Estou de
acordo com o primeiro-ministro de Portugal. Já era tempo. Passos Coelho apelou
hoje aos portugueses para que adoptem uma "cultura de risco" e
considerou que o desemprego não tem de ser encarado como negativo e pode ser
"uma oportunidade para mudar de vida".
De facto, os
cerca de um milhão e duzentos mil desempregados têm de ver a sua situação como “uma
oportunidade para mudar de vida”. Adoptando uma “cultura de risco” poderão, por
exemplo, enfiar um balázio na mona do primeiro-ministro. Com isso não só
mudariam de vida como ajudariam os outros desempregados a livrar-se de alguém
que em vez de ser uma solução para o problema é um problema para a solução.
Durante a
tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e a Inovação, no Centro
Cultural de Belém, em Lisboa, Pedro Passos Coelho lamentou que "a cultura
média" em Portugal seja a "da aversão ao risco" e que os jovens
licenciados portugueses prefiram, na sua maioria, "ser trabalhadores por
conta de outrem do que empreendedores".
Ora aí está.
Vejam, sintam e ampliem o exemplo de Passos Coelho que não tem “aversão ao
risco” (sobretudo depois de ter mentido descaradamente para ganhar as eleições)
e aproveitou “a oportunidade para mudar de vida”, mesmo sendo à custa da
implantação da escravatura no seu reino.
Ser
empreendedor até é algo fácil, barato e que dá milhões. Basta para tanto ser filiado
no PSD, ter-se formado na Universidade do PSD, ser amigo dos dirigentes do PSD,
não ter coluna vertebral e estar sempre de acordo com os sipaios, mas sobretudo
com o chefe de posto do partido.
Numa
intervenção de cerca de vinte minutos, o primeiro-ministro defendeu que
"essa cultura tem de ser alterada" e substituída por "um maior
dinamismo e uma cultura de risco e de maior responsabilidade, seja nos jovens,
seja na população em geral".
Ora aí está.
É isso mesmo. Em termos de “população em geral” há cerca de 20% de portugueses
que passam fome. Se fizerem o que Passos Coelho recomenda, alguns resolvem o
problema do primeiro-ministro e o deles. Poderão ir para a cadeia. Mas se
forem, terão sempre direito a uma cama e a comida, coisa que no país real
começa a ser um raro privilégio.
Passos
Coelho referiu-se em especial aos portugueses que estão sem emprego:
"Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em
Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um
estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de
representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria
sociedade".
Creio,
aliás, que o governo está mesmo a pensar dar um prémio chorudo (certamente depositado
via Dias Loureiro num qualquer off-shore) aos empresários que maior contributo
derem em matéria de despedimentos.
"No
curto prazo, no meio da crise em que estamos, claro que é preferível ter
trabalho, mesmo precário, do que não ter, claro que é preferível trabalhar mais
do que não trabalhar, vender mais barato do que não vender", mas "o
modelo para o futuro tem de ser o de acrescentar valor", reforçou o sumo
pontífice do reino.
Mas então em
que é que ficamos? Não será preferível ser empreendedor (não sabe como, mas…)
do que ter um trabalho precário?
Cá para mim,
o melhor exemplo de empreendedorismo, “de cultura de risco”, de "oportunidade
para mudar de vida", é mesmo apostar
na política do olho por olho, dente por dente.
Sem comentários:
Enviar um comentário