O Conselho Deontológico (CD) do Sindicato dos
Jornalistas portugueses está preocupado com a sucessão de casos que “indiciam o
recurso a pressões sobre jornalistas, tendentes a condicionar o exercício da
liberdade de expressão e a autonomia e independência dos profissionais da
comunicação social”.
Tanto quanto sei, seja isto “jornalismo
interpretativo” ou outra coisa qualquer, a situação não é nova e atravessa toda
a democracia(?) portuguesa, embora mais visível nos últimos anos.
Em comunicado divulgado hoje, 28 de Maio (nem de propósito!), o CD reporta-se –
certamente por uma questão de actualidade e não por falta de memória - à
denúncia feita pelo Conselho de Redacção do jornal “Público” de “alegadas
pressões exercidas pelo ministro Miguel Relvas”, bem como a apresentada pelo
Conselho de Redacção da RTP-Açores contra a “atitude intempestiva do secretário
Regional, José Contente, que interferiu no trabalho da jornalista que fazia a
cobertura noticiosa dos estragos causados pelo mau tempo na zona da Bretanha,
ilha de São Miguel”.
É o seguinte o texto, na íntegra, do comunicado do Conselho Deontológico:
É o seguinte o texto, na íntegra, do comunicado do Conselho Deontológico:
“O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas manifesta
preocupação pela sucessão de casos que indiciam o recurso a pressões sobre
jornalistas, tendentes a condicionar o exercício da liberdade de expressão e a
autonomia e independência dos profissionais da comunicação social.
Declarações e comentários produzidos a propósito dos casos mais recentes
permitem supor que algumas dessas práticas constituem instrumentos de
condicionamento continuado e utilizado de forma generalizada pelo poder
político e económico. Muitas dessas atitudes podem configurar situações de
assédio moral.
O Conselho Deontológico manifesta igual preocupação pelas acusações que atentam
contra a dignidade profissional dos jornalistas. Traduzem-se na criação da
percepção de que as relações dos jornalistas com as fontes de informação são
pautadas por conveniências políticas ou outras e, por troca de favores, em
clara violação de princípios éticos e deontológicos e da derrogação do seu
primado e aspiração à prestação de um serviço público.
O Conselho de Redacção do jornal Público denunciou alegadas pressões exercidas
pelo ministro Miguel Relvas, que se traduzem numa grosseira ameaça aos direitos
constitucionais dos jornalistas. A actuação denunciada pelo Conselho de
Redacção e confirmada pela direcção do jornal evidencia um comportamento
arrogante e uma falta de cultura democrática da maior gravidade. O ministro não
se limitou a enunciar pressões sobre o jornal, como ameaçou divulgar dados da
vida privada da jornalista que o interpelou.
Também o Conselho de Redacção da RTP-Açores denunciou a atitude intempestiva do
secretário Regional José Contente que interferiu no trabalho da jornalista que
fazia a cobertura noticiosa dos estragos causados pelo mau tempo na zona da
Bretanha, ilha de São Miguel. Permitiu-se coercitivamente agarrar a jornalista
pelo braço que segurava o microfone para impor as declarações que não lhe foram
solicitadas.
A exposição pública destes factos suscitou reacções díspares e contraditórias.
Em qualquer dos casos, os governantes cuja actuação foi denunciada pelos
Conselhos de Redacção negaram as práticas imputadas. A posição de Miguel Relvas
assumiu já diferentes cambiantes. A justificação mais mistificadora consiste na
sua assumpção do papel de vítima, ao ser, como o alega, pressionado pela
jornalista para responder a uma pergunta no prazo de 32 minutos. Além da
inconsistência argumentativa, confunde o ciclo da organização do trabalho com
uma pressão.
O Conselho Deontológico reprova as pressões e ameaças do ministro Miguel
Relvas, exercidas contra a jornalista do Público e o jornal, bem como a atitude
do secretário José Contente tomada contra a jornalista da RTP-Açores. Estas
atitudes são atentatórias da liberdade de expressão e de imprensa.
O Conselho Deontológico regozija-se pela decisão dos Conselhos de Redacção de
denunciarem as ofensas aos seus direitos, tal como estabelece o número 3 do
Código Deontológico do Jornalista. E reitera a necessidade de os jornalistas
reforçarem a sua organização nas redacções. Os Conselhos de Redacção constituem
um mecanismo fundamental para assegurar a qualidade do jornalismo e para
garantir o juízo ético-deontológico nas redacções.”
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