domingo, fevereiro 14, 2010

Sócrates prefere ser assassinado pelo elogio

O primeiro-minitro português, José Sócrates, prefere ser morto pelo elogio do que salvo pele crítica. Rodeou-se de muita gente menor e, como seria de esperar, está agora a ver que para ter à sua volta quem está sempre de acordo bastaria a sua própria sombra.

Não faltaram avisos mas, mais uma vez, alguns dos seus fiéis supostos amigos vão ser os primeiros a tirar-lhe o tapete.

A questão escaldante da falta de liberdade de imprensa foi a cabal demonstração de que Sócrates tinha, e tem, à sua volta muita gente que lhe estende a mão quando tropeça numa pedra. No entanto, o que ele precisava era de quem tirasse as pedras antes de ele passar.

Está absolutamente demonstrado que só os poderes enfraquecidos perseguem a imprensa e, por outro lado, está igualmente demonstrado que nem por isso se tornam mais robustos e que, ao contrário, acabam quase sempre por se declarar vencidos. Só os poderes enfraquecidos temem a imprensa porque a imprensa não é para temer.

Não. A frase não é da minha autoria nem de um qualquer assessor de imprensa, ou administrador da PT. O autor é João Pinheiro Chagas, um português que nasceu em 1863 e morreu em 1925.

Com este cenário, José Sócrates começou já a ver alguns dos seus mais próximos colaboradores falarem da sua sucessão.

Tivesse Sócrates lido e pensado no que disse, em Janeiro de 2008, à Visão, o ex-secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, e se calhar não estaria agora a ser apunhalado pelas costas por um alguns dos seus supostos amigos.

Ferro Rodrigues disse há dois anos que o Governo português deveria ter “menos arrogância e mais humildade”.

Aliás, como bem sabe Ferro Rodrigues até por experiência própria, basta um pequeno sinal de água para que a maioria dos ratos socialistas abandone imediatamente o navio.

Sobretudo, mas não só, com a sociedade JS&SS Associados (José Sócrates e Santos Silva) o primado da competência foi engavetado, os empregos foram dados a supostos amigos, foi esquecido o princípio de que é preferível ter um adversário inteligente a um amigo estúpido, atolaram a máquina do Estado (onde se incluem muitas empresas) com amigos que para contarem até 12 continuam (mesmo com recurso ao Magalhães) a ter de se descalçar.

Curioso é, ainda, ver como alguns socialistas (e alguns sociais-democratas) continuam a julgar que são uma solução para o problema quando, de facto, são um problema para a solução.

Por alguma razão Ana Gomes, João Cravinho ou Vera Jardim até falam das escutas do processo Face Oculpa, e o próprio António Costa já fala de que o PS tem "boas soluções" no que toca à sucessão a José Sócrates.

Ana Gomes chega ao ponto de escrever que é "o Estado de direito democrático que pode estar em causa", recusando-se a "varrer para debaixo do tapete as questões que tais escutas suscitam".

"Se por qualquer hipótese [José Sócrates] deixar de o ser, o PS tem no Governo e na Assembleia da República boas soluções que asseguram a continuidade institucional do seu mandato," afirmou ao jornal i o actual presidente da Câmara de Lisboa.

Por sua vez, João Cravinho diz que o Governo tem de "provar e convencer os portugueses de que as suspeitas que estão a transformar o País num pântano não têm razão de ser" e o deputado Vera Jardim considera que "é urgente que se faça luz sobre isto” porque “este clima não é sustentável."

1 comentário:

Anónimo disse...

Aqui vai uma boa chamada de atenção, para o que se passa. Uma opinião sempre válida e verdadeira.