Ao dizer,
como fez hoje em Chaves, que o combate à corrupção é uma questão de vida ou de
morte para Portugal, Paulo Morais está a dizer, embora de forma suave, que
Portugal já morreu.
Para o representante
em Portugal da Transparência Internacional, uma organização sediada em Berlim e
presente em mais de cem países, "em Portugal a actividade política não só
não tem combatido a corrupção, como a tem incentivado", salientou, à
margem da conferência "Criminalidade no exercício de funções
públicas".
Em termos de
indicadores internacionais de corrupção, segundo Paulo Morais, professor da
Universidade Lusófona, o país desceu dez lugares, o que quer dizer que esta actividade
"se está a alargar por todo o regime".
"A
política transformou-se numa mega central de negócio e grande parte da
atividade política está organizada por forma a favorecer a corrupção",
frisou.
O modelo,
defendeu, tem que mudar sob pena de o país deixar de ter desenvolvimento.
"Não há países corruptos desenvolvidos, nem países desenvolvidos
corruptos", sustentou Paulo Morais.
"A
legislação portuguesa favorece a corrupção. A legislação que tem a ver com
grandes negócios tem muitas regras, para ninguém perceber o que se pretende,
com muitas excepções para favorecer os amigos, e confere um poder
discricionário a quem aplica a lei, que é, em si, fonte de corrupção”,
salientou, explicando que relativamente à transparência não pode assistir-se a
situações como a de se ter "na administração de grandes empresas, que
fazem negócios com o Estado, membros dos maiores partidos".
Ainda esta
semana, acrescentou Paulo Morais, foi criada uma comissão parlamentar para
inquérito às Parcerias Público Privadas (PPP). e, mesmo essa comissão, é
constituída por deputados do PS, do PSD ou CDS, que "estão ligados ao sector
imobiliário, onde estão envolvidas as empresas que estão nas PPP
rodoviárias".
E quanto à
crise que afecta o país, Paulo Morais referiu que uma parte significativa da
dívida pública se deve precisamente à corrupção e que 70% da dívida privada se
deve "à especulação imobiliária", porque "muitos terrenos foram
ilegitimamente valorizados".
"O
Estado português gasta milhões de euros por ano em juros da dívida pública que
são pagos muito acima do seu valor para beneficiar o sector bancário ou as PPP
que são pagas muito acima do seu valor para beneficiar os parceiros",
frisou Paulo Morais.
Sempre que
Paulo Morais diz estas verdades, e tem-no feito com assiduidade relevante, interrogo-me
se não terá sido por pensar como pensa e, sobretudo, por não ter medo de dizer o
que pensa, que no dia 7 de Junho de 2011, foi “despedido” de colunista do
Jornal de Notícias.
“O JN
necessita de voltar a ter um grande foco nas razões de proximidade que fizeram
dele mais que um jornal, o sítio onde as pessoas encontravam refúgio e ganhavam
voz para os grandes desafios e trabalheiras do quotidiano”, escreveu o director
do JN na carta (modelo único para todos os colaboradores mandados à vida) a Paulo
Morais, acrescentando: “há uma nova aposta que vale a pena ser vivida em nome
de um jornalismo e de um jornal mais próximo das nossas gentes sem deixar de
olhar todos os horizontes”.
Creio que
falar de corrupção, tema de eleição de Paulo Morais, não é de facto um factor
de proximidade. Ou é demasiado de proximidade. Seja como for, o resultado foi o
mesmo.
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