seja, como ainda existem portugueses de segunda não completamente domesticados, urge continuar a operação de limpeza.

Fora desta operação ficam, como se sabe, os portugueses de primeira, de que são paradigmas: Cavaco Silva, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões, António Mexia, Faria de Oliveira ou Eduardo Catroga.

Passos Coelho falava hoje, em Cascais, na sessão de abertura da conferência da Cotec Portugal, sobre "O papel a Diáspora no desenvolvimento de Portugal", patrocinada pelo presidente da República, Cavaco Silva.

Cavaco Silva que só foi primeiro-ministro de 6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995, que venceu as eleições presidenciais de 22 de Janeiro de 2006 e foi reeleito a 23 de Janeiro de 2011 e que, por exemplo, só tem direito em termos vitalícios a 4.152 euros do Banco de Portugal, a 2.328 euros da Universidade Nova de Lisboa e a 2.876 euros de primeiro-ministro.

Na mesma  sessão, Cavaco Silva disse que o país "só poderá retomar uma trajectória de crescimento sustentável com uma sólida aposta no reforço dos factores de competitividade, na conquista de novos mercados e na melhoria do conhecimento da realidade portuguesa por parte do exterior".

Cavaco Silva  continua a mostrar que nunca tem dúvidas e que raramente se engana. Será com certeza por isso que, nas horas vagas, lê relê o prefácio do seu livro de discursos ("Roteiros VI"), no qual demonstrou que morde pela calada.

Os portugueses sabem que Cavaco Silva é um político cada vez mais forte… com os que são cada vez mais fracos.

Nesse prefácio, recorde-se, Cavaco deveria ter seguido o que o padre disse na sua cerimónia de casamento: Se há alguém contra que fale agora ou se cala para sempre. Com tiques quase hitlerianos, Cavaco Silva resolveu ajustar contas e servir gelada a sua vingança. Perdeu toda a autoridade moral que, admito, até pudesse ter. Mas isso também não o preocupa.

Como todos sabem, Cavaco é um lídimo defensor do diálogo, sobretudo quando está calado ou quando, em alternativa, fala para o espelho. Ele explica nesse prefácio que a ausência de diálogo com a oposição ditou “o destino” do Governo minoritário socialista, realçando ainda ter sido "impedido" de evitar o deflagrar da crise política de 2011.

Pobre presidente! Ele bem queria evitar a crise (a tal que até do ponto de vista pessoal o obriga a fazer contas para saber se pode ou não pagar as suas despesas), mas não o deixaram. Ele bem fez o diagnóstico, bem apontou a medicação. Mas não lhe passaram cartão. Viu o doente morrer, mas o que mais poderia o impoluto presidente fazer?

Cavaco sabe, contudo, que a melhor defesa é o ataque. Vai daí, examinou todas as brechas (e são tantas) do seu desempenho e resolveu tapá-las através da velhinha técnica de culpar os outros.

Não sei, mas se calhar até é verdade que a responsabilidade no caso das escutas ao então governo do PS, que tanto animaram os cérebros de Belém, era do próprio José Sócrates. Ao que parece, Sócrates conspirava contra si próprio só para chatear o impoluto presidente da República.

Mas, apesar de reconhecer que os seus avisos não foram ouvidos, Cavaco continua a querer que alguém o oiça e lhe atribua o mérito que até agora só encontra quando fala com o espelho.

Quase ao estilo de quem está numa fase da vida em que já só urina para os chinelos, Cavaco calcula que é inimputável e que mesmo sendo Presidente da República pode dizer o que bem lhe apetece, nomeadamente contra partidos e políticos que estão no activo.

Reconheçamos contudo que, afinal, Cavaco Silva sempre foi visto como um mero corta-fitas, qual Américo Tomás  da era moderna. Ele próprio o diz quando acusa José Sócrates de o não ter "previamente informado sobre o conteúdo ou sequer da existência do PEC IV" tendo por isso ficado "impedido de exercer a sua magistratura de influência com vista a evitar o deflagrar de uma crise política".

Lembra o perito dos peritos (refiro-me, obviamente, a Cavaco), que o pedido de demissão do então primeiro-ministro por falta de condições políticas, na sequência do chumbo do 'PEC IV' no Parlamento, e o facto de não existir "qualquer hipótese de constituir um Governo alternativo com o mínimo de solidez e consistência", com todos os partidos da oposição a rejeitarem "liminarmente" a possibilidade de integrarem um Executivo com o PS liderado por José Sócrates e os próprios socialistas a não manifestarem "interesse genuíno na formação de um Governo de coligação".

Cavaco esquece-se, como é timbre das crises temporárias e devidamente programadas e que têm como suporte científico os estudos do neurologista alemão Aloysius Alzheimer, que no seu incendiário discurso de vitória das últimas eleições colocou o PS abaixo do lixo, dando ao seu partido tudo que ele precisava para facturar sobre a crise política.

Todos os portugueses que têm memória (eu sei que são cada vez menos) se recordam que a 9 de Março de 2011 Cavaco Silva disse cobras e lagartos do governo, facto aproveitado pelo Bloco de Esquerda para avançar no dia seguinte com uma moção de censura.

Seja qual for a razão, a verdade é que Cavaco Silva quer, sempre quis, mostrar que é um puro sangue de macho latino, mas na verdade não… nem sai de cima.

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