Embora a
ideia já tivesse sido manifestada a 14 de Janeiro do ano passado, Ramos-Horta reiterou em Março desse ano que Timor-Leste queria ajudar Portugal, não o fazendo por
filantropia mas numa perspectiva de um bom negócio.
O então
presidente dever ter-se esquecido de dar continuidade ao assunto. Agora, o
sucessor de Ramos-Horta, Taur Matan Ruak, esclareceu que o assunto nunca foi
discutido. Chatice.
Ninguém se
lembrou de perguntar a Ramos-Horta se tinha estado a gozar com a chipala dos
portugueses. Aliás, nem isso era importante. Desde 2005 o dinheiro do petróleo
já fez entrar mais de dez mil milhões de dólares nos cofres do Estado
timorense. Já que não dão de comer a quem em Timor-Leste tem fome (e são muitos
milhares) bem poderiam dar uma mãozinha aos irmãos portugueses que também estão
de barriga vazia.
Ao contrário
do que se dizia há cerca de um ano, Timor-Leste pode, mas pelos vistos não quer, ajudar a resolver grande parte das
necessidades de financiamento de Portugal. Até mesmo a sacerdotal ideia de Ramos-Horta
de ser criada uma aliança com Angola e o
Brasil para compra de dívida soberana portuguesa, a juros mais baixos, teve
seguidores.
A proposta
de Ramos-Horta era, aliás, muito simples: uma venda directa da dívida
portuguesa ao Brasil, Angola e Timor, com taxas de juro abaixo das que têm
estado a ser praticadas. Na altura manifestei o meu cepticismo quanto ao
interesse do Brasil, mas acreditei que dentro da sua estratégia de compra de
Portugal, a retalho ou por atacado, Angola estaria disponível para pôr alguma
coisa na mão dos portugueses que andam de cócoras e de mão estendida.
No caso de
Angola não se poderá falar das instituições financeiras mas, é claro, do clã
Eduardo dos Santos. Mas, do ponto de vista português, o que importa não é quem
é o dono do dinheiro mas, isso sim, o dinheiro.
“O que eu
proponho seria uma medida conjunta, mas a novidade aqui é que nós compraríamos
abaixo o juro que os mercados impõem a Portugal. Poderíamos dizer: estamos a
ajudar Portugal, mas estamos a ajudar-nos a nós próprios e estamos a moralizar
e a impor um pouco de controlo nos meios financeiros do mercado,” afirmou Ramos-Horta,
mostrando – dizia ele - como é possível ganhar... ajudando.
Para Timor
pode ser, como continua a ser, um bom negócio, seja por diversificar o mercado,
seja por conseguir melhores dividendos do que os que são pagos pelos fundos
norte-americanos, onde os timorenses têm 90% do seu fundo do petróleo
investido.
“Mau negócio
é o nosso investimento no juro americano que é menos de 3%: mais inflação e
mais depreciação do dólar. Estávamos a perder dinheiro”, explicava em Janeiro
de 2011 Ramos-Horta.
Mas já nessa
altura, apesar da boa intenção de Timor, não se tinha a certeza se a medicação
chegaria a tempo de salvar o doente (Portugal). É que a actual lei sobre o
fundo petrolífero obrigava a que pelo menos 90% dos proveitos do petróleo sejam
investidos em títulos do tesouro norte-americanos.
Seja como
for, quando Taur Matan Ruak for substituído na Presidência, o seu sucessor
voltará a dizer que o assunto nunca foi discutido.
Portugal
também continuará pouco preocupado com isso. É que não será Cavaco Silva, nem
os seus actuais vassalos de Passos Coelho, a pagar a factura. Essa terá de ser
paga por aqueles que nada tiveram a ver com a dívida e que, se calhar, serão os
últimos a fechar a porta (se ainda existir porta) e a apagar a luz (se não
tiver sido cortada).
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