O
vice-presidente da bancada do PSD, António Rodrigues, considerou hoje que a
proposta de ruptura do acordo com a 'troika', defendida pelo fundador do PS,
Mário Soares, é "um exagero" e só serve para "incendiar a
estabilidade" do país.
Ainda bem
que a reacção do PSD não ficou a cargo de um outro vice, o experiente e
catedrático (por parte do pai) Luís Menezes, que certamente denominaria a
posição de Mário Soares como "chafurdice política".
"Os
mercados precisam de calma, precisam de estabilidade, não precisam de quem
agora apareça, por nenhuma razão justificável, a sustentar que se renuncie ao
memorando com a 'troika'", disse à Lusa António Rodrigues.
Para o
vice-presidente do PSD, a posição apontada por Mário Soares é "imprudente"
e "manifestamente um exagero" e só vai servir para "incendiar ao
nível político aquilo que é a instabilidade que existe em termos
económicos".
O antigo
presidente da República Mário Soares defendeu, recorde-se, em entrevista ao
jornal i, que o caminho certo para o PS e para o socialismo europeu é cortar
com o programa da 'troika' constituída pelo Banco Central Europeu, o FMI e a
Comissão Europeia.
"Acho
que é esse o caminho. A austeridade, tal como a definem, não tem sentido",
afirma Mário Soares, considerando que a obrigação já foi assumida há um ano,
mas que "chegou ao fim".
A proposta
do antigo presidente não é, no entender de António Rodrigues, séria e constitui
um excesso relativamente aquilo que se passa no país.
"Não
há, em termos políticos, instabilidade que possa conduzir a uma afirmação
dessas", concluiu o deputado social-democrata.
De facto,
apesar de ter chovido no reino nos últimos dias, essa de querer incendiar o
país não tem piada. Aliás, só teria cabimento se fosse ordenada pela troika. Aí
sim!
Seja como
for, a pobreza, essa coisa que escapa ao entendimento dos super-especialistas
do governo português, continua a aumentar. Mas a solução é simples, segundo os
chefe do António Rodrigues: vivam sem comer, morram sem ficar doentes.
O número de
novos pedidos de ajuda que chegam às Instituições Particulares de Solidariedade
Social, Misericórdias ou Cáritas continua a aumentar e a pobreza deixou de ser
só entre os mais idosos: afecta também mais novos e empregados.
É claro que,
como diz o PSD, a culpa é sempre dos outros. Crê-se até que a culpa – segunda a
troika – é mesmo de D. Afonso Henriques.
Como diz o presidente da Câmara de Gaia,
conselheiro de Estado, ex-presidente do PSD e putativo candidato à Câmara do
Porto, o seu partido deve deixar-se de "pruridos" e lembrar aos
portugueses que o esforço pedido é a "factura a pagar" pela
"incompetência dos governos socialistas".
Houve tempo
em que Luís Menezes (o pai) dizia que a culpa era dos “sulistas e elitistas”.
Agora parece que o odioso é todo dos socialistas, mesmo que sejam nortistas e
popularuchos.
Certo é que
a culpa nunca é, nunca foi nem nunca será da malta do PSD. Só falta dizer
que Portugal se revê (e penso que Luís
Menezes – filho – já pensou nisso) em Deus no céu e em Passos Coelho na
terra. É, aliás, muito mais fácil não
assumir as responsabilidades, catapultando toda a culpa para uma qualquer
pesada herança, socialista, salazarista ou comunista.
Mas voltemos
ao mundo daqueles, que não é o mesmo dos
Menezes ou de Passos Coelho, que olham para os pratos vazios.
Os
responsáveis da Cáritas, Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade
(CNIS) e União das Misericórdias concordam que não é possível quantificar os
novos pedidos de ajuda que continuam a chegar, mas têm a certeza que são cada
vez mais.
"O que
sabemos é que continuam a aumentar os novos pedidos e há Cáritas que já estão
com impossibilidade de atender em tempo útil a todos os casos que vão sendo
registados", garantia – note-se – em Setembro do ano passado o presidente
da instituição pertencente à Conferência Episcopal para a dinamização da acção
social da igreja, Eugénio Fonseca.
Já o
presidente da União das Misericórdias, Manuel Lemos, garantia na mesma altura que os números
quadruplicaram nos últimos dois anos: "À União das Misericórdias chegam
por dia quatro a cinco pedidos de pessoas empregadas: ou estão com salários em
atraso ou há um membro da família desempregado e não conseguem fazer face às
despesas do agregado familiar".
"A
razão de fundo é o desemprego, mas estão a aparecer pessoas que já estiveram
nos atendimentos da Cáritas, passaram a beneficiar de algum subsídio do Estado,
nomeadamente Rendimento Social de Inserção [RSI], e agora face aos cortes
resultantes das medidas de austeridade, e nomeadamente à reformulação das
regras do RSI, deixaram de ter direito a essa medida ou viram reduzidos os
montantes", explicou o presidente da Cáritas.
Manuel Lemos
acrescentou que a novidade está no facto de haver cada vez mais pedidos que vêm
de pessoas empregadas: “Estamos a falar de pobreza com emprego, o que em termos
absolutos não é uma novidade, mas é uma novidade em termos de expressão".
"O retrato
da pobreza alterou-se porque agora temos bastante gente em idade activa, que se
viu no desemprego ou com familiares no desemprego, com dívidas acumuladas e sem
capacidade para as pagar. Vemos muita gente assim a ser atirada para a pobreza,
que estava um bocado localizada nos mais idosos", apontou Lino Maia.
Se o
desemprego é uma causa directa, Manuel Lemos também responsabiliza
"algumas políticas públicas cegas", enquanto Eugénio Fonseca lembra
que "está provado que se não fossem as transferências sociais, os abonos
de família, o RSI, o complemento solidário para idosos, haveria cerca de 43% da
população em risco de pobreza".
“Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que
mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos. Queremos transferir
parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado.
Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS
de modo a desonerar a classe média e baixa”, dizia em Março de 2010 alguém que,
nessa altura, se chamava Pedro Passos Coelho.
E esse mesmo
alguém, acrescentava que, "se formos Governo, posso garantir que não será
necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema
português”, não se inibindo de afirmar: "Já ouvi o primeiro-ministro dizer
que o PSD quer acabar com o 13º mês, mas nós nunca falámos disso e é um
disparate."
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