"Traidor" e "mentiroso" foram alguns dos adjectivos com que o presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF) classificou hoje o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates (foto).
João Cordeiro acusou Sócrates de estar mais preocupado com interesses financeiros do que com a saúde dos doentes.
Num encontro com jornalistas em Lisboa, em que não houve lugar a perguntas, João Cordeiro desfiou um rol de críticas e acusações a José Sócrates, afirmando-se "traído" pelo primeiro-ministro.
"Sinto-me usado e traído na minha boa-fé e a isso não estou habituado", disse João Cordeiro.
As razões de tal "traição" devem-se, segundo o presidente da ANF, a o primeiro-ministro não ter respeitado "a palavra dada, nem o acordo que negociou com o sector" das farmácias.
O acordo é o Compromisso com a Saúde, firmado a 26 de Maio de 2006 por José Sócrates e João Cordeiro e que, segundo o presidente da ANF, foi negociado "directamente" entre os dois.
A assinatura deste Compromisso com a Saúde visou, entre outras medidas, a liberalização da propriedade das farmácias, medida contestada pela ANF, mas aceite por esta organização que terá recebido promessas de outras medidas favoráveis para o sector.
São essas medidas que alegadamente estão "por cumprir" e que merecem a crítica de João Cordeiro.
"O Senhor primeiro-Ministro prometeu às farmácias, publicamente, repor a margem de distribuição em vigor em 2005", mas, apesar disso, "agravou esta situação".
"Em vez de cumprir o acordo, integralmente e de boa-fé, o Governo serviu-se dele para uma agressão sistemática ao sector, traduzida na aplicação de todas as medidas desfavoráveis para as farmácias que ele continha, de forma agressiva, desequilibrada, sem diálogo connosco, sem ponderação e sem estudos prévios de qualquer natureza", afirmou.
As críticas dirigiram-se depois para as farmácias nos hospitais.
"Em vez de respeitar o compromisso de instalar farmácias hospitalares, apenas em caso de necessidade e em regime de concessão às farmácias privadas próximas dos hospitais, por serem as mais prejudicadas com a sua abertura, o Governo abriu concursos sem critério e, através da manipulação das suas regras, preferiu confiar as farmácias hospitalares a um grupo económico empresarial sem rosto", acusou João Cordeiro.
O presidente da ANF aproveitou as críticas às farmácias nos hospitais para abordar a questão da "tragédia do Hospital de Santa Maria".
"Quis o destino que na mesma semana em que seis doentes desse hospital correm o risco de perder a visão, o Governo tenha tido a desumanidade de aprovar mais um diploma que apenas serve para favorecer financeiramente o concessionário da farmácia de Santa Maria", disse João Cordeiro, numa referência às novas regras para farmácias nos hospitais públicos, que foram quinta-feira aprovadas em Conselho de Ministros.
João Cordeiro anunciou ainda que vai "preparar dossiers temáticos sobre a política deste Governo na área do medicamento", o qual irá "entregar a todos os partidos políticos".
O presidente da ANF não tem qualquer dúvida que "o Governo está mais preocupado com os interesses financeiros dos concessionários das novas farmácias do Estado do que com a saúde dos doentes nos hospitais".
Quando questionado sobre os interesses que o Governo estará a salvaguardar, João Cordeiro remeteu para um outro encontro com a comunicação social. O de hoje não teve direito a perguntas dos jornalistas.
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