sábado, fevereiro 27, 2010

Em memória do José Saraiva

Foi meu amigo, colega e director. Embora tenha partido há cinco anos, de vez em quando aparece no meio da malta. É o José Saraiva.

Se não for possível deixar às gerações vindouras algum património, ao menos lutemos, nós os que ainda pensam que são Jornalistas, para lhes deixar algo mais do que a expressão exacta da nossa incompetência e cobardia.

O Zé sabia que na profissão de Jornalista a única tarefa humilhante é a que se realiza com mentira, deslealdade, ódio pessoal, ambição mesquinha, inveja e incompetência.

O Zé sabia que um Jornalista nunca (nunca) vende a sua assinatura para textos alheios, tantas vezes paridos em latrinas demasiado aviltantes.

O Zé sabia que se o Jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos problemas é, com certeza, um imbecil. E sabia que se o Jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso.

O Zé sabia que o chefe é o primeiro a chegar e o último a sair, tal como sabia que se o chefe for imposto por decreto os seus colaboradores não passarão de voluntários devidamente amarrados.

O Zé sabia que um chefe não é apenas o que comanda mas, sobretudo, o que dá o exemplo. Também sabia que pensar que se é bom chefe só porque se usa gravata ou porque alguém lhe deu o título, é, mais ou menos, como pensar que se é pintor só porque se conhecem as cores do arco-íris.

O Zé sabia que estamos todos os dias em cima de um tapete rolante que anda para trás e que, por isso, se nos limitarmos a caminhar, ficamos com a sensação de que avançamos mas, de facto, estamos sempre no mesmo sítio.

O Zé sabia que muitos de nós para esconder as meias rotas preferem não tirar os sapatos, tal como sabia que uns perguntam o que não sabem, e só são ignorantes durante o tempo que leva a chegar a resposta, e que outros preferem ficar ignorantes toda a vida.

Zé: Tenho pena que nem todos os que contigo privaram tenham levado em conta o que sabias, mesmo que nem sempre o praticasses. Tenho pena. Mas, como vês, alguns guardaram o que de melhor sabias e que lhes permite contar até 12 sem tirar os sapatos...

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