sábado, março 15, 2008

Monges radicalizam protestos
e China responde com violência

A capital do Tibete, Lhasa, vive os piores conflitos dos últimos 20 anos. Contra a opressão da China, e depois de alguns dias de protestos pacíficos, os monges budistas radicalizaram ontem, com o apoio da população, as formas de luta. Dos confrontos com a Polícia resultaram vários mortos, dezenas de feridos, estabelecimentos e carros incendiados e centenas de prisões. União Europeia, Estados Unidos da América (EUA) e Nações Unidas pediram moderação às autoridades de Pequim.

A onda de violência atingiu ontem o auge quando os tibetanos resolveram destruir tudo o que na capital revele influência chinesa. A resposta foi violenta, recorrendo a China (tal como fizera em outras ocasiões) ao uso de fogo letal como forma de tentar calar os protestos que, anteontem, Pequim garantia estarem "perfeitamente controlados".

O rastilho foi ateado, no início desta semana, quando os primeiros monges foram detidos por, segundo as autoridades chinesas, terem participado numa marcha evocativa dos 49 anos de um levantamento tibetano contra o domínio chinês desde 1951. Centenas de monges exigiram a libertação dos detidos, mas a Polícia respondeu com mais prisões e espancamentos.

Nos protestos de ontem, apesar do bloqueio à informação e à circulação de possoas imposto por Pequim, terão participado muitos populares, alguns gritando que é altura de o Tibete ser independente e não só, como reivindica o seu líder, Dalai Lama, um território autónomo.

Já na segunda-feira, o Dalai Lama, galardoado com o prémio Nobel da Paz em 1989, alertava o Mundo para as "enormes e inconcebíveis violações dos direitos humanos" no Tibete.

Recorde-se que um relatório do Departamento de Estado dos EUA, publicado esta semana, retira a China da lista dos países que mais violam os direitos humanos, embora afirme que Pequim tem agravado as restrições à liberdade religiosa dos budistas do Tibete e dos muçulmanos na região noroeste de Xinjiang.

A cinco meses dos Jogos Olímpicos, a China enfrenta uma crise que será difícil de resolver se quiser manter a sua ortodoxia política. Desde logo porque a causa tibetana é acarinhada pela comunidade internacional que, tal como os tibetanos, entendem que os Jogos podem ser um trunfo importante para levar Pequim a alterar a sua política.

"Os chineses devem entender que se conseguiram, em 2001, a autorização para sediar os Jogos, foi porque nessa época o Mundo falava da China em termos positivos", assegura Valérie Niquet, directora do Instituto Francês de Relações Internacionais.

Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)/Orlando Castro


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