sábado, maio 19, 2012

O português já deu o que tinha a dar


Mudam-se os tempos e mudam-se as vontades. Se até se muda, ou se abdica, da coluna vertebral… pouco resta. Mesmo assim… Cavaco Silva está em Timor-Leste onde participará nas cerimónias do X Aniversário da Independência.

Quando em Fevereiro de 1999 entrevistei Xanana Gusmão, à pergunta “que papel fica reservado para Portugal?” respondeu: “Um papel importante. Portugal é importante, como sempre o foi. Acreditamos que, mais uma vez, Portugal vai ajudar os timorenses a encontrar o caminho certo. Por isso, nunca é demais agradecer a ajuda de Portugal e dos portugueses. Esperamos que nesta hora difícil e crítica para a nossa Pátria, os portugueses continuem a ajudar-nos”.

A prova de que Xanana Gusmão está grato a Portugal é agora visível, ainda mais visível, no facto de o Governo timorense, por ele liderado, querer eliminar a Língua Portuguesa do sistema de ensino básico em Timor-Leste.

Por razões eleitorais ou outras, a verdade é que a manutenção do português como língua oficial do país volta a ser questionada, admitindo-se mesmo que deixe de o ser.  A questão não é consensual mas, na verdade, o simples facto de haver quem questione o uso do português é só por si paradigmático.

Tanto quanto se sabe, Xanana Gusmão e Kirsty Gusmão, Embaixadora da Boa Vontade para a Educação e esposa do Primeiro-Ministro, têm sido os principais promotores da ideia que poderá estar no centro do debate político das próximas eleições. Compreende-se. Xanana que agora come, e bem, noutros pratos, já não se importa de cuspir naquele que o alimentou durante muitos anos.

Para Xanana Gusmão pouco ou nada interessa que esta vertente da cooperação absorva grande parte do esforço orçamental que Portugal reserva para Timor-Leste, principal destinatário da cooperação portuguesa no seio da CPLP.

E sendo a CPLP uma Comunidade dos Países de diversas Línguas,  entre as quais a Portuguesa, não admira que enquanto Timor-Leste quer abandonar o português, outros queiram entrar, mesmo que pensem da nossa Pátria comum (a língua) seja igual a zero. São disso exemplos, Austrália, Indonésia, Luxemburgo, Suazilândia, Guiné-Equatorial e Ucrânia.

Domingos Simões Pereira, secretário executivo da organização supostamente lusófona, precisou que a Suazilândia e a Ucrânia já formalizaram o pedido de adesão como membros associados, enquanto dos restantes países, o Luxemburgo solicitou um “convite especial”.

Nada como a CPLP estar preocupada, por exemplo, em ajudar os cidadãos ucranianos e esquecer – como tem feito até agora – os guineenses. É, aliás, simpático dar sapatos aos filhos do vizinho enquanto os nossos andam descalços...

“Mas quando nós começamos a receber esta atenção e este nível de interesse por parte de países que ‘à priori’ não pareceria terem afinidades, interesses tão óbvios, isso deve alertar-nos para aquilo que a CPLP pode significar, para aquilo que pode representar”, acrescentou.

E pelo que a CPLP parece representar, seria mais aconselhável mudar o nome para Comunidade dos Países de Língua Petrolífera. Esquecia-se a língua portuguesa, que é coisa de somenos importância, e apostava-se forte naquilo que faz mover os areópagos da política internacional: o petróleo.

Aliás, mesmo sem perguntar a Xanana Gusmão, todos sabem que a Indonésia é um daqueles países a quem a lusofonia tudo deve, mormente Timor-Leste.

Por alguma razão Jacarta proibiu, enquanto foi dona de Timor-Leste, aquilo que agora é desejo de Xanana Gusmão, ou seja, o uso da língua portuguesa.

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