O Governo
português, liderado por Pedro Miguel Passos Relvas Coelho, que assumiu funções
em Junho de 2011, nomeou até Janeiro deste ano apenas meia dúzia de pessoas.
Acredito que
nessa meia dúzia não houvesse lugar para mim. Mas estranhei porque nesse
período foram os tais seis mais mil seiscentas e oitenta e tal.
É preciso
ter um galo dos diabos. Nunca mais chega a minha vez. E eu até tenho curriculum
suficiente para estar integrado na impoluta casta que dirige o reino. Depois de
ter estado filiado no PS, inscrevi-me no PSD, no CDS/PP, no PCC (Partido
Comunista Chinês) e na Maçonaria… mas nada!
Aliás,
correspondendo às indicações para emigrar de Pedro Martins, secretário de
Estado do Emprego, corroboradas pelo sumo pontífice do PSD, até me filei no
MPLA. Não sei, sinceramente, o que mais poderei fazer.
Embora
sabendo que o governo português, na sua
ânsia e sofreguidão de instituir um regime esclavagista no reino lusitano,
deita mão a tudo, custe o que custar, quero fazer parte dessa casta superior,
nem que para tanto tenha de abdicar da coluna vertebral. Dizem-me, aliás, que
essa é condição sine qua non e que deve constar, com comprovativo médico, do
curriculum.
Vou até mais
longe. Proponho-me também abdicar dos tomates (que com a idade começam a ter
pouca utilidade) e frequentar um curso intensivo para começar a pensar pela
cabeça dos chefes.
Pedro
Martins, o secretário de Estado do Emprego que em matéria de… emprego se
especializou em trabalhar como professor catedrático de economia aplicada há
meia dúzia de anos (desde 2004 no Queen Mary College, Universidade de Londres),
sabe potes e potes do que se passa no seu país de acolhimento político.
Prova disso
é que vai resolver a crise de um milhão e duzentos mil desempregados com a
sábia fórmula, certamente baseada nos ensinamentos científicos conseguidos nas
mais prestigiadas universidades, de liberalização dos despedimentos, enterrando
ou cremando a "regra" que, apenas supostamente, protegia os
trabalhadores mais antigos sempre que ocorrem processos de rescisão por
extinção do posto de trabalho.
Apesar de
ter andado muito tempo a queimar as pestanas lá por fora, Pedro Silva Martins,
sabe que em Portugal para se ser despedido é só preciso pensar pela própria
cabeça, ter coluna vertebral e não ter cartão do partido.
Sei que os
que usam a cabeça certa e têm coluna vertebral são, regra geral, os
trabalhadores mais velhos, mais antigos. E é por isso que os donos dos postos
de trabalho, quase sempre gente alérgica ao trabalho e que herdou as empresas,
não gosta deles. Essa é quase sempre a razão principal.
Pedro
Martins diz, do alto dos seus trinta e tal anos de... vida e certamente baseado
na experiência dos outros, que, no caso do "despedimento individual com
fundamento em motivos objectivos" existem dois grandes problemas que o
Governo pretende resolver.
"Por um
lado, a operacionalidade do despedimento por extinção do posto de
trabalho" é posta em causa pois "vigora actualmente a regra last in,
first out [o último a entrar na empresa deve ser o primeiro a sair], por força
da qual o empregador deve seleccionar os trabalhadores que serão atingidos pelo
despedimento de acordo com a sua antiguidade", explicou.
Para o
secretário de Estado que, mais uma vez, olha para a lei mas esquece a
realidade, que consegue olhar para o umbigo esteja em que posição estiver (privilégio
dos que não têm coluna), isto está errado pois protege trabalhadores mais
antigos que nem sempre são os "melhores" e fragiliza quem tem um
vínculo recente, mesmo que seja muito competente.
É verdade
que os mais antigos nem sempre são os melhores. Tal como é verdade que nem
sempre os mais novos são mais competentes. No país de acolhimento governativo
de Pedro Martins, a "competência" é directamente proporcional à
subserviência e à filiação partidária. Mas disso não se fala.
"Esta
regra contraria os objectivos do próprio despedimento por extinção do posto de
trabalho, assente por via de regra numa situação de dificuldades económicas da
empresa, na qual é conveniente que os trabalhadores que não são despedidos
sejam aqueles que dão o seu melhor contributo à viabilidade da empresa",
disse com aquele ar de quem é perito dos peritos.
Por dizer
ficou, como convém, que muitos empresários privados ou públicos, tal como
governantes, preferem ser assassinados pelo elogio do que salvos pela crítica;
que entre um génio e um néscio com o cartão do partido que governa, escolhem
sempre o… néscio.
E néscios é
coisa que não falta do reino lusitano que, por obra e graça do seu sumo
pontífice, tende a estar cada vez mais a sul de Marrocos.
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