sexta-feira, maio 11, 2012

Estou de acordo com Passos Coelho!

Estou de acordo com o primeiro-ministro de Portugal. Já era tempo. Passos Coelho apelou hoje aos portugueses para que adoptem uma "cultura de risco" e considerou que o desemprego não tem de ser encarado como negativo e pode ser "uma oportunidade para mudar de vida".

De facto, os cerca de um milhão e duzentos mil desempregados têm de ver a sua situação como “uma oportunidade para mudar de vida”. Adoptando uma “cultura de risco” poderão, por exemplo, enfiar um balázio na mona do primeiro-ministro. Com isso não só mudariam de vida como ajudariam os outros desempregados a livrar-se de alguém que em vez de ser uma solução para o problema é um problema para a solução.

Durante a tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e a Inovação, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Pedro Passos Coelho lamentou que "a cultura média" em Portugal seja a "da aversão ao risco" e que os jovens licenciados portugueses prefiram, na sua maioria, "ser trabalhadores por conta de outrem do que empreendedores".

Ora aí está. Vejam, sintam e ampliem o exemplo de Passos Coelho que não tem “aversão ao risco” (sobretudo depois de ter mentido descaradamente para ganhar as eleições) e aproveitou “a oportunidade para mudar de vida”, mesmo sendo à custa da implantação da escravatura no seu reino.

Ser empreendedor até é algo fácil, barato e que dá milhões. Basta para tanto ser filiado no PSD, ter-se formado na Universidade do PSD, ser amigo dos dirigentes do PSD, não ter coluna vertebral e estar sempre de acordo com os sipaios, mas sobretudo com o chefe de posto do partido.

Numa intervenção de cerca de vinte minutos, o primeiro-ministro defendeu que "essa cultura tem de ser alterada" e substituída por "um maior dinamismo e uma cultura de risco e de maior responsabilidade, seja nos jovens, seja na população em geral".

Ora aí está. É isso mesmo. Em termos de “população em geral” há cerca de 20% de portugueses que passam fome. Se fizerem o que Passos Coelho recomenda, alguns resolvem o problema do primeiro-ministro e o deles. Poderão ir para a cadeia. Mas se forem, terão sempre direito a uma cama e a comida, coisa que no país real começa a ser um raro privilégio.

Passos Coelho referiu-se em especial aos portugueses que estão sem emprego: "Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade".

Creio, aliás, que o governo está mesmo a pensar dar um prémio chorudo (certamente depositado via Dias Loureiro num qualquer off-shore) aos empresários que maior contributo derem em matéria de despedimentos.

"No curto prazo, no meio da crise em que estamos, claro que é preferível ter trabalho, mesmo precário, do que não ter, claro que é preferível trabalhar mais do que não trabalhar, vender mais barato do que não vender", mas "o modelo para o futuro tem de ser o de acrescentar valor", reforçou o sumo pontífice do reino.

Mas então em que é que ficamos? Não será preferível ser empreendedor (não sabe como, mas…) do que ter um trabalho precário?

Cá para mim, o melhor exemplo de empreendedorismo, “de cultura de risco”, de "oportunidade para mudar de vida", é  mesmo apostar na política do olho por olho, dente por dente. 

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