As doações,
em Portugal, ao Banco Alimentar registaram um aumento de 18% no primeiro dia da campanha nacional de
recolha, revelou a presidente deste organização, Isabel Jonet.
"É
extraordinário e um sinal de coesão e de grande generosidade", disse
Isabel Jonet, acrescentando que "é talvez por causa da crise que as
pessoas aumentaram as doações”.
De facto, os
portugueses são um povo nobre em muitas coisas. Uns, a esmagadora maioria,
solidários genuínos com todos aqueles que necessitam. Mesmo que com
dificuldades dão de comer a quem tem fome.
Os outros,
os poucos que têm milhões, continuam a sua árdua tarefa para conseguir mais
milhões, pouco de preocupando com os que passam fome.
No dia 6 de
Novembro do ano passado, ou sei que já foi há muito tempo, o Presidente da
República, Cavaco Silva, disse que tinha "grande esperança" que o
espírito de solidariedade dos portugueses permitisse "demonstrar à Europa
e às instituições internacionais" que o país "é capaz de ultrapassar
as dificuldades", considerando que "os próximos tempos podem ser
insuportáveis".
Se ele diz…
é mesmo assim, mesmo considerando que ele nada tem a ver com o estado do país.
Recém-chegado à vida das ocidentais praias lusitanas, Cavaco Silva aponta o
rumo, mesmo não estando ao leme.
Se calhar há
quem pense que Cavaco Silva é co-responsável pelo afundanço do país. Mas não é.
Ele só foi primeiro-ministro de 6 de
Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995, e só venceu as eleições presidenciais
de 22 de Janeiro de 2006 e só foi reeleito a 23 de Janeiro de 2011. Coisa
pouca, portanto.
Cavaco
Silva apelou (e apelos é com certeza uma
das principais prerrogativas constitucionais do presidente no âmbito da sua
magistratura de influência) ao "esforço de todos" e acrescentou que
são extensas, eventualmente gregas, as dificuldades que esperam os portugueses.
"Os
próximos tempos podem ser insuportáveis para alguns dos nossos concidadãos, em
especial os reformados (aqui estava pensar nele) e os desempregados",
disse o Presidente da República, muito preocupado (segundo o “jornalismo
interpretativo” dos que o ouviram) com os "filhos de casais
desempregados".
Embora como
homem do leme a sua função, ao que parece, se limite a constatar o óbvio, fica
sempre bem ter uma palavra para um milhão e duzentos mil desempregados, para 20% de escravos que vivem na miséria e, ainda,
para outros 20% que ainda acreditam ser possível viver sem comer.
Cavaco Silva
referiu nessa altura as situações que resultam da perda do emprego, da quebra
de rendimentos das famílias e da emergência de novos pobres, tendo feito uma
referência explicita à
"insuficiência alimentar" de alguns portugueses, sublinhando
que contava com o empenho do poder do local e das Instituições Particulares de
Solidariedade Social (IPSS) para contornar as dificuldades.
“Insuficiência
alimentar” revela uma desconhecida faceta de Cavaco Silva, a poesia. Dizer a
quem passa fome que apenas padece de "insuficiência alimentar" é,
digamos, uma poética forma de juntar à barriga vazia dos portugueses um
atestado, em papel timbrado da Presidência da República, de menoridade ou
estupidez.
"Tenho
grande esperança no espírito solidário dos portugueses e na acção das câmaras
municipais, que estão a ser chamadas a dar resposta a situações que resultam do
desemprego, da queda do rendimento das famílias, da emergência de novos pobres
e da acção das IPSS. Com esse espírito de solidariedade havemos de mostrar à
Europa e às instituições internacionais que somos capazes de ultrapassar os
nosso problemas", notou Cavaco Silva.
Tem razão.
Consta, aliás, que Cavaco Silva (que em termos vitalícios só tem direito a
4.152 euros do Banco de Portugal, a 2.328 euros da Universidade Nova de Lisboa
e a 2.876 euros de primeiro-ministro) terá até decido que, por solidariedade
com os que sofrem de “Insuficiência alimentar”, toda a sua equipa vai passar a
fazer greve de fome… entre as refeições.
Por
deficiência congénita e ancestral, os portugueses são de uma forma geral um
povo de brandos costumes que, quase sempre, defendem a tese de que “quanto mais
me bates mais gosto de ti”.
Mesmo agora
que está esquelético como resultado da “insuficiência alimentar”, continuam a
achar que o seu fado é serem cidadãos de segunda que tudo devem fazer para
agradar aos seus donos.
Talvez um
dia acordem com a barriga de tal modo vazia a ponto de mostrem que estão
fartos. Não sei se isso acontecerá. Mas
que, pelo menos em tese, os portugueses também têm direito à Primavera, isso
têm.
É certo que
em Portugal aumenta o número dos que pensam que a crise (da maioria, de quase sempre
os mesmo) só se revolve ou a tiro ou elegendo um ditador. Até os militares
sonham, embora em silêncio e com as paredes do cérebro insonorizadas, que essa
é uma alternativa.
Mesmo que
assim seja, se calhar os responsáveis pela tragédia (como é o caso, entre
outros, entre muitos outros) de Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho e
Paulo Portas, vão continuar a ter pelo menos três boas refeições por dia e
chorudas pensões vitalícias.
Seja como
for, começa mesmo a ser altura de os portugueses porem os seus políticos a pão
e água ou, talvez, a farelo. Seria, aliás, uma boa forma de melhorar a
“insuficiência alimentar”.
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