quinta-feira, julho 16, 2009

Despedir é fácil, barato e dá milhões

O administrador do jornal português Público, Pedro Nunes Pedro, disse hoje à Lusa acreditar que 90 por cento dos trabalhadores vão assinar até amanhã o acordo para redução dos salários, rejeitando, contudo, estar a ser feita qualquer pressão.

A pressão nunca existe. Nunca é feita. Nem é preciso. Não faltam exemplos. Basta olhar para a esquina mais próxima.

Eu também acredito. Estou em crer que até serão 100 por cento. É que para pior já basta assim. Recorde-se, a malta do Público sabe-o bem, que pelo menos 181 jornalistas só das redacções do Porto de vários órgãos de comunicação social perderam o emprego nos últimos cinco anos, 54 dos quais no despedimento colectivo do grupo Controlinveste.

"A vontade das pessoas mudou desde ontem [quarta-feira] e tenho a certeza que reuniremos assinaturas de 90 por cento de trabalhadores", avançou o responsável do Público à margem da assinatura da Declaração de Hamburgo para protecção dos direitos de autor.

A administração do jornal anunciou quarta-feira à redacção, através de e-mail, que a proposta de reduções salariais que tem sido rejeitada pelos jornalistas teria de ser aceite por 90 por cento dos trabalhadores até sexta-feira ao meio-dia sob pena de se recorrer a outros métodos que, segundo fontes do título, seriam o despedimento colectivo.

E como a coisa está negra, a Sonae pode dizer o que é habitual dizer-se nestas circunstâncias: "evolução acentuadamente negativa do mercado, profunda quebra de receitas".

Já agora, em honra de uma perdida (apesar de recente) memória, recorde-se que o esvaziamento das redacções do Porto, de vários órgãos de comunicação social, já vem acontecendo há algum tempo, acompanhado do encerramento de publicações sedeadas na cidade, como O Comércio do Porto.

Este jornal, que era o diário mais antigo do país, foi encerrado em Julho de 2005 pelo grupo que então o detinha, os espanhóis da Prensa Ibérica, que acabou também com A Capital, um dos mais prestigiados títulos de Lisboa.

No caso d' O Comércio do Porto perderam o emprego 50 jornalistas.

Dois anos antes, em 2003, a estação televisiva NTV, um canal regional do Porto criado em 2001 através de uma parceria entre a PT Multimédia e a RTP, dispensou também 25 dos 37 jornalistas contratados a termo certo, tendo acabado por desaparecer para dar origem à actual RTPN, que absorveu os restantes profissionais.

Também em 2003 a Lusomundo Media/PT encerrou a redacção do Porto da revista Notícias Magazine, despedindo os quatro jornalistas que a compunham.

Em 2006 foi a vez de o jornal Público iniciar um processo de rescisões que resultou na saída de 11 jornalistas no Porto (incluindo os correspondentes de Aveiro, Famalicão, Braga e Vila Real), enquanto o semanário Expresso dispensou, em Junho de 2007, dois jornalistas na redacção da cidade.

A estes juntaram-se, em Agosto de 2008, mais 32 jornalistas de outros dos mais antigos diários portugueses, o portuense O Primeiro de Janeiro, alvo de um processo de despedimento colectivo.

1 comentário:

brancoepreto disse...

É a vida...nas empresas privadas...como não se pode continuar a somar prejuizos é de elogiar esta preocupação de combater os despedimentos colectivos com medidas deste tipo, que o mantêm... os senhores jornalistas fariam um bom serviço ao País se relatassem estes casos e sensibilizssem os sindicatos da função publica para os privilegios que têm...
AC