Na perspectiva corrente dos empresários que têm órgãos de comunicação social da mesma forma que poderiam ter salsicharias, não tardará que se crie em Portugal uma central de compras de textos de linha branca de modo a que, mudando apenas o rótulo, todos passem a beber o leite produzido pelas mesmas vacas, embora com nome diferente.
No dia 11 de Maio, o director do Público, José Manuel Fernandes, disse à Lusa que o suplemento de Economia iria ser extinto devido à concorrência dos diários e sites dedicados ao tema e à queda das receitas publicitárias.
Ou seja, transpondo a metodologia para o futebol, um dia destes o Benfica acaba com a equipa de futebol porque a concorrência do Nacional da Madeira ou do Braga a isso vai obrigar. Em vez de procurar fazer mais e melhor, encerra-se.
Em vez de procurar (e isso é bem possível) fazer mais e melhor, depede-se um (ou muitos) bom para com menos dinheiro contratar três maus. A esperança é que os leitores só olhem para o rótulo e não procurem saber que estão a comer gato por lebre.
Quando foi criado, "há 20 anos, não havia sites de economia e os suplementos económicos tinham outra importância", lembrou o director do Público em Maio, adiantando que, hoje, o mercado destas publicações já "quase desapareceu", sendo "o Público o único diário grande com um suplemento de Economia".
E por esta ordem de ideias, quando o Público foi lançado também não havia sites e jornais gratuitos de carácter generalista. Mas como agora há, que tal encerrar pura e simplesmente o jornal?
Com a possibilidade de mais um despedimento colectivo (o governo de José Sócrates e Santos Silva deve estar a esfregar as mãos de contente), o cenário é de facto negro.
O diário da Sonae reforçou, em Janeiro do ano passado, o seu suplemento dedicado aos assuntos económicos, passando a incluir textos do New York Times Syndicate (NYTS), ou seja, trabalhos realizados por profissionais de escolas de gestão e empresas de consultoria a nível mundial.
Além disso, passou também a divulgar análises efectuadas pela Companhia Portuguesa de Rating sobre algumas das principais empresas nacionais.
Um reforço que se juntou a "outras fórmulas" para tentar reavivar a publicação, mas que não tiveram sucesso, como admitiu o director.
"Primeiro mudámos o dia de saída de segunda para sexta-feira, porque percebenmos que à segunda-feira os executivos já tinham muitos jornais em cima da mesa. Depois tentámos perceber se passar a revista era uma solução, mas percebemos que não", disse.
Ao que parece, a Direcção do Público e se calhar da própria Sonae, percebeu tudo muito bem. Só não percebeu, e não é a única, o essencial da questão: o que é o jornalismo.
E não percebeu porque, estou em crer, nenhum dos seus membros alguma vez será visto nas filas dos centros de emprego.
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