O discurso estava escrito. Só foi necessário acrescentar o nome. O anterior foi o de “Nino” Vieira, o de agora foi Malam Bacai Sanhá. O Presidente português, Aníbal Cavaco Silva, felicitou hoje o novo Presidente da Guiné-Bissau.
"Tendo tomado conhecimento dos resultados das eleições presidenciais na República da Guiné-Bissau, é com satisfação que endereço a Vossa Excelência, em nome do Povo português e em meu próprio, as mais sinceras felicitações e votos de sucesso no desempenho das altas funções que, de forma tão expressiva, foi chamado a desempenhar, pelo Povo irmão da Guiné-Bissau", diz a mensagem enviada ao novo Presidente guineense.
Neste parágrafo até não foi necessário acrescentar nada. O Vossa Execelência que serviu para "Nino" dava também, se tivesse sido o caso, para Kumba Ialá.
Cavaco Silva ressaltou que "a forma como decorreram estas eleições constitui uma demonstração inequívoca do espírito cívico dos guineenses e do seu apego à democracia".
Cavaco sabe que não é bem assim. No entanto, as regras do politicamente correcto a isso obrigam. Civismo e democracia não se conjugam com a barriga vazia, mas esse é um problema dos outros...
"Estou seguro de que o mandato de Vossa Excelência será pautado pela defesa do processo de reforma e consolidação das instituições da Guiné-Bissau, que conta com o firme apoio de Portugal e que constitui uma condição indispensável para assegurar o futuro de paz e de desenvolvimento económico e social a que o Povo da Guiné-Bissau tem direito", escreveu ainda o Presidente português.
O Chefe de Estado português sublinhou também a importância que atribui "aos laços históricos de profunda amizade que unem os dois países e ao reforço continuado da cooperação entre Portugal e a Guiné-Bissau, quer no plano bilateral, quer no quadro multilateral, muito em particular no âmbito da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)".
Pois. Portugal não está (ou pelo menos não parece estar) interessado em ensinar os guineenses a pescar. Vai, no entanto, mandando para lá uns peixes. E, é claro, com isso vai dormindo descansado.
"Reiterando-lhe as minhas felicitações, peço-lhe que aceite os votos que formulo pelo bem-estar pessoal de Vossa Excelência assim como pela prosperidade e progresso do Povo irmão da Guiné-Bissau", finalizou o Presidente.
É isso aí. Votos de prosperidade e progresso de um Povo irmão que continua a ser gerado com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois... com fome (dois em cada três guineenses vivem na pobreza absoluta e uma em cada quatro crianças morre antes dos cinco anos de idade).
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