Ser jornalista está, pelo menos em Portugal, na moda. Pouco importa que o mercado não tenha capacidade para absorver todos aqueles que, por vontade própria ou pela conta bancária do pai, querem experimentar a profissão.
É complicado dizer isto porque, desde logo, grande parte dos professores(?) de jornalismo(?) são jornalistas(?). Se reconhecessem que o mercado está difícil teriam, creio, de abdicar da acumulação de vencimentos. Também aqui os princípios são muito bonitos mas (até porque os jornalistas – que não os chefes - ganham mal e porcamente) é preciso pagar ao merceeiro.
Mas, igualmente grave, é (em muitos casos) começar a casa pelo telhado. E é assim que começam muitos dos candidatos (diplomados) a jornalistas. Chegam às Redacções e não tardam a entrevistar o primeiro-ministro. Não sabem fazer uma notícia de um acidente rodoviário mas, com satisfação, podem incluir no curriculum a dita entrevista e, um dias destes, serem assessores do Governo.
E, por norma, é aqui que entram os assessores dos entrevistados, regra geral ex-jornalistas com a escola toda. E é destes «putos» que eles gostam, e é destes «putos» que os chefes gostam. É tão fácil «comê-los de cebolada», como querem os entrevistados e como pretendem os chefes (alguns, é óbvio).
Com alguma perspicácia o jovem jornalista nem precisa de se preocupar em preparar a entrevista. Para isso está lá o dito assessor. É claro que o produto final obedecerá a todas as regras jornalísticas. Só é pena que não seja jornalismo mas, quase sempre, uma peça de propaganda.
É igualmente claro que esta forma de comércio jornalístico tem êxito garantido. (Quase) todos ficam a ganhar. O entrevistado porque disse apenas o que queria. O órgão de comunicação social porque não fez ondas e porque, ainda, vai receber alguns anúncios de empresas que ficaram satisfeitas com o trabalho. O jornalista porque viu o seu trabalho elogiado por todos.
Quem perde? Desde logo o Jornalismo. E, com ele, os leitores, ouvintes ou telespectadores que comeram gato por lebre.
Mas será mesmo assim? Pergunta-se. Vejamos um exemplo. Se um administrador de uma sociedade de advogados receber uma cunha irrecusável (tipo «job for de boys») para admitir na empresa um jornalista, o que fará? Admite-o, claro! Faz dele um assessor de Imprensa ou um secretário. Nunca um advogado.
E se for um administrador de um jornal a receber a mesma cunha para um advogado? Admite-o, claro! Em pouco tempo faz dele um... jornalista.
Conclusão: Qualquer profissão dá acesso ao que hoje se chama de jornalismo.
1 comentário:
Não podia estar mais de acordo. Mas, como bem sabes, o problema não fica aqui concantonado. A publicidade é comandada pelos mesmos e na linha editorial são sempre os mesmos! O capital domina e estabelece as regras. As contas do merceeeiro são doutro ministério
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