A campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais na Guiné-Bissau está, contam os que por lá andam, a ser marcada pelo que há de mais comum: ausência do debate de ideias.
Esta ausência, de acordo com jornalistas ouvidos pela Lusa, pode aumentar a abstenção. Cá para mim, o que faz aumentar a abstenção é todo o estado de não Estado que é o país nesta altura.
"Estas eleições estão a desenrolar-se sem um debate sério. É um processo falido sem um debate eleitoral daquilo que se espera", afirmou Ricardo Semedo, director de antena da Rádio Nacional.
"Há poucas propostas. Não há grandes tentações entre os dois candidatos de se atacarem mutuamente com propostas sobre aquilo que será a Guiné-Bissau", afirmou, sublinhando que não há confronto de ideias.
"Há um candidato que se sente confortável com a vitória, fazendo a leitura dos resultados da primeira volta, e não se dá a grandes esforços para tentar convencer o eleitorado com propostas", referiu.
"Há quem faça esse esforço, porque quer inverter os resultados da primeira volta", acrescentou.
Para Ricardo Semedo, este tipo de campanha pode de alguma forma prejudicar a já elevada taxa de abstenção na primeira volta, que foi de 40 por cento.
"O tipo de campanha e aquilo que os dois candidatos apresentam pode não reduzir a abstenção", afirmou.
"Tenho a sensação de que, apesar de a população estar consciente daquilo que envolve estas eleições, haja um aumento da abstenção", defendeu também o director da rádio Bombomlom, Nelo Regala.
Para Nelo Regala, a abstenção representa igualmente que as "pessoas deixaram de acreditar na classe política".
Em relação à campanha eleitoral, Nelo Regala considerou que a da segunda volta "está mais quente e que a linguagem azedou".
Segundo Nelo Regala, a primeira volta levou a "alguma cautela e moderação" dos candidatos por causa dos assassínios ocorridos em Junho.
Braima Darame, da Rádio Jovem, considerou que a segunda volta está a ter mais participação dos guineenses, mas "falta diálogo político, debate de ideias sobre as coisas importantes para o país".
"Estamos a ver uma vez mais acusações que não interessam aos guineenses", disse.
Sobre a abstenção, Braima Darame considerou que está relacionada "com os recentes acontecimentos".
"É o cartão vermelho que o povo está a mostrar aos nossos dirigentes sobre os assassinatos que assistimos na Guiné-Bissau", considerou.
A rádio é o órgão de comunicação social privilegiado para fazer chegar a informação à população guineense.
A televisão só chega a uma percentagem mínima da população, tal como a imprensa escrita, que apenas é distribuída em Bissau, onde se encontra concentrada a elite guineense.
A segunda volta das eleições presidenciais da Guiné-Bissau realiza-se no próximo dia 26 e vai ser disputada entre Malam Bacai Sanhá e Kumba Ialá.
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