O governo do Zimbabué anunciou hoje que procederá à detenção de qualquer jornalista ocidental que entre no país fazendo-se passar por turista para cobrir as eleições presidenciais, legislativas e locais de 29 de Março. É assim mesmo. E, numa parte significativa da lusofonia, ninguém tem autoridade moral para criticar. A diferença entre deixar entrar (ou estar) e não poder falar ou escrever e não deixar entrar (ou estar) é nula.
Em declarações publicadas pelo jornal "Sunday Mail", George Charamba, o secretário permanente do Ministério da Informação, disse que uma equipa composta por funcionários do seu Ministério, dos Negócios Estrangeiros e dos serviços secretos está a examinar individualmente os cerca de 300 pedidos de acreditação de jornalistas estrangeiros recebidos pelo governo e que nenhum jornalista ocidental receberá credenciais para trabalhar no país no período eleitoral.
Segundo Charamba, os "jornalistas ocidentais não serão autorizados a cobrir as eleições porque os governos dos seus países acreditam que apenas eleições ganhas pela oposição poderão ser consideradas livres e justas". Em Luanda já se pensa na adaptação desta teoria a Angola.
"Estamos atentos a tentativas dos governos hostis de transformar jornalistas em observadores ou de infiltrar observadores não autorizados e pessoal de segurança à sombra dos media ou organizações privadas, e iremos detê-los e expulsá-los", garantiu George Charamba ao jornal.
Robert Mugabe tem com certeza as suas razões. Actua de forma menos diplomática e urbana do que em alguns países ocidentais, mas o princípio é o mesmo. Impedir que se dê voz a quem a não tem.
A legitimidade dos três actos eleitorais realizados no Zimbabué desde o ano 2000, e que mantiveram no poder o presidente Robert Mugabe e o seu partido, a Zanu-PF, foi fortemente contestada pelos governos da União Europeia, dos Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e muitos outros países democráticos com base em irregularidades, repressão estatal, falta de transparência na contagem dos votos e intimidação dos eleitores, mas Mugabe e o seu regime mantêm, apesar das críticas e das sanções, as leis e os métodos repressivos em vigor.
Desde 2000 que as leis que regulamentam a actividade jornalística têm sido endurecidas, jornais independentes encerrados e limitadas as acreditações a jornalistas locais e estrangeiros.
George Charamba poderia fazer um estágio em Portugal para ver como é que se tem liberdade de Imprensa sem a ter, como é que alguns media “ajudam” o povo a comer e calar, como são livres para dizer tudo o que os donos do poder querem etc. etc.. E tudo isto sem impedir a entrada de jornalistas e sem reprimir os que sempre lá estiveram.
Na impossibilidade de um estágio nas ocidentais e socialistas praias lusitanas, George Charamba poderia solicitar a Lisboa que o maior especialista português na matéria, o ministro Augusto Santos Silva, fosse ao Zimbabué dar uns cursos acelerados.
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