O primeiro-ministro de Portugal relativizou hoje o número de professores (cem mil num universos de 143 mil) que se manifestaram sábado em Lisboa, contra as políticas educativas do Governo. Nada como ser pai, mãe e dono da verdade para ter todas as qualidades necessárias a um ditador da era moderna (moderna, é como quem diz!).
“O que me convence não é a força dos números, é a força da razão", afirmou José Sócrates quando confrontado pelos jornalistas com o número de professores que se juntaram em Lisboa contra o sistema de avaliação.
Depois de o ministro Augusto Santos Silva ter dito que os “professores não sabiam a diferença entre Salazar e a democracia”, Sócrates passa novo atestado de estupidez aos docentes, dizendo que não têm razão. Cem mil sem razão? Se o capataz do reino o diz…
Para o chefe do Governo (se é que um monte de ministros fazem um governo) e secretário-geral do PS, a ministra "está a fazer um trabalho muito importante, de mudança" na educação. Se está, não deveria começar por educar o próprio primeiro-ministro, ensinando-o a distinguir a estrada da Beira da beira da estrada?
Sócrates recusou a ideia de recuar no sistema de avaliação - uma das principais motivos de contestação dos professores - com o argumento de que é uma reforma em que acredita.
E se ele, como dono da verdade, acredita… o país que se lixe, não é senhor Presidente da República?
1 comentário:
Falando de Professores e avaliações...
Sou casado com uma Professora. Eu próprio já fui um dos tais Professores "empurrados" de escola para escola anualmente (só aguentei essa situação seis anos e depois fui-me embora). Sou pai e os meus filhos andaram sempre nas escolas públicas (tenho aversão aos colégios privados). Fui das Associações de Pais e procurei estar sempre nas reuniões de pais e nas actividades da escola. Em resumo, mais do que a Ministra ou do que o Primeiro Ministro que pelos vistos não cumpriram alguns destes itens sinto-me à vontade para discutir a "guerra" da gestão escolar e da avaliação.
1. A gestão escolar - Pôr um amigo a gerir a escola, com a ajuda dos pais (que se percebessem de gestão não estavam tão endividados como estão), e dos empresários da zona (o Zé do talho, o Quim da Tasca, que este governo teve de forçar a pagar impostos por conta, porque eles nunca os pagariam de outro modo) e acrescentar os alunos (os tais que não sabem matemática nem português) é uma ideia de genial para acabar com a escola.
2. A avaliação - perdi o meu tempo e resolvi tentar perceber o que era a proposta do Ministério.
Para além de outras maluquices reparem neste pormenor. Os Professores têm de ser avaliados em aula 3 vezes por ano. Numa escola que tenha 100 Professores isso dá 300 aulas. Como actualmente as aulas na sua maioria são de 90 minutos isso dará umas 4 aulas por dia ou seja 75 dias de avaliações em aula. Qualquer coisa como 3 meses e cinco dias de avaliação em aula. É óbvio que não será a mesma pessoa a fazê-lo, serão os coordenadores de departamento (que são nos agrupamentos escolares actuais 6) a arcar com essa tarefa. Ou seja na melhor das hipóteses cada coordenador vai gastar 15 dias de aulas a avaliar as aulas dos outros e entretanto os alunos dele não tem aulas. Mas não acaba por aí, o tal director da escola, também terá de fazer avaliação (que valerá 50% do total). Então também terá de assistir às aulas dos Professores, e fazer um levantamento da sua assiduidade, e um levantamento das notas que o mesmo Professor dá aos seus alunos, e verificar se os alunos mereceram essas notas, para além de o avaliar sobre outros aspectos (por exemplo se diz mal do governo, como aquela senhora (??) colocou na sua proposta de avaliação).
Perceberam como tudo isto é prático e exequível ?
Em resumo esta avaliação é obra de uns tótós que devem ser ter escrito muitos trabalhos universitários sobre o assunto e que nunca conseguiram dar uma aula no ensino básico. Só pode...
Finalmente um aspecto sobre a manifestação. O Senhor Primeiro deveria estar melhor informado. Se os 100 mil cidadãos, Professores e Pais, que estiveram lá não são relevantes, os constantes aplausos das pessoas que paradas nos passeios assistiam ao passar dos manifestantes, deveriam ser.
Mas o Senhor Primeiro Ministro tem razão os manifestantes não são relevantes... mas os Professores são Senhor Ministro, porque os ministros passam (até o Salazar demorou 48 anos a passar, mas passou) e os Professores ficam.
Se perguntar a qualquer português, todos nós nos lembramos de um ou outro Professor que mudou ou influenciou a nossa vida, o nosso carácter. Se perguntar a qualquer português, nenhum se lembrará de um ministro da educação ou até de um primeiro ministro que tenha influenciado o seu carácter.
A relevância têm-na quem a merece, e de certeza que não é o Primeiro Ministro ou a Ministra da Educação que a merecem.
João Marques
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