Diz a Lusa
que o porta-voz do Comando Militar responsável pelo golpe de Estado de Abril na
Guiné-Bissau acusou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal,
Paulo Portas, de fazer acusações levianas e de Portugal ter "uma
interferência nociva" no país.
Disse e tem
razão. É que, mais uma vez, Portugal (que não os portugueses) demonstrou que
tem memória curta ou – em alternativa – cataloga os guineenses como matumbos de
uma subespécie quase humana.
"Que
fique bem claro, Paulo Portas está a servir o café da manhã e o jantar à noite
a quem é o maior responsável pelo tráfico de droga", disse Daba Na Walna
(foto), em conferência de imprensa, respondendo ao ministro português dos
Negócios Estrangeiros que, na passada quinta-feira, disse em Lisboa que a
questão do narcotráfico também era a chave do golpe de Estado de 12 de Abril.
É que,
justificou Daba Na Walna, "a empresa responsável pela segurança das
bagagens no aeroporto de Bissau não é do general António Indjai, não é do
tenente-coronel Daba Na Walna, não é de ninguém que pertença ao Comando. O dono
da empresa tem um nome e é quem está lá" (em Portugal).
Daba Na Walna
nunca acusou directamente o primeiro-ministro deposto, mas quando questionado
pelos jornalistas sobre se o dono da empresa era Carlos Gomes Júnior ou
Raimundo Pereira (Presidente interino até ao golpe de Estado), disse:
"Raimundo Pereira surge como parente pobre nesta história toda".
"O
Comando Militar não é um bando de traficantes de droga, isso é falso. Aliás,
essa tem sido a política portuguesa relativamente à Guiné. Qualquer
acontecimento que tem lugar aqui na Guiné é tráfico de droga. Mas porque é que
Portugal tem esta posição de hostilidade, tanto, contra a Guiné? Isso é
terrível", disse, acrescentando que "acusações levianas não são
próprias de um senhor como Paulo Portas", que se devia "coibir".
E acrescentou:
"é chegada a altura de Portugal deixar de fazer política de costas viradas
para com a Guiné-Bissau. Encarar a Guiné-Bissau de frente e convivermos como
irmãos".
Daba Na Walna
questionou depois quantos quilos de droga foram apreendidos durante o tempo em que
Carlos Gomes Júnior foi primeiro-ministro e falou de um desembarque de droga
que terá ocorrido em finais do ano passado na estrada que liga Bissau a Bafatá,
quando uma avioneta aterrou na estrada, que foi encerrada para o efeito.
"Aquilo
que foi feito na estrada de Bissau a Bafatá não é obra de um militar isolado, é
obra de quem tem poderes no governo, que manda isolar norte-sul-leste sem que
nada aconteça, sem que a polícia investigue", disse.
Além de Daba
Na Walna, também o general António Indjai, chefe do Estado Maior General das
Forças Armadas, tinha criticado no último sábado a posição de Portugal sobre o
golpe de Estado, acusando o Governo de Lisboa de querer que a crise no país
dure indefinidamente porque tem interesses que quer salvaguardar a qualquer
custo.
Carlos Gomes
Júnior, disse também, está "a soldo" do Governo português, que quer
"colonizar a Guiné-Bissau".
Indjai deve
de ter "as suas razões", disse Daba na Walna, que não partilha da
ideia de um novo colonialismo, ainda que admita que há "interferência
nociva da parte do Governo português relativamente à Guiné-Bissau" e que
há de Portugal, pelo menos ao nível político, uma "certa hostilidade
relativamente à Guiné-Bissau".
"Os
acontecimentos de dia 12 podiam ter sido mediados de outra forma, chegar-se a
uma solução que desse outra cara à CPLP”, referiu o porta-voz.
“Se a CPLP
(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) se tivesse dignado em mandar pelo
menos um representante ou um embaixador, para vir saber o que estava a
acontecer, como fez a CEDEAO. Em vez disso, organizou-se uma reunião em
Portugal e foram para as Nações Unidas. Acho que isso foi mau, demonstra falta
de boa vontade da parte portuguesa relativamente à Guiné-Bissau", disse.
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