Três jornalistas do semanário "Sol" foram constituídos arguidos no âmbito do processo “Face Oculta” e deverão ser ouvidos no no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa (TIC) na próxima terça-feira.
Algo vai mal no reino quando o crime está no mensageiro e não na mensagem. Mas se o importante não é prender criminosos mas, antes, prender quem descobriu (embora, eventualmente, cometendo um outro crime de muito menor gravidade) que iria haver um crime... estamos conversados.
Estamos conversados porque as regras do actual jornalismo oficial são opostas às que muitos aprenderam. Ou seja, aprenderam que se o jornalista não procura saber o que se passa é um imbecil, sendo que quando consegue saber o que se passa mas se cala é um criminoso.
Ora, como ser imbecil não é crime (basta olhar para a maioria dos políticos), o melhor é os jornalistas não passarem daí. Antes imbecil – diz a nova cartilha das ocidentais praias lusitanas – do que não se calar e ser levado à barra do tribunal, ou até mais longe como é vontade dos acusadores.
Segundo avança hoje o jornal "Público", três jornalistas do semanário "Sol" foram constituídos arguidos no âmbito de um inquérito sobre a violação do segredo de justiça.
Violaram o segredo de justiça? Quem? Os jornalistas? Ou, pelo contrário, foi alguém de dentro que abriu a garganta funda? Mas o importante não é, não parece ser, quem violou o segredo de justiça mas, isso sim, quem disse o que se passa.
Em causa está a publicação, pelo "Sol", de várias escutas que fazem parte do processo “Face Oculta”, nomeadamente as certidões que se referem ao alegado plano do Governo e do primeiro-ministro para controlar órgãos de comunicação social considerados "hostis".
O "Público" informa ainda que a procuradoria notificou para comparecerem na próxima terça-feira no TIC os jornalistas Vítor Rainho, Felícia Cabrita e Ana Paula Azevedo, bem como a advogada Fátima Esteves, na qualidade de arguidos.
Contactada pelo jornal, Felícia Cabrita terá confirmado a informação, afirmando "Não é nada que me espante. O procurador-geral da República é muito rápido para determinados processos".
Pois é. A rapidez dos casos suérfluos contrasta com a morosidade dos casos essenciais. É tudo uma questão de prioridades. A primeira das quais se destina a fazer esquecer a mensagem matando o mensageiro.
E de mensageiro em mensageiro lá vão também matando a democracia. Mas isso pouco importa.
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