Nas eleições
anteriores a afluência em alguns círculos ultrapassou os 100%. Em Agosto o MPLA vai com certeza querer bater
o seu próprio recorde.
Portugal em
particular e a Europa em geral já estão a fazer um relatório sobre as eleições
de 31 de Agosto em Angola. Tudo porque o mesmo terá de ser aprovado pelo MPLA,
obviamente antes da data que o consagrará como vencedor total e inequívoco.
No âmbito do
meu “jornalismo interpretativo” creio que da parte portuguesa o responsável
será o ministro Miguel Relvas, tanto mais que – a fazer fé nas palavras sábias
de Carlos Magno, presidente da ERC – nem de gravata precisa de mudar.
Acresce que
se Portugal não estiver do lado da verdade do regime, o que só por si constitui
um crime contra a segurança do Estado, a torneira dos dólares pide fechar-se. E
isso seria uma chatice.
Como
contributo para esse relatório, recordo que, por exemplo, que o então
presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), Caetano de Sousa, considerou
que as observações feitas pela União
Europeia em relação às eleições legislativas de 2008 eram extemporâneas.
E eram extemporâneas apenas porque, segundo ele, não
foram divulgadas logo após o pleito de 5 de Setembro.
Não esteve
mal e poderá ser um precedente útil, ou um aviso, para quem este ano ousar
meter-se com um regime que está no poder desde 1975 e tem um presidente, não
eleito, há 32 anos no poder.
Em
declarações à Voz da América, Caetano de Sousa considerou na altura que as
posições expressas no relatório final da Missão de Observação da União Europeia
não deviam sequer ser feitas nesta altura.
Eu digo
mais. Nem nesta altura nem nunca. Aliás, a União Europeia nem sequer deveria
ter mandado uma missão de observadores ao mais democrático e transparente
Estado de Direito do mundo, Angola.
É que para
fazerem figuras de urso ou de palhaço, os observadores europeus bem poderiam
continuar a actuar em exclusivo no circo europeu. Que, ao menos, tenha servido
de lição para 2012.
O relatório
então apresentado em Luanda pela chefe da Missão de Observação da União
Europeia, Luísa Morgantini, denunciou falhas, irregularidades, fraudes e
quejandos no desempenho da CNE no que toca à imparcialidade na tomada de
decisões, assim como na garantia de transparência durante o acto eleitoral.
“Para nós não
nos oferece comentários se não os que já foram feitos anteriormente. O
relatório já está fora de prazo, isto devia ser apresentado logo a seguir à
finalização e apresentação do escrutínio. Os comentários posteriores a isto já
não os comentamos, porquanto achamos ultrapassados”, explicou Caetano de Sousa,
certamente num improviso decorado a partir da ordem do soba maior.
Mas para a
Missão de Observação da União Europeia foi muito bem feito. Ousaram, embora
timidamente, “cuspir” no prato em que o MPLA lhes deu comida e por isso foram
tratados como não se tratam os vira latas. Só por isso valeu a pena Caetano de
Sousa reproduzir as ordens do dono do reino.
Recorde-se
que o relatório referia-se a um leque de anomalias registadas durante a
votação, desde a notória falta de acesso dos representantes dos partidos
políticos ao centro de apuramento central, à não acreditação de um número
significativo de observadores domésticos do maior grupo de observadores na
capital.
Interessante
foi ver que, mesmo obrigados a comer e a calar, os observadores europeus não
deixarem de verificar que, por exemplo, uma província “apresentou uma
participação eleitoral de 108%” e que “não foram utilizados os cadernos
eleitorais para a verificação dos eleitores no dia das eleições e como tal, não
houve mais salvaguarda contra os votos múltiplos além da tinta indelével, e
nenhum meio para confirmar as inesperadamente elevadas taxas de participação
eleitoral”.
Mas como só
o disseram dias depois… são umas verdades que não contam porque passou o prazo
de validade.
A Missão de
Observação da União Europeia dizia ainda que “houve falta de transparência no
apuramento dos resultados eleitorais”, “que não foi autorizada a presença de
representantes dos partidos políticos nem de observadores para testemunhar a
introdução dos resultados no sistema informático nacional e não foi realizado
um apuramento manual em separado”, para além de “não terem sido publicados os
resultados desagregados por mesa de voto e como tal não foi possível a
verificação dos resultados”.
Também Ana
Gomes, eurodeputada socialista
portuguesa que integrou a missão da União Europeia, disse que eram “legítimas
as dúvidas que foram levantadas por partidos políticos e organizações da
sociedade civil sobre a votação em Luanda”, ou que “posso apenas dizer que a
desorganização foi bem organizada”.
Mas Ana
Gomes foi mais longe: “À última da hora, foram credenciados 500 observadores por
organizações que se sabe serem muito próximas do MPLA e parece que alguém não
quis que as eleições fossem observadas por pessoas independentes”.
Ou, “as
eleições em Luanda decorreram sem a presença de cadernos eleitorais nas
assembleias de voto e isso não pode ser apenas desorganização...”
Enfim. Como
são verdades que não contam porque passou o prazo de validade, o melhor é fazer
já um relatório sobre as eleições de 2012 e mandá-lo, a tempo e horas, para ser
aprovado pelo MPLA.
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